Foram mais de 20 anos de mercado. A Belina era, até então, a única perua da Ford no Brasil, considerando as duas gerações, de 1970 a 1991.
Como a marca fazia parte da Autolatina, uma joint venture com a Volkswagen, coube a esta ceder a base, a da Quantum, lançada em 1985. Com frente e traseira diferenciadas e duas portas a menos, a Versailles Royale chegou em 1992, um ano depois do sedã Versailles, a versão Ford do VW Santana.
Se a qualidade mais apreciada na Quantum, as cinco portas, era abdicada para reforçar uma diferenciação entre as duas peruas da Autolatina, a Royale compensava com preço 5% menor.
É verdade que a Belina sempre teve duas portas (o que justificava em parte a configuração da Royale), mas custava 40% menos que a Quantum.
Com os mesmos 695 litros de porta-malas da Quantum, a nova perua Ford vinha nas versões GL (1.8 ou 2.0) e Ghia 2.0. Foi esta que QUATRO RODAS avaliou em abril de 1992.
As duas portas a menos eram descritas como uma incoerência. “Do ponto de vista de desempenho, a Royale nada deve à Quantum”, dizia o texto. As trocas de marcha eram destaque, assim como as frenagens, graças ao ABS, opcional.
“A sensação de equilíbrio nas curvas mais velozes resulta da combinação entre uma suspensão bem arquitetada com amortecedores pressurizados e a direção hidráulica progressiva.”
As queixas iam para a disposição dos comandos e falta de instrumentos como voltímetro e manômetro, além da ausência de computador de bordo, check control e regulagem de altura do volante.
Para 1993, a Ford preparou injeção eletrônica opcional para a GL 2.0. Os motores a gasolina ganhavam carburador eletrônico. Um ano depois viriam o teto solar e o CD player opcionais para a Ghia. A GL trazia ajuste lombar no banco e, como opcionais, regulagem de direção e rodas de liga.
A GL 1.8 passou a oferecer opção de ar-condicionado e direção hidráulica. No motor, a novidade era a injeção monoponto na GL 1.8 e multiponto na GL e Ghia 2.0, gasolina ou álcool. Mas o carburador eletrônico ainda era de série.
É de 1994 a Royale GL 2.0 do paulista João de Jesus Cuppi, exibida nas fotos. “A mecânica VW e o acabamento Ford formam um conjunto superior”, diz ele.
A linha 1995 trazia grade ovalada, lanternas de desenho mais simples, painel revisado e novo volante. A versão Ghia oferecia bancos de couro. Porém o melhor foi a carroceria de quatro portas, que tirou a de duas do mercado. O carburador também deu adeus.
Com a importação do Mondeo, que custava menos que um Versailles Ghia completo e tinha uma moderna versão perua, a Royale começou a perder seu propósito dentro da marca. A concorrência também se acirrava.
A Ford reduziu o preço em 15%, mas o fim da Autolatina sepultou sua produção na fábrica da VW em São Bernardo do Campo (SP). A partir dali, a herança da Belina ficaria apenas na memória.
Ficha técnica – Royale 2.0 GL 1992
Motor: dianteiro, 4 cilindros, longitudinal, 1984 cm³, 2 válvulas por cilindro, carburador de corpo duplo
Diâmetro x curso: 82,5 x 92,8 mm
Taxa de compressão: 9,0:1
Potência: 105 cv a 5.200 rpm
Torque: 17,0 mkgf a 3.400 rpm
Câmbio: manual de 5 marchas, tração dianteira
Dimensões: comprimento, 461 cm; largura, 170 cm; altura, 144 cm; entre-eixos, 255 cm Peso: 1.160 kg
Suspensão: independente, McPherson, na dianteira; eixo de torção na traseira
Freios: disco ventilado na dianteira e tambor na traseira
Rodas e pneus: aço, 6×14; 195/65 HR14
Teste QUATRO RODAS – junho de 1992
Aceleração de 0 a 100 km/h: 12,58 s
Velocidade máxima: 168,9 km/h
Frenagem 80 km/h a 0: 30,3 m
Consumo: 9,24 km/l (cidade), 12,51 km/l (estrada, a 100 km/h, vazio)
Preço (maio de 1992): Cr$ 65.360.756
Preço (atualizado IPC-SP/FIPE): R$ 140.191