Novo Audi A3 Sedan está econômico como nunca, mas custa até R$ 326.000
Audi A3 Sedan recupera a nacionalidade alemã em nova geração com plataforma atualizada e conjunto mecânico voltado para a eficiência
Cinco anos atrás, a porta de entrada para os carros de luxo era mais acessível. Era possível levar um A3 Sedan básico quase que pelo mesmo preço de um Honda Civic ou um Toyota Corolla completos. Isso ficou no passado, assim como a produção nacional dos carros da Audi.
A rentabilidade aquém do esperado e o calote do governo nos 30% do IPI majorado para carros importados, prometido aos fabricantes que investiram no Brasil no Inovar-Auto (de 2012 a 2018), fez a Audi desistir, mais uma vez, da operação em São José dos Pinhais (PR).
É a história se repetindo. A nova geração do Audi A3 chega ao Brasil importada da Alemanha, como em 2006, quando a fabricante desistiu de produzir o A3 no país pela primeira vez.
O modelo continua disponível nas carrocerias hatch e sedã, que têm exatamente os mesmos preços, que mudam de acordo com o motor: R$ 249.990 para as versões com o 1.4 TFSI e R$ 284.990 para as versões 2.0 TFSI. São opções bem na faixa de preço dos BMW Série 2 Gran Coupé (R$ 284.950) e Mercedes-Benz A200 Sedan (R$ 288.990). O hatch só concorre com o BMW 118i Sport GP, de R$ 272.950.
Nada será como antes para o novo Audi A3. Ou quase nada: não houve mudanças no entre-eixos (2,63 m), nas linhas do teto ou nos retrovisores, mas a plataforma passa a ser a MQB Evo, a mesma do novo VW Golf, o que possibilitou a evolução significativa dos sistemas embarcados e no que o A3 poderá oferecer a partir de agora.
Nosso primeiro contato é com o novo A3 Sedan com motor 2.0, configuração que promete se tornar a nova queridinha dos compradores, por conta da faixa de preço. Enquanto o motor 1.4 TFSI de 150 cv deixou de ser flex e trocou o câmbio automático de seis marchas por um de oito velocidades, o 2.0 TFSI deixa de ser aquele com 220 cv de potência e 35,7 kgfm de torque, que também embalava o Golf GTi e sobrava no A3 Sedan.
A Audi se rendeu à eficiência do mesmo propulsor do A4, o 2.0 TFSI em versão com 190 cv e 32,6 kgfm. Não é motor de ciclo Otto, mas sim ciclo B – uma variação do ciclo Miller, com tempos de compressão menores e os de expansão, maiores. Para compensar, a taxa de compressão foi aumentada de 9,6:1 para 11,7:1. É o oposto do que se faz em motores turbo Otto, mas obrigatório para compensar a redução de potência e torque, e melhorar o consumo.
O câmbio S Tronic, de dupla embreagem, agora tem sete marchas e está comprometido com o mesmo objetivo da eficiência. Como no Golf, a alavanca seletora deu lugar a um pequeno joystick no console.
Toda essa manobra técnica mostrou seu efeito em nossa pista. Na aceleração, precisou de 7,4 s para chegar aos 100 km/h, tempo 0,6 s maior que o da antiga versão de 220 cv. Mas o ganho no consumo foi notável: média urbana de 11,1 km/l e rodoviária de impressionantes 16,1 km/l. Conseguiu ser ainda melhor que o modelo antigo, com as médias de 10,5 km/l e 14,5 km/l, respectivamente.
Quem conheceu o A3 2.0 antes, porém, percebe facilmente que o ronco que ecoa pelo escape (que nem fica aparente na traseira) deixou de ser grave e que o sedã não queima pneu com a mesma facilidade nas arrancadas. Isso aconteceu justamente quando o A3 recebeu visual mais inspirado, com grandes tomadas de ar dianteiras, faróis e lanternas mais elaborados e para-choques mais volumosos.
Escola brasileira de acerto de suspensões
Por outro lado, a experiência de quem foi fabricado no Brasil parece ter ajudado a alcançar uma qualidade de rodagem exemplar para um carro importado. Molas e amortecedores absorvem quase tudo, o vão livre da suspensão é suficiente para o para-choque não raspar em rampas e valetas (o que, digo pela experiência, acontece com muito SUV no mesmo percurso).
O melhor é que nada disso interferiu negativamente na dinâmica do A3 Sedan, que agora tem suspensão traseira multilink e direção com relação dinâmica em todas as versões. O mais surpreendente é que a Audi jura que o acerto da suspensão não foi feito só para o Brasil.
A cabine evidencia mais todas as mudanças. O novo painel segue o estilo dos Audi mais recentes, com direito a botões para comandar os faróis (os de led matriciais, como nas fotos, são opcionais de R$ 8.500), quadro de instrumentos digital com novos grafismos (com direito à mesma exibição dos RS) e a nova central multimídia com tela sensível ao toque com comandos rápidos (e também táteis) em um círculo no console: basta passar o dedo nas bordas para ajustar o volume do som, por exemplo. À frente dele está a base de carregamento sem fio para smartphones e as portas USB, agora do tipo C.
No banco traseiro, não houve mudanças significativas. O espaço é o mesmo e o túnel central continua alto e incômodo. Mas há saída de ar e duas tomadas USB-C. O pacote interno S Line (R$ 5.500) deixa o ambiente ornado como em um S3, com direito a bancos esportivos, couro nas portas e volante com couro perfurado e pedaleiras de alumínio.
Ainda é possível incluir o sistema de som 3D da Bang & Olufsen com 680 W (R$ 6.000), iluminação interna personalizável (R$ 1.500) e fibra de carbono na capa dos retrovisores (R$ 6.000) e em spoiler na tampa do porta-malas (R$ 12.000).
Mesmo com a evolução técnica da plataforma e da arquitetura eletrônica, e de opcionais que fazem o preço bater nos R$ 326.000, o Audi A3 perdeu quase toda sorte de equipamentos avançados de segurança que oferecia, ainda que como opcional, quando era fabricado no Brasil.
O assistente de baliza automática permaneceu como item de série, mas não tem frenagem autônoma de emergência, assistência de permanência em faixa, piloto automático adaptativo e detecção de obstáculos em pontos cegos, equipamentos considerados essenciais na Europa e oferecidos aqui em carros bem mais baratos.
Isso, porém, parece ser uma nova diretriz da Audi. Quem fizer questão deve migrar para o Audi A4 mais completo, Performance Black (R$ 362.990), e pagar mais R$ 9.000. E quem não fizer questão precisa considerar que o Audi A4 de entrada custa R$ 285.990 – apenas R$ 1.000 mais caro. São novos tempos, de fato.
Veredicto – O Audi A3 Sedan trocou desempenho por eficiência e se limita a oferecer o trivial para um carro tão avançado.
Teste – Audi A3 Sedan 2.0 TFSI
Aceleração
0 a 100 km/h: 7,4 s
0 a 1.000 m: 27,6 s – 196,4 km/h
Velocidade máxima 248 km/h*
Retomadas
D 40 a 80 km/h: 3,2 s
D 60 a 100 km/h: 3,9 s
D 80 a 120 km/h: 4,6 s
Frenagens
60/80/120 km/h a 0: 14/25/57,3 m
Consumo
Urbano: 11,1 km/l
Rodoviário: 16,1 km/l
Ruído interno
Neutro/rpm máx.: 42,4/65,5 dBA
80/120 km/h: 65,5/69,3 dBA
Aferição
Velocidade real a 100 km/h: 95 km/h
Rotação do motor a 100 km/h em 7a marcha: 1.750 rpm
Volante: 2 voltas
Seu Bolso
Preço básico: R$ 284.900
Garantia: 2 anos
Ficha Técnica – Audi A3 Sedan 2.0 TFSI
Motor: gasolina, dianteiro, transversal, 4 cil., 16V, 1.984 cm³, 190 cv entre 4.200 e 6.000 rpm, 32,6 kgfm entre 1.500 e 4.180 rpm
Câmbio: dupla embreagem, 7 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: ind. McPherson (diant.), multilink (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.)
Pneus: 225/40 R18
Dimensões: comprimento, 449,5 cm; largura, 181,6 cm; altura, 143 cm; entre-eixos, 263,3 cm; porta-malas, 425 l; tanque de combustível, 50 l; peso 1.485 kg