A pandemia de Covid-19 foi estopim para que uma revolução na indústria automotiva começasse: primeiro, os preços disparam, depois as peças faltaram e, enquanto tudo isso ocorria, marcas tradicionais saíram e estreantes chegaram ao Brasil.
Muita coisa mudou, mas nada que impedisse que o Renault Duster seguisse existindo. O SUV compacto chegou ao mercado nacional em 2011, ainda na onda do Ford EcoSport, e nunca foi sinônimo de requinte. As versões com tração 4×4 eram chamariz, mas o grosso das vendas ficava sempre com modelos com a sobriedade de um carro romeno vendido, no Brasil, pela marca francesa.
Em 2020, uma nova geração passou a ser vendida, mudando principalmente aspectos de segurança, construção e mecânica. Estética e tecnologias, por outro lado, apenas tiveram incrementos. Enquanto não chega a hora do Duster dizer adeus, isso continua acontecendo.
Há alguns meses, chegou a vez do Renault Duster Iconic Plus: é a nova versão de topo, única que vem com motor 1.3 turbo, da família TCe. São 170 cv e 27,5 kgfm, com transmissão CVT de oito velocidades e tração 4×2 dianteira. Ele custa R$ 157.990, mas a unidade do vídeo ainda traz o pacote Outsider, que acrescenta faróis auxiliares, frisos laterais e decoração extra. Com esse opcional e a pintura, o Duster Iconic Plus pode chegar aos R$ 160.690, que não é pouco.
Por dentro
O incremento no valor foi justificado por itens com os seis airbags, que vêm de série em todas as versões. É uma melhoria importante, considerando que os dois airbags de até então estimulavam críticas quanto à segurança do carro. O Duster Iconic Plus se apega ao laranja, que está até nas costuras de bancos e portas. O descanso de braço do motorista deu lugar a um pequeno baú, o quadro de instrumentos teve os grafismos atualizados e agora são quatro entradas USB (três USB-C e uma USB-A).
A central multimídia é modesta, com 8” e conexão sem fio via Android Auto e Apple Carplay, mas a resposta ao toque é lenta, o som tem pouca qualidade e, usando um iPhone 14 Pro (via cabo ou não), o Carplay apresentou travamentos constantes. São coisas que costumam estar ligadas, por conta de baixa capacidade de processamento do sistema.
Nesse caso, a estética ter mudado pouco desde 2011 até ajuda, pois já se espera uma proposta mais rústica. E o lado bom disso? O fato do Duster superar com tranquilidade as valetas, ter pneus largos e suspensão que contribuem para poucos solavancos e, há algum tempo, direção elétrica.
O motor 1.3 turboflex também é valioso, pois tem o mesmo torque que um Jeep Compass, por exemplo. Os 15 cv a menos frente ao SUV médio não chegam a atrapalhar: o Duster vai de 0 a 100 km/h em 9,9 s e mantém velocidades altas sem sofrer (méritos às oito marchas). Com gasolina, são 10,7 km/l na cidade e 13,2 km/l na estrada.
Aí sim, números razoavelmente bons, tal como o espaço que o motorista tem, com pernas facilmente batendo no console central. Os 2,67 m de entre-eixos fazem o espaço traseiro ser melhor, com espaço para dois adultos sem pernas batendo nos bancos da frente. Os 475 litros de porta-malas são ainda melhores, se comparados à média do segmento.
Foco na proposta
Do jeito que ocupam seu papel em nossa vida, é difícil que um carro não tenha fatores emocionais envolvidos. Na era dos desejos alimentados pela internet, isso se intensifica e dá vida a muitas coisas impressionantes, no bom sentido. A nova geração do Duster, que já foi revelada na Europa, tem esse apelo estético mais intenso, e fez sucesso nas redes sociais de QUATRO RODAS.
Mas existem aqueles que ligam mesmo é para transportar dois filhos pequenos com segurança, espaço para bagagens e desempenho que não deixe a família passar aperto numa estrada com subidas ou outras exigências. É o caso de um cinegrafista que gravou outro vídeo de QUATRO RODAS e, entre uma filmagem e outra, perguntou qual carro deveria comprar em tal cenário.
Foi aí que o Duster veio à mente. Nesse caso, porém, o pacote do Iconic Plus é pouco importante: há novas barras de teto, skis frontais, retrovisores externos em preto brilhante e rodas de liga leve. Mas isso tudo custa caro e o Duster básico (R$ 127.990/R$ 136.690, dependendo do câmbio manual ou CVT) faz mais sentido.
A maior desvantagem é o motor 1.6 aspirado (120 cv/16 kgfm), mas a substancial ameniza esse “amargor”. No fim das contas, é natural que um veículo que se destaque por essa sobriedade eficiente perca sentido à medida que vai ficando muito paramentado.
Ficha técnica – Renault Duster Iconic Plus TCe 1.3 turboflex
Motor: gasolina, dianteiro, transversal, 4 cilindros, 1.332 cm³, 16V, 170 cv a 5.500 rpm, 27,5 kgfm a 1.600 rpm
Câmbio: CVT, 8 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica, 10,7 m (diâmetro de giro)
Suspensão: McPherson (dianteira), eixo de torção (traseira)
Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
Pneus: 215/60 R17
Peso: 1.353 kg
Dimensões: comprimento 437,6 cm; largura, 183,2 cm; altura, 169,3 cm; entre-eixos, 267,3 cm; tanque de combustível, 46 l; porta-malas, 475 l
Teste – Renault Duster Iconic Plus TCe 1.3 turboflex
Aceleração
0 a 100 km/h: 9,9 s
0 a 1.000 m: 31,2 – 166,28 km/h
Retomadas
D 40 a 80 km/h: 4,3 s
D 60 a 100 km/h: 5,3 s
D 80 a 120 km/h: 7,0 s
Frenagens
60/80/120 km/h a 0: 13,1/24,0/54,9 m
Consumo
Urbano: 10,7 km/l
Rodoviário: 13,2 km/l
Ruído interno
Neutro/RPM máx.: 45,2/73,3 dBA
80/120 km/h: 59,8/72,2 dBA
Aferição
Velocidade real a 100 km/h: 98 km/h
Rotação do motor a 100 km/h: 1.750 rpm
Volante: 2,7 voltas
Seu Bolso
Preço básico: R$ 157.990
Garantia: 3 anos