Quando a Hyundai lançou a última reestilização do HB20, sabia que tinha sido atrevida demais. “O desafio […] é romper com os padrões. Se 50% das pessoas odiarem, mas 50% amarem, estamos no caminho certo”, Simon Loasby, designer que comandou da Coreia do Sul a reestilização de 2019, disse à época.
Pelo jeito, o caminho estava errado, mas o HB20 se mostrou um projeto tão resiliente que nem o “cartão de visitas” do carro – sua aparência – foi capaz de impedir ótimas vendas.
Elas, entretanto, talvez fossem melhores com estilo mais popular. Tanto que, apenas três anos depois, o carro de passeio mais vendido do Brasil acaba de ganhar uma profunda reestilização, tornando-o novo por fora, ainda que bem igual por dentro.
São mudanças que invertem todo o estilo da linha anterior: a carroceria bem curvilínea dá lugar a formas retas. Uma nova grade transforma a dianteira do carro, ao passo que na traseira o conjunto de lanternas é inspirado nos luxuosos Tucson e Elantra de nova geração, inéditos no Brasil.
Antes de sentar à mesa em jantar com jornalistas, o diretor de produto na Hyundai brasileira, Rodolfo Stopa, já perguntou, confiante da resposta que teria: “Dessa vez não vai dar para criticar o visual, né?”.
A rigor, errado estaria o jornalista que impusesse sua opinião em algo tão subjetivo quanto a estética; o que conta, nesse caso, é o que o público acha.
Em momentos distintos, QUATRO RODAS perguntou, no site, opiniões sobre o visual do HB20, e as respostas sempre foram altamente negativas. Em uma enquete de 2020, o primo europeu do carro, o Hyundai i20, foi classificado como “mais bonito” nove vezes mais.
Coincidência ou não, o novo HB20, que já está à venda, se aproximou do parente tanto nos faróis quanto no para-choque dianteiro. Coube ao Brasil, entretanto, uma grade dianteira bem grande, que recuou o capô. A peça também ganhou dois vincos bem marcados, que buscam um ar de esportividade. O para-choque traseiro reforça a aparência “encaixotada” e, assim como o dianteiro, está um pouco mais volumoso. Ao todo, o HB20 cresceu 7,5 cm, mas não manteve o espaço interno de antes.
A protagonista da porção traseira, entretanto, é a régua que une duas lanternas que lembram martelos. O material reflexivo até disfarça, mas não há iluminação no meio do conjunto; isso é exclusividade do HB20S, que chegará em seguida.
Virtudes do Hyundai HB20
Sendo o carro de passeio mais vendido de 2021, a Hyundai não tinha por que mudar o que já dá certo no HB20. Assim, as versões mais baratas seguem com motor Kappa 1.0 aspirado (80 cv/10,2 kgfm) junto a câmbio manual de cinco marchas, com preços que vão de R$ 76.790 a R$ 85.490.
Os modelos com o Kappa 1.0 turbo (120 cv/17,5 kgfm) têm apenas câmbio de seis marchas, que pode ser o manual ou o automático; essas vão de R$ 93.790 a R$ 114.390, preço da versão topo de linha Platinum Plus, mostrada aqui. É caro, mas inclui equipamentos até surpreendentes para o veículo do segmento.
É o caso do assistente de permanência em faixa, capaz de dar uma “mãozinha” ao motorista ajudando a centralizar o carro na pista. O piloto automático adaptativo, porém, foi preterido pelo controle de cruzeiro convencional.
Apple CarPlay e Android Auto podem ser acessados sem fio na central multimídia de 8”, e a Hyundai faz questão de estimular o uso do aplicativo Bluelink, que permite rastrear, ligar o carro à distância e até limitar em que regiões o carro pode rodar. Apesar de pago, quem adquirir um HB20 Platinum ou Platinum Plus terá três anos de uso grátis.
A Platinum Plus também é acima da média ao oferecer o sistema que impede a abertura de portas do passageiro ou a saída a ré de vagas a 90o quando há veículos se aproximando. Todas as versões do novo HB20 contam com seis airbags de série, incluindo cortinas de proteção lateral.
O reajuste nas versões do compacto foi, em média, de 6,82%. Para não encarecer sua novidade, a Hyundai optou por mexer muito pouco na cabine, que continua quase inteiramente de plásticos duros.
Há material que imita couro apenas na lateral dos bancos, manopla do câmbio, volante e apoios de braço – insuficiente para subir o nível de acabamento.
AJUSTE FINO
A maior alteração foi no quadro de instrumentos, que, nas duas versões mais caras, é digital.
Mas não há um display de LCD, como vem se tornando comum, e sim um conjunto que une o computador de bordo de 4,2” usado pela Kia a dois simples relógios digitais, que servem de conta-giros e velocímetro.
Ainda que a telinha seja útil para comandar funções do carro, os mostradores deixam uma grande área inutilizada no mostrador. Uma aposta ousada e que oferece poucas vantagens em relação aos velocímetros tradicionais.
Com a mesma mecânica, coube à engenharia da Hyundai realizar pequenas alterações nos componentes do HB20. Tanto relacionadas à emissão de poluentes quanto ao sistema elétrico, que agora é mais exigido.
A potência do motor 1.0 turbo segue de 120 cv a etanol ou gasolina, mas o torque ficou 1,6% menor, sendo de 17,5 kgfm em ambos os combustíveis. Como a versão Platinum Plus agora traz rodas maiores, de aro 16, a primeira expectativa é de que o consumo diminuísse, assim como a aceleração.
Nossos testes confirmaram que ele arranca 0,3 s mais devagar, levando 10 s para ir de 0 a 100 km/h. O consumo urbano, melhorou de 12,6 km/l para 13,2 km/l, acrescentando 30 km de autonomia ao tanque de 50 l. Mas, no ciclo rodoviário, não houve melhora no rendimento. De fato, até piorou um pouco: de 15,3 km/l para 15,1 km/l.
Mas os números de performance seguem bons, principalmente para um carro que atrai quem busca locomoção eficiente e tranquila. Esses clientes também gostarão dos pedais e volante, que foram ajustados para ficarem bem leves e precisos.
Como o pico de torque vai dos 1.500 rpm aos 3.500 rpm, o HB20 também é ligeiro nas retomadas urbanas. Em altas velocidades, o pico de potência a 6.000 rpm se faz notado e a 100 km/h a sexta marcha já “grita” um pouco, mas o isolamento acústico é bom – melhor do que o de modelos mais caros como o Honda City Hatch, por exemplo.
A suspensão cumpre um bom papel dentro de sua simplicidade e a boa qualidade construtiva faz com que o plástico não gere barulho ou cause desconforto em vias um pouco mais precárias. Um supersticioso diria que Simon Loasby “zicou” o HB20 em 2019, já que a aprovação do antigo desenho foi baixa.
O designer pode se defender dizendo que não foi só por isso que o modelo está irreconhecível: os gravíssimos problemas de matéria-prima na fabricação da linha Onix criaram o momento ideal para a Hyundai melhorar seu principal produto.
Se o estilo do Onix for o desempate entre modelos tão parecidos no resto, um rostinho mais bonito pode consolidar a recente vantagem do Hyundai HB20 nas vendas. Fato é que, quando a GM normalizar a produção do seu modelo, terá um rival ainda mais forte para combater.
Veredicto Quatro Rodas
O “feijão com arroz” da Hyundai não tem filé-mignon, mas seu tempero está mais acertado do que nunca.
Teste – Hyundai HB20 Platinum Plus 2023
Aceleração
0 a 100 km/h: 10 s
0 a 1.000 m: 31,4 – 166,1 km/h
Velocidade máxima 192 km/h
Retomadas
D 40 a 80 km/h: 4,3 s
D 60 a 100 km/h: 5,5 s
D 80 a 120 km/h: 6,8 s
Frenagens
60/80/120 km/h a 0: 13,9/24,5/55,3 m
Consumo
Urbano: 13,2 km/l
Rodoviário: 15,1 km/l
Ruído interno
Neutro/RPM máx.: 37,0/63,3 dBA
80/120 km/h: 62,5/69,2 dBA
Aferição
Velocidade real a 100 km/h: 97 km/h
Rotação do motor a 100 km/h: 2.100 rpm
Volante: 2,7 voltas
Seu Bolso
Preço básico: R$ 114.390
Garantia: 5 anos
Condições de teste: alt. 660 m; temp., 26,5 °C; umid. relat., 38%; press., 1.025 kPa. Realizado no TMT Campo de Provas
Ficha Técnica – Hyundai HB20 Platinum Plus 2023
Motor: flex, diant., transv., 3 cil. em linha, turbo, 998 cm3; 12V, 120 cv a 6.000 rpm, 17,5 kgfm a 1.500 rpm
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica progressiva, 9 m (diâmetro de giro)
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), tambor (tras.)
Pneus: 195/55 R16
Peso: 1.110 kg
Dimensões: comprimento, 401,5 cm; largura, 172 cm; altura, 147 cm; entre-eixos, 253 cm; porta-malas, 300 litros; tanque, 50 litros
O NOVO SEDÃ CHEGA EM BREVE
Mostrado brevemente, o Hyundai HB20S também ganhará as mudanças da variante hatch. De acordo com a marca, não há data certa para o lançamento do carro, e o atual HB20S segue à venda. Rodolfo Stopa, porém, diz que a reestilização do sedã chega às lojas ainda em 2022. O reajuste de preços deve ser parecido com o sofrido pelo HB20, diz outra fonte.
A frente é praticamente igual à do compacto, mas a inspiração do Elantra fica mais evidente na traseira, que ganhou ares de carro caro e tem a régua das lanternas completamente iluminada. Por dentro, haverá bancos que imitam couro de tom claro, como o resto da cabine.