Jeremy Clarkson: sinal dos tempos para o Mercedes C 63
Não acho o Mercedes-AMG C 63 bonito. E já foi a época em que os AMG tinham enormes e carismáticos motores V8. Seu urro acabou: agora ele é só barulhento
Se você tem um BMW Série 3, um Mercedes Classe C ou um Audi A4, está dirigindo o carro errado. Porque você deveria ter é um Jaguar XE. Ele pode parecer um sedã de quatro portas como os outros, mas na verdade, se der alguns passos atrás e olhar com calma por alguns momentos, você perceberá que ele é muito bonito. A carroceria parece ter sido esticada sobre as rodas, o que passa uma impressão musculosa, de que mal contém seus órgãos internos.
E isso é só o começo. Eu estava com um modelo V6 e… caramba! Que motor! Ele não apresenta números muito arrebatadores de potência ou torque. Ele entrega o que você espera. Nada mais, nada menos. Mas o ronco que faz quando você acelera é sublime. Desde o Alfa Romeo GTV6 eu não ouvia um som tão suave e doce. E ele parece vir do motor em si, não de algum truque eletrônico no sistema de escape.
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E tem mais. Embora ele venha com pneus de perfil superbaixo, que parecem uma fina camada de tinta sobre as rodas e têm quase tanta flexibilidade quanto um tronco de carvalho, o carro não é nem um pouco duro. A vida fica um pouco agitada se você colocá-lo no modo Dynamic, por isso nem me dei ao trabalho. Deixei em Normal e me aconcheguei em um banco perfeitamente fabricado para conduzir o sedã do jeito que um Jaguar deve ser.
Se tivesse de achar algo para criticar, diria que o painel é um pouco sem graça. Todos os botões são pequenos e amontoados em um canto, deixando vastas faixas de plástico. Eu vi tampos de mesa mais interessantes. E o desenho dos mostradores tem um quê de Lada safra 1974. Mas isso não é suficiente para você deixar de comprar esse carro.
A única razão para optar por outro sedã é que você não quer um motor sob o capô. Você quer um monstro uivante que solta fogo pelas ventas. A Jaguar oferecerá algo assim no futuro, mas não por enquanto. Isso quer dizer que se você quiser um sedã médio anabolizado nos dias de hoje, a escolha fica entre o BMW M3 e o veículo que ilustra este artigo, o Mercedes-AMG C 63.
Eu não acho o C 63 um carro bonito. A traseira parece ter sofrido um derretimento e há muitos detalhes de estilo chamativos. Ele parece ter invadido uma loja de decoração de Abu Dhabi e saído com um monte de coisas presas à carroceria.
Já por dentro, a coisa é melhor. Ele passa uma sensação de ser especial. E muito bem montado. E interessante. Quando estava com o Jaguar, removi acidentalmente o cartão de dados do GPS e, quando recoloquei, recebi na tela uma mensagem dizendo que eu tinha de desligar o carro e religá-lo, para reinicializar o sistema. Você sabe que isso não aconteceria num Mercedes. E, se acontecesse, o responsável por isso seria enviado para o deserto com uma pá e um revólver.
E, é claro, tem o motor. Já se foram os tempos em que os AMG tinham enormes e carismáticos motores V8 de 6,2 litros. Por causa das leis de emissões, agora você tem de se contentar com 4 litros. É claro que o par de turbocompressores faz com que você tenha mais potência do que antes, mas o urro se foi. E a crepitação. Agora ele é só barulhento.
Eu também estava extremamente desconfortável. Uma das coisas que costumava gostar nos AMG é que nenhuma concessão era feita para unir dirigibilidade com tempos de volta em Nürburgring. Eles eram rápidos em linha reta, mas escorregavam nas curvas. Pois eles eram feitos para diversão e conforto.
Até que alguém na Mercedes decidiu que os AMG devem permitir fazer curvas de pé embaixo, o que significa que a suspensão foi enrijecida e que você pode contornar curvas com maior velocidade, mas também quer dizer que elas se tornaram mais assustadoras e cheias de solavancos. Muitos solavancos. Eu sei que meu carro estava usando as rodas aro 19 opcionais, que pioraram as coisas, mas a suspensão era realmente muito dura.
O ponto positivo é que o carro entrega o serviço completo. A aceleração em rotações médias é hipnotizante, e ele realmente gruda nas curvas. Você poderia imaginar, então, já que a empresa decidiu mudar para valer o caráter da AMG de um tipo de muscle car europeu para um velocista de estrada bem equilibrado, ela deveria tê-lo equipado com um câmbio de dupla embreagem, com borboletas no volante. Estranhamente, isso não aconteceu. Você ainda tem um câmbio automático que, mais estranhamente ainda, é operado por uma alavanca na coluna de direção, estilo Cadillac.
Os leitores habituais desta coluna sabem que há muitos anos sou fã dos AMG. Já tive três. Mas o caso de amor está minguando. Eles estão se tornando muito cafonas. E hoje eles não têm certeza do que deveriam ser, neste caso, cruzadores prazerosos, em vez de lanchas torpedeiras rápidas e ágeis. Porque, se você quiser uma lancha torpedeira rápida e ágil, é melhor ficar com o BMW M3. Como máquina de dirigir, ele derruba o Mercedes facilmente. E é mais bonito. E mais amigável no dia a dia. Mas o M3 também está longe de ser perfeito. A direção é estranha e parece pesada. Se fosse escrever um trabalho escolar sobre o M3, eu diria: “A BMW pode fazer melhor”.
Sinceramente, se estivesse procurando por um sedã médio rápido, esperaria seis meses até lançarem o novo Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio, que terá 503 cv, tração traseira e é um Alfa. Mas você provavelmente não vai querer esperar tanto por um carro que meio que você sabe que não vai realmente corresponder à sua promessa no papel. Como sempre ocorreu com os Alfa.
O que nos traz de volta ao início. Porque o Jaguar V6 não é exatamente lerdo. Ele chega a 250 km/h, crava os 100 antes que se tenha a chance de olhar o velocímetro e faz curvas que é uma beleza. E é mais barato do que os rivais alemães, tem custo de manutenção menor e é mais bonito. Então, mesmo que eu vá esperar pelo Alfa, porque sou cabeça-dura, você deveria ficar com o Jaguar. Porque, se for a cabeça que você estiver usando, ele é a escolha óbvia.
Jeremy Clarkson – É jornalista, ex-apresentador do programa Top Gear e celebridade amada pelos fãs e odiada por algumas marcas.