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Volkswagen Kombi Last Edition: o último teste da ‘velha senhora’

Avaliamos a série especial que marca o fim de 56 anos de produção da Velha Senhora

Por Ulisses Cavalcante
Atualizado em 21 nov 2022, 19h32 - Publicado em 2 set 2021, 20h11

VW Kombi Last Edition
Publicado originalmente em dezembro de 2013

Enquanto você lê esta reportagem, funcionários da Volkswagen se preparam para desativar a linha de montagem da Kombi. Dezembro de 2013 será seu último mês de produção, encerrando um dos ciclos produtivos mais longos da indústria no mundo: 56 anos ininterruptos sem grandes alterações no projeto.

O Brasil é o único país que ainda fabrica o modelo e, se não fosse pela impossibilidade de se adequar à obrigatoriedade de airbag e ABS, esse cenário não mudaria.

A Kombi é líder dos comerciais leves desde 1957, quando começou a produção (mas já era vendida em 1953, montada por CKD). Você pode dizer que já passou da hora de ser enterrada ou que é um absurdo um carro tão ultrapassado ainda ser fabricado. O argumento é válido, mas não conta a história toda.

VW Kombi Last Edition

Seu sucesso está num projeto que leva 1 tonelada ou nove pessoas ocupando o espaço de um sedã médio, com robustez mecânica, tração traseira (ideal para cargas) e manutenção barata. Há alternativas na concorrência, dotadas de itens de segurança que a Kombi jamais teve. Nenhuma delas, contudo, tirou a liderança da Velha Senhora, que conserva a mesma cara desde 1997, a última grande reforma, quando ganhou teto 11 cm mais alto, porta corrediça atrás e perdeu a divisória entre os bancos dianteiros e o salão.

Volkswagen Kombi Last Edition
A clássica van segue bem entre os usados (Marco de Bari/Quatro Rodas)
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Para marcar a despedida da Kombi, a Volks criou a série Last Edition, por um preço salgadíssimo. O marketing entrou em ação para fazer seu “deslançamento”, como diz sua propaganda, e atiçar o desejo de colecionadores.

Volkswagen Kombi Last Edition
Série especial tem forração diferente, em dois tons. De resto, é a mesma Kombi desde 1997 (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Deu certo: ela foi anunciada por 85.000 reais e, antes de as vendas começarem, a Volks percebeu que a oferta inicial de 600 unidades estava subdimensionada. A cota foi dobrada. Ao todo, 1.200 foram montadas, com direito a plaqueta numerada acima do rádio (sim, vem de série) e certificado de autenticidade junto com o manual.

(Por muito tempo, algumas centenas de unidades ficaram encalhadas nas concessionárias.)

Volkswagen Kombi Last Edition
Painel digital é novidade, tem só sete anos na praça (Marco de Bari/Quatro Rodas)
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Encontramos um colecionador que adquiriu a série especial e que topou nos emprestá-la para um teste. O último encontro da Kombi com a QUATRO RODAS fora em janeiro de 2006, na ocasião da troca de motores, por força da nova lei de emissões, quando o motor a ar deu lugar ao de refrigeração líquida.

Volkswagen Kombi Last Edition
Plaqueta numerada autentica a versão (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Na pista, aceleramos o 1.4 flex de 80 cv que substituiu o velho 1.6 boxer a ar, de 67 cv. No 0 a 100 km/h, registrou 20,2 segundos com etanol. Se é muito comparado a um Fiat Mille (que faz 14,1), é pouco em relação à primeira Kombi, que em 1963 levou 27,8 segundos para ir de 0 a 80 km/h! – a máxima daquele 1.2 de 36 cv era de 93 km/h. O consumo também está longe de ser referência: 7,8 km/l na estrada e 6,5 na cidade – o Mille dá uma surra, com 12,6 e 9,3 km/l.

Volkswagen Kombi Last Edition
Botões anacrônicos duraram até o fim (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Com o atual 1.4, a perua ganhou rapidez na cidade, força para encarar subidas e ultrapassagens e o benefício de não fazer tanto barulho. Sem forração acústica, o upgrade sempre causou estranhamento para alguém como eu, que já foi dono de uma Kombi 2001, tamanha era a associação entre a velha perua e o excesso de vibrações.

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Volkswagen Kombi Last Edition
Acabamento interno faz alusão às versões de luxo de décadas passadas (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Na cidade, ela surpreende pela agilidade em baixa rotação. Mesmo sem direção hidráulica, o volante não é pesado, mas sua posição foge do padrão, já que ele é grande e quase horizontal. Aliás, mesmo zero-quilômetro, a van vem de fábrica com folga na direção, o que força o motorista a se manter abaixo dos 100 km/h, se quiser preservar alguma sensação de segurança.

Volkswagen Kombi Last Edition
Nos anos 70 havia cortinas como estas (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Nas curvas, a suspensão revela um ajuste equilibrado. O mesmo vale para os freios, embora ter de apertar o pedal para baixo, contra o chão (e não para a frente), seja bem esquisito. A posição do banco, em cima do eixo, também requer costume, sobretudo quando se passa por lombadas, pois a energia das molas faz o condutor saltar do assento, dependendo da velocidade.

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Volkswagen Kombi Last Edition
Trinco da porta é o mesmo há 30 anos (Marco de Bari/Quatro Rodas)

E como o motorista quase viaja à frente do eixo, ele precisa girar o volante um pouco depois do que num carro comum para fazer curva, como num ônibus. O tamanho do veículo, porém, reduz o desafio, já que seus 4,5 metros equivalem ao de um Honda Civic. Visibilidade é outro trunfo, pois o formato retangular permite o uso de vidros grandes e retos, reduzindo a quantidade de pontos cegos.

Volkswagen Kombi Last Edition
Maçaneta do salão remete às origens (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Mas, se a mecânica não mudou, o mesmo não pode ser dito do visual. A série limitada conta com uma jogada de mestre por parte da Volks, que foi convencer entusiastas a pagar quase o dobro de uma versão comum. Para isso, a VW incluiu elementos que fazem remissão ao passado.

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Volkswagen Kombi Last Edition
Não houve alterações mecânicas no motor 1.4 flex,… (Marco de Bari/Quatro Rodas)

A carroceria ganhou pintura saia-e-blusa azul e branco. Grade superior e aros dos faróis receberam o mesmo tom. As rodas de aço trocaram o prateado pelo branco e os pneus têm faixa branca para completar o ar nostálgico. Por dentro, bancos e forração da porta foram encapados com vinil branco e azul Atlanta. Cortinas nas janelas laterais relembram uma época de maior requinte, com destaque para as presilhas que trazem a inscrição Kombi.

Volkswagen Kombi Last Edition
… que tem duas tampas de acesso (Marco de Bari/Quatro Rodas)

No chão, os tapetes de borracha cederam lugar a peças acarpetadas e mais bem-acabadas. São detalhes que não justificam o aumento de preço do ponto de vista do custo, mas fazem sentido para um público que vê esta Kombi como símbolo de uma era. Uma era que chega ao fim depois de 56 anos de robustez e bons serviços prestados ao país.

Volkswagen Kombi Last Edition
Presilhas têm a inscrição Kombi (Marco de Bari/Quatro Rodas)

DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO – A suspensão agrada. Não dá para dizer o mesmo da direção imprecisa, que vem de fábrica com folga. Pressionar o pedal contra o chão é, no mínimo, curioso.

MOTOR E CÂMBIO – O 1.4 flex garante boas respostas ao acelerador, apesar de fazer dupla com o câmbio de quatro marchas do 1.6 a ar aposentado em 2005.

CARROCERIA – Poucos veículos têm um formato tão racional e consagrado a ponto de tornar-se cult. A grade frontal e o teto elevado destoam um pouco. Para trabalhar, as vans modernas, com acesso traseiro para carga, são mais práticas.

VIDA A BORDO – O acabamento diferente não acrescenta conforto ao interior, apenas torna o visual mais exclusivo.

SEGURANÇA – Nunca foi prioridade. Freio a disco e cintos de três pontos para motorista e passageiro é o máximo que se tem.

SEU BOLSO – Quem comprou a Last Edition não olhou para o preço. Pode até ser que valorize com o tempo, mas não espere vender para gente “comum”. É item de colecionador.

VEREDICTO – A Kombi sempre foi uma referência de custo-benefício e até hoje não há rival com a mesma capacidade de carga pelo mesmo preço e baixo custo de uso. Não é o caso da Last Edition, cujo público-alvo são colecionadores ou gente que procura um investimento.

 

 

FICHA TÉCNICA – Kombi Last Edition

Motor traseiro, longit., 4 cil., 8V
Cilindrada 1 390 cm³
Diâmetro x curso 76,5 x 75,6 mm
Taxa de compressão 11:1
Potência 80 / 78 cv a 4 800 rpm
Torque 12,7 / 12,5 mkgf a 3 500 rpm
Câmbio manual / 4 marchas / tração traseira
Dimensões Compr. /entre-eixos (cm) 450,5 / 240; Altura/largura (cm) 192 / 204
Peso 1 259 kg
Peso/potência 15,7 / 16,1 kg/cv
Peso/torque 99,13 / 100,72 kg/mkgf
Porta-malas/caçamba 4 806 litros
Tanque 45 litros
Suspensão dianteira braços duplos longitudinais
Suspensão traseira braços transversais
Freios disco sólido (diant.) / tambor (tras.)
Direção mecânica / 3,6 voltas
Pneus 185R 14
Consumo urbano 6,5 km/l
Consumo rodoviário 7,8 km/l
0 a 100 km/h 20,2 segundos
0 a 1000 m 40,7 segundos
Retomada 40 a 80 em 3ª (ou D) 11 segundos
Retomada 60 a 100 em 4ª (ou D) 26,3 segundos
Velocidade máxima 130 km/h
Frenagem 120/80/60 km/h a 0 (m); n/d / 48,2 / 27,1
Ruído interno 1ª rpm máx 52,8 / 76,6 dBA
Ruído interno 80 / 120 km/h 74,3 / 80,8 dBA

 

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