Desde que a Troller foi adquirida pela Ford, em 2007, o jipe cearense só havia passado por leves modificações. Nos dois primeiros anos de posse, a marca do oval se apressou em tirar do modelo off-road os resquícios da concorrência, como o painel oriundo do VW Gol. E focou os esforços na reestruturação da linha de montagem. A ideia era modernizar o veículo e aprimorar seus processos produtivos. Em 2009, a empresa mostrou as primeiras melhorias no jipe. O design mudou pouco, mas houve um avanço no padrão de acabamento e na mecânica. O interior e a eletrônica passaram a dividir componentes com os modelos da Ford, como o EcoS- port. Desde então, o utilitário praticamente parou no tempo. Mas agora a espera acabou. Trolleiros, comemorem: o novo T4 está pronto.
O novo Troller T4 foi revisto por inteiro. Mas, se você está com uma sensação de déjà vu, não é à toa. O design é quase igual ao do conceito TR-X, exibido no Salão do Automóvel de 2012, em São Paulo. As diferenças estão nos detalhes das peças de acabamento, espelhos e para-choques. Por dentro, o jipe evoluiu em tecnologia, conforto, ergonomia e até no espaço. Mas boa parte das melhorias não se vê nas fotos. A principal diz respeito à forma como o T4 é construído. A carroceria continua em fibra de vidro, mas o processo deixou de ser artesanal. Agora o material é moldado a quente por prensas industriais. Segundo a Ford, o processo permite que a carroceria tenha maior precisão nos encaixes e vãos menores entre as peças, além de um peso menor. Outra vantagem é a possibilidade de aumentar a produção, já que, antes da manufatura, as fases de aplicação de resina e de cura da fibra eram o gargalo da fábrica de Horizonte (CE).
A outra melhoria que as imagens não mostram está na dirigibilidade. A direção ganhou precisão e o entre-eixos cresceu (241 para 258,5 mm). Isso tornou o T4 estável em altas velocidades e mais previsível nas curvas. Para o off-road, o novo chassi com perfil retangular fechado é menos rígido que o atual, moldando-se melhor ao terreno. A medida garante que as rodas permaneçam mais tempo em contato com o solo – o que favorece a tração.
Sob o capô, sai o motor 3.2 MWM de 165 cv, entra o 3.2 Duratorq, conectado a um câmbio manual de seis marchas. É o mesmo conjunto da picape Ranger. Movido a diesel, conta com turbina de geometria variável, 200 cv e 47,9 mkgf entre 1 700 e 2 500 rpm. Até o modelo 2014, o torque era de 38,8 mkgf entre 1 600 e 2 200 rpm. Com isso, o rendimento melhorou, mas não muito. No nosso teste ele foi de 0 a 100 km/h em 13,4 segundos e consumiu 8,9 km/l na cidade e 11,8 na estrada. A geração anterior fez 14 segundos, 8,6 km/l e 11,7 km/l, respectivamente.
O sistema de tração é acionado por um seletor eletrônico, com funções 4×2, 4×4 High e 4×4 Low. A tração nas quatro rodas pode ser acionada a até 120 km/h, enquanto a reduzida exige que o carro esteja parado. Outra prova do aumento de torque está na multiplicação de força da marcha reduzida, que subiu de 2,48 para 2,72:1. A velocidade máxima declarada também aumentou, de 155 para 165 km/h. As novas medidas reforçaram sua habilidade off-road. O ângulo de ataque aumentou em 1 grau (51º) número para o ângulo de saída – que melhorou em 14 graus.
No entanto, a capacidade de passar por áreas alagadas continua em 80 cm. Se você frequenta trilhas difíceis, não ficará feliz com os pneus. Agora o T4 vem de fábrica com pneus 70/30, ou seja, voltados para o asfalto. Os trolleiros já tinham o hábito de trocá-los por modelos de uso misto, que eram 50/50. Então é praticamente certo que você terá de gastar mais ao comprar um T4. Os lameiros All Terrain e Mud Terrain foram homologados e estão disponíveis nos concessionários, mas vendidos como opcionais.
Uma das intenções da Ford era aumentar a base de clientes. Em outras palavras, convencer gente que não faz off-road extremo a levar um para casa. Por isso, o aumento nos itens de comodidade e conforto foi priorizado. O modelo passou a contar com ar-condicionado digital de duas zonas, coluna de direção com ajuste de altura, computador de bordo com medidor de consumo, som com Bluetooth e USB e cinco saídas de ar. Não há carpete de tecido, apenas um tapete de borracha rígida. O interior é lavável, mas o escoamento de água não é mais feito por dreno. A Ford preferiu trocar a abertura no assoalho por portas com soleira plana.
Quem viaja trás também ganhou uma folga, por conta do aumento do entre-eixos. Mas a grande vantagem no banco de trás é não ter que dividir espaço com a estrutura do santantônio. Agora a gaiola de metal fica totalmente camuflada pela carroceria. No porta-malas, o espaço é quase simbólico, com 134 litros, 40 a mais que o anterior. Os preços do novo T4 não foram divulgados, mas deverão ficar entre R$ 110 000 e R$ 115 000, mais que os atuais R$ 96 844. Esse valor não inclui airbags, equipamentos indisponíveis para o modelo – já que a legislação isenta os off-road dessa obrigação. E a Ford optou por ignorar o item de segurança.
OS RIVAIS Jeep Wrangler
O rival americano é um ícone em seu país. Por aqui, o preço é salgado. custa R$ 151 900.
VEREDICTO
O Troller é uma espécie de ícone nacional do off-road. Faz tempo que os fãs aguardavam uma reformulação profunda e a Ford não decepcionou. ele parece estar mais “civilizado”, mas a capacidade de enfrentar terrenos difíceis aumentou.