Compass e Corolla Cross. Esses foram os nomes mais falados no início de 2021, quando o assunto da roda era SUVs. Um terceiro nome também aparecia, só que de um jeito mais tímido, talvez pela incerteza de quando chegaria às lojas. É o Volkswagen Taos, que faz sua estreia neste mês de junho prometendo atrapalhar a vida fácil do Jeep (líder absoluto do segmento), ofuscar o lançamento do recém-chegado Toyota e, finalmente, cair na boca (e nas garagens) do povo.
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O Taos é fabricado na planta de General Pacheco, na Argentina, e chega em duas versões: Comfortline (R$ 154.990) e Highline (R$ 181.790). A que ilustra estas páginas é uma terceira opção: uma série especial de lançamento, que custa R$ 191.060, é baseada na topo de linha Highline e tem itens exclusivos. Entre eles, sistema de som Beats com oito alto-
-falantes e subwoofer, rodas escurecidas e teto e retrovisores pintados em preto. A VW não divulgou até quando o pacote ficará disponível.
De qualquer forma, o SUV é bem equipado desde a versão mais barata. São seis airbags, sensores de estacionamento, piloto automático (adaptativo na Highline), central VW Play com 10,1 polegadas (compatível com os sistemas Android Auto e Apple CarPlay), freio de estacionamento elétrico e detector de fadiga.
A Comfortline tem quadro de instrumentos digital com tela de 8 polegadas, que aumenta para 10,25 na Highline, e faróis de led, que na versão mais cara ganha sistema IQ Light, grande diferencial do modelo com ajustes adaptativos do facho de acordo com a situação, levando em conta velocidade do carro e iluminação da via.
Entre os modos de funcionamento dos faróis estão: City Light, que ilumina trechos mais próximos do carro em perímetro urbano entre 10 e 35 km/h; Motorway Light, que ilumina trechos mais distantes em velocidades acima de 110 km/h; e Country Light, que liga os faróis baixos automaticamente acima dos 35 km/h. Há também facho alto automático e acompanhamento de trajetória em curvas.
Um ponto negativo está nas conexões USB, que são três, todas do tipo USB-C. Apesar de mais modernas, elas ainda não são comuns para grande parte dos brasileiros.
O Taos mostra cuidado no acabamento, com bons encaixes e materiais de boa qualidade, apesar de o painel ser todo feito com plásticos rígidos. Mesmo assim, aparência e texturas são agradáveis e passam a impressão de refinamento. Os traços do painel remetem aos irmãos mais baratos Polo, Virtus e T-Cross, com as saídas de ar abaixo da central multimídia, que parece se ligar ao quadro de instrumentos, e um aplique central de plástico brilhante, que dá ares de modernidade.
Logo abaixo, há uma faixa com revestimento de couro costurado – mas que só tem toque macio nas portas. O volante, de couro e multifuncional, vem do Golf de oitava geração vendido na Europa, e os comandos do ar-condicionado são os mesmos do Tiguan. Porém, ninguém está imune a deslizes. As portas traseiras perdem os materiais emborrachados vistos nas dianteiras e são duras e ásperas. As gafes no acabamento ficam mais evidentes diante de seus rivais – o Compass tem o painel quase que totalmente macio.
Além da boa aparência, outro ponto alto do interior do SUV é o espaço. Quem vai atrás não passa aperto e sobra vaga até para pessoas com mais de 1,90 m, seja para ombros, pernas ou cabeça. Um dos motivos é o bom entre-eixos de 2,68 metros, maior que o de Compass (2,63 m) e Corolla Cross (2,64 m).
Também atrás, há saídas de ar-condicionado abaixo dos bancos dianteiros e no console central com controle de fluxo, e uma entrada USB do tipo C. Camuflado no encosto central está um apoio de braços com porta-copos, que dá acesso ao porta-malas, permitindo buscar um objeto no compartimento sem precisar sair do carro. Mas todo esse conforto só vale para dois ocupantes. Uma terceira pessoa certamente sofrerá com o túnel alto no piso e com assento e encosto mais estreitos e duros.
O porta-malas também merece elogios por ser o maior entre os rivais: são 498 litros, contra 410 litros do Jeep e 440 litros do Toyota. O acesso é bom para grandes objetos e o generoso ângulo de abertura reduz o risco de se bater a cabeça na tampa. Para fechar o porta-malas, há uma alça interna no lugar de apenas um nicho. É uma boa e prática solução.
Por fora, não se tem grandes inovações no design, que fica mais próximo da aparência “séria” do Tiguan do que do jeito mais moderno do T-Cross. Mesmo assim, na dianteira, busca elementos para criar personalidade, como a faixa preta em formato de X e a profusão de grades do tipo colmeia no para-choque dianteiro. Ainda no para-choque, as aberturas nas extremidades, onde normalmente seriam instalados faróis de neblina, são funcionais para auxiliar no resfriamento dos freios.
A versão Highline ganha ainda a faixa luminosa na grade, que parece cortar o novo logo da Volkswagen. Esse ornamento herdado da linha de elétricos da marca, a ID, é mais discreto do que pode parecer e fica ofuscado justamente pela quantidade das grades em colmeia, mesmo em partes sem entradas de ar. Isso acaba pesando no visual.
A traseira tem lanternas de led com iluminação que lembra letras Y deitadas. Uma faixa com trama de colmeia repete o desenho da dianteira, mas os apliques cromados no para-choque não conversam com nada e lembram o Chery Tiggo 5X. As rodas são sempre aro 18 com pneus 215/55, mas o desenho muda com a versão. Apesar de não inovar, a aparência do Taos é elegante.
Ele é sempre equipado com o conhecido motor 1.4 TSI (turbo com injeção direta) flex, com 150 cv de potência e 25,5 kgfm de torque, e o câmbio automático de seis marchas. A tração é dianteira e a Volkswagen não dá sinais de que um dia o Taos terá tração integral por aqui. Para isso, segundo a marca, existe o Tiguan – que não custa menos de R$ 230.000 e tem motorização 2.0 turbo.
Caso os dados técnicos do motor não tenham animado, agora vem a surpresa. Em nossos testes, feitos com gasolina, o Taos foi de 0 a 100 km/h em 10,2 segundos, ou seja, 0,1 segundo mais rápido em relação ao Compass 1.3 turbo. O Volks é 84 kg mais leve do que o Jeep, mas a diferença é pouca e não justifica por si só o melhor desempenho. O resultado é uma prova das boas acelerações do modelo, que desenvolve velocidade de forma fácil e suave, sem esforço.
Além disso, a Volkswagen parece ter amenizado no Taos a sensação de turbo lag presente em todos os outros modelos com o mesmo motor 1.4 TSI. As respostas do motor a partir do acionamento do acelerador estão mais rápidas, o que é uma contradição, já que o torque do modelo vem a partir dos 1.500 rpm, acima dos 1.400 rpm do Jetta. A rotação maior é a mesma adotada no Polo GTS.
Assim como a direção mais direta, a posição de dirigir do Taos tem certa esportividade, embora sua proposta seja totalmente familiar. É possível achar uma posição mais instigante e prazerosa. A suspensão vai pelo mesmo caminho, mas sem deixar de ser confortável. Aqui, o acerto busca passar conforto para os ocupantes, sem que para isso o carro seja “molenga”. No Taos, o conjunto não permite que a carroceria tenha grandes rolagens ou dê sustos em curvas – pelo contrário, ele parece se movimentar sobre um trilho.
Porém, enquanto os ocupantes desfrutam do conforto, a combinação da direção justa e da suspensão mais firme aparece de forma evidente para o motorista. As imperfeições do solo são refletidas diretamente no volante.
O SUV também passou pela prova de consumo de combustível com bons números. Com gasolina, ele registrou as médias de 11,4 km/l em ciclo urbano e 14,3 km/l em ciclo rodoviário. Os resultados só são piores em relação ao Corolla Cross, tanto com motorização híbrida quanto no 2.0 aspirado. A razão, além da eficiência do motor, está no funcionamento do câmbio. A transmissão tem trocas suaves e mantém a rotação do motor baixa, privilegiando o consumo. A 100 km/h, em sexta marcha e no modo Eco, o motor gira a 1.750 rpm.
Baseado na plataforma MQB A, a mesma de Jetta e Tiguan, e não na MQB A0, de Polo e T-Cross, o Taos se beneficia de um maior refinamento em construção e dirigibilidade.
Em resumo, o novato tem atributos que vão dar o que falar.
Veredicto
Com muito espaço, bom desempenho e prazer ao dirigir, o Taos é o elemento que faltava no segmento. A disputa será boa.
Testes de desempenho
Aceleração:
0 a 100 km/h: 10,2 s
0 a 1.000 m:
31,3 s – 169,6 km/h
Velocidade Máxima:
194 km/h*
Retomada:
D 40 a 80 km/h: 4,4 s
D 60 a 100 km/h: 5,6 s
D 80 a 120 km/h: 7,4 s
Frenagens:
60/80/120 km/h – 0 m: 13,6/25,3/54,6 m
Consumo:
Urbano: 11,4 km/l
Rodoviário: 14,3 km/l
Ruído Interno:
Neutro/RPM máx.: 38,3/63,6 dBA
80/120 km/h: 62,9/67 dBA
Aferição:
Velocidade real a 100 km/h: 98 km/h
Rotação do motor a 100 km/h em 6ª marcha: 1.750 rpm
Volante:
2,5 voltas
Ficha técnica
Preço: a partir de R$ 154.990
Garantia: 3 anos
Motor: flex, dianteiro, transversal, 4 cil., 16V, turbo, 1.395 cm³, 150 cv a 5.000 rpm, 25,5 kgfm a 1.500 rpm
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
Suspensão: ind. McPherson (diant.), multilink (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) e sólido (tras.)
Direção: elétrica, 11,5 (diâmetro de giro)
Pneus: 215/55 R18
Dimensões: comprimento, 446,1 cm; largura, 209,7 cm; altura, 163,6 cm; entre-eixos, 268 cm; porta-malas, 498 l; tanque de combustível, 51 litros
*Dado de fábrica