No fim dos anos 60, a Mercedes precisava contornar dois problemas: desenvolver sucessores para dois carros carismáticos, o sedã/cupê W111 e o roadster W113 “Pagoda”, e preparar-se para a aposentadoria de Rudolf Uhlenhaut, um dos responsáveis por inúmeros sucessos da marca, dentro e fora das pistas.
A solução do primeiro problema resultou num dos últimos trabalhos de Uhlenhaut: iniciado em 1968, o projeto gerou um modelo todo novo, com duas versões de carroceria. Assim, o W113 deu lugar ao R107, tornando-se a terceira geração do roadster SL, e o cupê W111 abriu espaço para o C107, iniciando a linha SLC (Sport Leicht Coupe, “cupê leve esportivo”, em alemão).
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Apresentado no Salão de Paris de 1971, o SLC exibia linhas retas e discretas: o desenho reunia toda a classe e sobriedade típicas da marca. A larga grade horizontal trazia a estrela no centro, ladeada por faróis retangulares e piscas envolventes avançando sobre os para-lamas. As tradicionais lanternas traseiras caneladas marcavam presença e as persianas nas janelas laterais traseiras eram um charme à parte.
Com 36 cm a mais no entre-eixos que o SL, a harmonia e praticidade dos quatro lugares agradaram tanto público como crítica: era o cupê favorito de playboys, profissionais liberais, executivos e até governantes, como o líder soviético Leonid Brezhnev. O jornalista automotivo britânico L.J.K. Setright o definiu como o mais belo Mercedes e um dos automóveis mais bonitos em produção no mundo.
Pesando apenas 60 kg a mais que o irmão conversível, o SLC apresentava bom desempenho: impulsionado pelo V8 M116 de 3,5 litros e 200 cv, podia acelerar seus 1 630 kg a 100 km/h em 9,5 segundos, atingindo 210 km/h. Era praticamente imbatível em sua classe: o piloto alemão Hans Hermann enaltecia sua força e superioridade frente a rivais como BMW 3.0 CSi, Jaguar XJ e Porsche 911.
Desempenho superior viria em 1973, com o 450 SLC. O motor M117 de 4,5 litros alcançava 225 cv, resultando no 0 a 100 km/h de 8,8 segundos e máxima de 215 km/h. O câmbio automático de três marchas era de série nessa versão, que perdia potência ao ir para os EUA (180 cv na Califórnia e 190 cv no resto do país).
Apesar do sucesso, a crise do petróleo de 1973 abalou as vendas dos automóveis de luxo com motor V8: no ano seguinte chegava o 280 SLC, com um 2.8 de seis cilindros em linha de 185 cv. Com duplo comando de válvulas no cabeçote, não fazia feio frente aos irmãos maiores: 0 a 100 km/h em 10,1 segundos e 205 km/h de máxima. Visto de frente, era facilmente identificado pelos pneus mais finos (185HR14).
O modelo que ilustra as fotos é um 450 SLC fabricado em 1977 e pertence às colecionadoras Giorgia, Francesca e Chiara Parente, de São Paulo. Nesse ano, a cilindrada do motor M116 foi ampliada para 5 litros: todo de alumínio, rendia 240 cv. O 350 SLC foi substituído em 1980 pelo 380 SLC, com um V8 de alumínio e transmissão automática de quatro marchas. Versão de entrada, o 280 SLC trazia um câmbio manual de cinco velocidades.
Ao todo, 62 888 unidades do SLC foram produzidas até 1981: os grandes cupês fabricados em Sindelfingen passaram a ser representados pelos enormes 380 SEC e 500 SEC, ambos baseados na plataforma W126 dos Classe S. Rumores davam como certo o retorno do nome SLC em 2013, mas o novo cupê da marca acabou batizado como AMG GT.
MAL DE FAMÍLIA
O SLC repetiu o êxito do W113 nas corridas: estreou no rali Vuelta America del Sud de 1978 em primeiro, segundo e quarto lugar. A preparação ficou a cargo de Hans Werner Aufrecht e Erhard Melcher, ambos fundadores (e as iniciais) da AMG.
Motor | V8 de 4,5 litros |
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Potência | 225 cv a 5 000 rpm |
Torque | 37,7 mkgf a 3 000 rpm |
Câmbio | automático de 3 marchas |
Carroceria | fechada, 2 portas, 4 lugares |
Dimensões | comprimento, 474 cm; largura, 179 cm; altura, 133 cm; entre-eixos, 282 cm |
Peso | 1 690 kg |
0 a 100 km/h | 8,8 segundos |
Velocidade máxima | 215 km/h |