Toyota Corolla mostra ao BYD King que desempenho não é tudo em um sedã
Monarquias estão fora de moda como os sedãs, mas Toyota Corolla e BYD King têm boas armas para defender seus reinados entre os híbridos
- É quase uma regra, um rito de iniciação. Todos os sedãs médios precisam ser comparados com o Toyota Corolla, a referência do segmento há décadas. Com o BYD King, que já chegou chamando o Corolla Hybrid para a briga e se autoproclama rei, não poderia ser diferente.
Mas não pense que este é um soberano sem trono. Tudo bem que o Toyota Corolla ainda é o sedã mais vendido do mundo, com cerca de 803.000 unidades comercializadas em 2023 em todos os cantos do planeta. O BYD King (com o nome Qin Plus e visual mais oriental) foi o sedã mais vendido da China em 2023, com 434.000 unidades comercializadas só lá e mais 40.000 no resto do mundo. São dois inventários de respeito.
Cada líder tem seus súditos. Mas o que está em jogo aqui é o título de melhor sedã híbrido do Brasil, ainda que, tecnicamente, eles sejam muito diferentes.
O Corolla Hybrid nunca teve seu trono ameaçado, mas só responde por pouco mais de 10% das 3.800 unidades que costuma vender mensalmente. O Corolla Altis Hybrid (R$ 187.790) é um híbrido pleno (o primeiro flex, por sinal), que não precisa ser recarregado. O motor 1.8 de ciclo Atkinson e 101 cv é auxiliado por um motor elétrico de 72 cv e um gerador, ambos integrados ao câmbio CVT e vinculados à pequena bateria com 1,3 kWh, cuja autonomia elétrica mal supera 1 km e é recarregada durante as frenagens.
O BYD King é um híbrido plug-in, com bateria que nesta versão GS (R$ 187.800) tem capacidade de 18,3 kWh – 14 vezes mais energia que a do Corolla. Por isso, pode rodar até 80 km sem depender do tanque de gasolina. Mas depende de recarga externa, feita a no máximo 6,6 kW – a recarga leva menos de 3 horas a plena potência. Ainda consegue bom desempenho usando apenas o motor elétrico, que nesta versão tem 194 cv.
O motor 1.5 a gasolina funciona em ciclo Atkinson, mas fica em segundo plano. Com seus 110 cv e 13,8 kgfm, pode atuar como um gerador ou para trabalhar junto com o elétrico e somar 235 cv, quase o dobro dos 122 cv totais do Corolla híbrido.
Se no Toyota Corolla o motor dá suporte ao motor a combustão. No BYD King é o motor elétrico que é auxiliado pelo motor a gasolina, o que só é possível graças à bateria maior.
Por isso, também, o desempenho do Corolla varia pouco em função da carga da bateria, porque qualquer trânsito permite manter a bateria acima da metade de sua pouca capacidade. Mas o barulho do motor sempre se faz presente na cabine.
No King, mesmo o modo híbrido consome bem a bateria se uma proteção da carga não está ativa. Mas o gerenciamento evita que fique abaixo dos 25%, como uma forma de preservar a eficiência e o desempenho. Se o carro ainda for muito exigido, com acelerações fortes, e chegar aos 13%, já era: o BYD ficará refém do motor 1.5 de 110 cv e o peso de 1.620 kg deixará seu desempenho modorrento. O jeito é recarregar ou dosar o pé, para que o próprio motor a gasolina (em rotação mais alta) recupere a carga.
Fazendo jus à potência total, o BYD King acelera de 0 a 100 km/h em 7,6 segundos. É rápido, porém 1 s mais lento que um Jetta GLi com 231 cv (contra 235 cv). Tem a ver com o peso total. A mágica está em conseguir isso ao mesmo tempo que o consumo urbano de gasolina é de 17 km/l e o rodoviário é de 16,7 km/l – o Jetta, de R$ 245.390 (contra R$ 187.800 na versão GS), faz 10,8 km/l e 11,3 km/l, respectivamente.
A comparação de desempenho com o Corolla é até injusta: este precisa de 13,3 s para chegar aos 100 km/h. Mas se vira muito bem com a bateria menor, pois consegue 18,1 km/l, na cidade, e 15,7 km/l, na estrada. O peso de 1.445 kg colabora. É mais econômico na cidade? Depende, porque quem tem como recarregar o King em casa poderá ativar o modo elétrico e rodar até 80 km só gastando eletricidade.
Para usar apenas em modo híbrido, a versão de entrada GL (R$ 175.800), com 209 cv, pode ser mais interessante. O motor elétrico tem 179 cv (15 cv a menos) e a bateria menor, de 8,3 kWh, faz a autonomia elétrica cair a 32 km, mas é mais leve e, por isso, o consumo de gasolina tende a ser melhor. Também perde ajuste elétrico para o carona, ar bizona, o som tem dois alto-falantes a menos, leds diurnos integrados aos faróis e iluminação ambiente no painel.
Não é o desempenho, porém, o que define um bom sedã médio. O público deste segmento prioriza outras características, como o conforto que o carro proporciona, por exemplo. Nesse aspecto, o Corolla ainda é a referência.
Esta geração do Toyota apresenta um rodar bastante refinado e confortável. Mérito das suspensões independentes, que absorvem até as menores imperfeições do asfalto (alta frequência), mas não comprometem a dinâmica. Pelo contrário: a despeito do comportamento mais pacato, é um carro bem assentado, ótimo de curvas e sua direção tem respostas rápidas. Muita gente compra SUVs buscando uma posição de dirigir mais alta, mas dirigir em posição mais baixa em um carro assim ainda tem seu valor. Especialmente quando os bancos são amplos e abraçam o motorista.
O Corolla é ótimo para o motorista, mas adultos não dirão o mesmo do banco traseiro. O espaço para as pernas não sobra e até falta espaço para a cabeça de um adulto com 1,82 m.
No King, acontece o contrário: quem senta no banco de trás tem mais conforto para cabeça e pernas, mas estranhará o espaço menor para encaixar os pés sob o banco da frente. E o motorista assume uma posição de dirigir mais alta, talvez em razão do espaço sob o assoalho ocupado pela bateria. Seus bancos dianteiros são mais estreitos e curtos, e ficam posicionados mais rentes às portas do carro. Quem leva a melhor é o console central, mais largo, funcional e com comandos no lugar certo. Mas é um arranjo estranho, pois a largura da cabine é maior que a do Corolla e daria para ter bancos mais largos e confortáveis.
Surpreende o King parecer tão leve ao volante. O peso da direção (que esterça bastante) contribui para isso e a suspensão, de certa forma, também. A BYD reforçou a carga dos amortecedores e deixou as molas voltadas para o conforto. Assim, o sedã tem um rodar suave no asfalto bom, mas não lida tão bem com imperfeições. É como se estivesse com amortecedores esportivos, então o King não é tão confortável quanto o Corolla.
A tela para o quadro de instrumentos do King é pequena, tem 7 polegadas, mas tão funcional que comanda até velocidade e temperatura do ar-condicionado. Isso é bem-vindo, porque a tela do multimídia, com 12,8 polegadas, fica toda ocupada quando com Android Auto ou Apple CarPlay ativados e complica a operação de outras funções.
O Toyota vai por outro caminho: tem uma bonita tela de 12,3 polegadas para o quadro de instrumentos e uma central de 10,5 polegadas que estreou em 2023, mas com aspecto mais antigo. Ao menos é funcional e preserva os botões físicos.
O Corolla tem freio de mão mecânico e no King é eletrônico com auto-hold. Isso é mero detalhe ao colocar na balança que o Toyota Corolla Altis Hybrid traz um pacote completo de auxílio ao motorista, com assistente de permanência em faixa, alerta de colisão, frenagem de emergência e piloto automático adaptativo pelo mesmo preço do King GS, que não tem nada disso – o que é uma grande falta, porque esses recursos estão em todos os sedãs médios e em compactos como Honda City e VW Virtus.
O Corolla Altis Premium, que é a versão que mais vende, ainda soma farol alto automático, monitor de pontos cegos e reconhecimento de tráfego cruzado, junto com o teto solar (que o King não tem) e o banco elétrico do motorista, mas custa R$ 198.890.
É natural que uma parte dos consumidores priorize o desempenho e o espaço do King, sem se importar com a bateria. Para quem pode recarregar em casa é perfeito. Mas, ao mesmo preço, ainda falta ao BYD King alcançar a segurança e a qualidade do rodar típicas de sedã médio, características apreciadas pelo público do segmento, e que dão a vitória ao Toyota Corolla neste comparativo. Mas o King conquistará muitos súditos vindos de sedãs compactos.
Veredicto Quatro Rodas
O tradicional cliente de sedãs médios pode estranhar a falta de refinamento do BYD King, além do nível de equipamentos. Apesar da autonomia elétrica, precisaria ser mais barato para vencer o Corolla.
Teste comparativo Quatro Rodas
Aceleração | Toyota Corolla | BYD King |
0 a 100 km/h | 13,3 s | 7,6 s |
0 a 1.000 m | 34,4 s – 156,1 km/h | 28,5 – 183,5 km/h |
Velocidade máxima* | 185 km/h | 185 km/h |
Retomadas | ||
D 40 a 80 km/h | 6,9 s | 3,6 s |
D 60 a 100 km/h | 8,8 s | 4,5 s |
D 80 a 120 km/h | 11,2 s | 5,3 s |
Frenagens | ||
60/80/120 km/h a 0 | 14,2/25,6/59,5 m | 16,3/28,8/67 m |
Consumo | ||
Urbano | 18,1 km/l | 17 km/l |
Rodoviário | 15,7 km/l | 16,7 km/l |
Ruído interno | ||
Neutro/RPM máx. | 35,5/– dBA | 43,3/– dBA |
80/120 km/h | 57,2/61,2 dBA | 51/56,4 dBA |
Aferição | ||
Velocidade real a 100 km/h | 98 km/h | 98 km/h |
Rotação do motor a 100 km/h em D | – | – |
Volante | 2,5 voltas | 2,7 voltas |
SEU Bolso | ||
Preço básico | R$187.790 | R$187.800 |
Concessionárias | 216 | 92 |
Garantia | 5 anos | 6 anos |
Ficha Técnica – Toyota Corolla Hybrid
Motor: flex, dianteiro, transv., 1.798 cm³, 16V, 99/101 cv a 5.200 rpm, 14,5 kgfm a 3.600 rpm; dois elétricos, 72 cv, 16,6 kgfm
Câmbio: CVT, tração dianteira
Direção: elétrica, 10,8 m (diam. de giro)
Suspensão: McPherson (diant.), multilink (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.)
Peso: 1.445 kg
Bateria (líquida): 1,3 kWh
Dimensões: compr., 463 cm; larg., 178 cm; alt., 145,5; entre-eixos, 270 cm; porta-malas, 470 l; tanque, 43 litros
Ficha Técnica – BYD King GS
Motor: gas., diant., transv., 1.498 cm³, 16V, 110 cv a 6.000 rpm, 13,7 kgfm a 4.500 rpm; elétricos, 194 cv, 33,1 kgfm
Câmbio: eCVT, tração dianteira
Direção: elétrica, 10,8 m (diam. de giro)
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.)
Peso: 1.620 kg
Bateria (líquida): 18,3 kWh, autonomia de 80 km, recarga em 2h45 a 6,6 kWh
Dimensões: compr., 478 cm; larg., 183,7 cm; alt., 149,5; entre-eixos, 271,8 cm; porta-malas, 450 l; tanque, 48 litros