Teste: Ford EcoSport Storm ousa na terra com pneu de asfalto
Nova versão topo de linha marca o retorno da versão 4x4 ao modelo, mas agora equipado com câmbio automático
A escolha dos pneus que serão usados em um determinado veículo sempre é delicada. Não é possível aliar capacidade off-road, eficiência energética e conforto em um só composto.
Os pneus de uso misto, feitos para rodar tanto na terra quanto no asfalto, são um bom exemplo desse difícil equilíbrio: eles são a escolha ideal para a maioria dos SUVs 4×4, mas têm menos aderência, geram mais ruído e gastam mais rápido.
Isso ajuda a explicar por que a Ford optou por manter o mesmo Michelin Primacy 205/50 R17 no inédito EcoSport Storm.
O nome batiza o novo EcoSport com tração 4×4. Além do visual exclusivo (e bem chamativo), o modelo tem como maior novidade a oferta do câmbio automático de seis marchas, em substituição à antiga caixa manual de seis usada até então.
“Queremos posicionar o Storm acima do rival com câmbio manual e abaixo de modelos automáticos mais caros”, explica Adriana Carradori, gerente de marketing da Ford.
Ou seja: por R$ 99.990, deixaram o EcoSport com tração integral acima do Duster 4×4 (R$ 89.290) e abaixo do Mitsubishi ASX 4WD (R$ 119.490). A marca não falou em números, mas esperam um aumento da participação nas vendas da versão 4×4 dentro da gama no EcoSport.
Isso ajuda a explicar a opção por manter os pneus da versão Titanium no EcoSport Storm. Por serem voltados para o uso urbano, eles entregam melhor conforto para os ocupantes, em detrimento da capacidade no fora de estrada.
Pode parecer um contrassenso para um carro com mais capacidade off-road, ainda mais considerando que a versão anterior do EcoSport 4×4 usava pneus de uso misto.
Mas, do ponto de vista de mercado, faz sentido – Fiat e VW chegaram a disponibilizar dois tipos diferentes de pneus para a Weekend Adventure e CrossFox.
Na prática, o novo EcoSport Storm 4×4 não tem tanta versatilidade em pisos de terra batida, escorregando com mais facilidade e dando mais trabalho para o ESP e o sistema de tração integral. Mas ele pode lidar melhor com outras aventuras.
Segundo a Ford, estudos indicaram que o maior desejo do consumidor era um visual exclusivo e distinto de outras versões. O ponto de partida foi o conceito Storm, apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo de 2014 e inspirado na F-150 Raptor.
Além das adaptações necessárias para adequar o estilo ao novo EcoSport, outra mudança foi a adição do nome Storm na grade do radiador. A troca ocorreu para valorizar a versão e exigiu trabalho redobrado da equipe de engenharia e estilo.
“Tivemos que fazer diversas alterações para manter o nível adequado de refrigeração do motor”, explica Fabio Sandrin, supervisor de design.
A profusão de adesivos pela carroceria e a tampa de estepe exclusiva cumprem bem o papel de destacar o Storm em meio aos outros modelos, especialmente se for pintado na cor de lançamento Marrom Trancoso.
Além do tom exclusivo (e sem custo adicional), o EcoSport Storm será vendido nas cores branca, cinza e preta. Nesta última opção, aliás, grade, rodas e adesivos continuam pretos, eliminando boa parte do impacto visual do novo modelo.
A cabine, para o bem e para o mal, é idêntica à do EcoSport Titanium. Estão lá o prático sistema multimídia SYNC 3, teto solar, ar digital, chave presencial e bancos de couro, mas apliques bronze no painel, portas e costuras diferenciam a versão 4×4.
Mas o excesso de plástico rígido e peças desalinhadas também se repetem no Storm. Para um carro que custa R$ 99.990, a qualidade do acabamento precisa melhorar bastante.
A lista de itens de série é idêntica à do Eco Titanium, com ESP, ar-condicionado digital, sistema multimídia, sensor e câmera de ré, rodas de 17 polegadas (exclusivas) e chave presencial. A única ausência foi o alerta de veículos no ponto cego, removido para reduzir o preço final do Storm.
O conjunto mecânico acompanha as mudanças do novo EcoSport, com um 2.0 aspirado com injeção direta e 176 cv aliado a um câmbio automático convencional de seis marchas.
A tração integral e a suspensão traseira independente adicionam mais aderência e controle, sobretudo em situações em que a traseira ameaça escapar. Mas esse tipo de cenário é raro no uso urbano, e poucos motoristas vão notar a diferença.
O que dá para perceber bem é o aumento do consumo. Os 110 kg extras da versão Storm, aliados à maior perda da transmissão integral fizeram com que ele gastasse até 7,6% a mais em nossos testes, mesmo com um diferencial traseiro capaz de ser desacoplado quando não é exigido.
Foram 9,2 km/l no ciclo urbano e 12,5 km/l no rodoviário contra 9,4 km/l e 13,1 km/l do Titanium 4×2. O Storm foi pior em quase todas as provas de desempenho.
A maior diferença foi no 0 a 100 km/h: 11,7 segundos, 1,5 mais lento. Retomada, frenagem e ruído em movimento também pioraram.
Isso não atrapalhou a dinâmica do novo Eco, cuja direção elétrica recalibrada responde bem e casa com a suspensão macia na medida certa. No final das contas, a escolha dos pneus 100% asfalto não compensou a piora da versão 4×4 e ainda prejudicou justamente sua pegada off-road.
Veredicto
O visual do Storm pode até ser exagerado, mas lhe dá exclusividade. Seus pneus, porém, não são eficientes na terra, justamente onde o 4×4 se destaca.
Ficha técnica – Ford EcoSport Storm 4×4 2.0 A/T
- Motor: flex, dianteiro, transversal, 4 cilindros, injeção direta, 1.999 cm3, 16V, 87,5 x 83,1 mm, 12,0:1, 170 cv (G) / 176 (E) a 6.500 rpm, 20,6 mkgf (G) / 22,5 mkgf (E) a 4.500 rpm
- Câmbio: automático, 6 marchas, tração integral
- Suspensão: McPherson (dianteiro), multibraço (traseiro)
- Freios: disco ventilado (dianteiro), tambor (traseiro)
- Direção: elétrica, 10,6 m (diâmetro de giro)
- Rodas e pneus: 205/50 R17
- Dimensões: comprimento, 426,9 cm; largura, 176,5 cm; altura, 169,3 cm; entre-eixos, 251,9 cm; peso, 1.469 kg; tanque, 52 litros; porta-malas, 356 litros
- Preço: R$ 99.990
Teste de pista (com gasolina)
- Aceleração de 0 a 100 km/h: 11,7 s
- Aceleração de 0 a 1.000 m: 33,4 s – 151,9 km/h
- Retomada de 40 a 80 km/h (em D): 5,0 s
- Retomada de 60 a 100 km/h (em D): 6,4 s
- Retomada de 80 a 120 km/h (em D): 8,4 s
- Frenagens de 60/80/120 km/h a 0: 15,4 / 27,9 / 63,8 m
- Consumo urbano: 9,3 km/l
- Consumo rodoviário: 12,5 km/l