SUVs médios eram veículos próprios para atividades off-road há 20 anos e hoje são carros de passeio. Picapes médias, porém, continuam fiéis à carroceria montada sobre chassi de longarinas e da tração 4×4 com reduzida.
Sem abandonar a estrutura clássica, a Mercedes Classe X faz diferente: combina a robustez de uma picape com o conforto e os equipamentos dos carros de luxo da marca. Estou nos arredores de Santiago, no Chile, para conhecer a Classe X de perto.
A primeira impressão é a de que puseram uma caçamba no Mercedes GLE, que parece ter inspirado o formato dos faróis, os vincos no capô e a grade com duas barras de aço escovado. Mas o ponto de partida desse projeto é a nova Nissan Frontier, vendida no Brasil desde março.
A Daimler e a Renault-Nissan compartilham motores, plataformas e fábricas desde 1999. Neste caso, Classe X, Frontier e Renault Alaskan dividirão a linha de montagem na fábrica de Córdoba, na Argentina, no final de 2018. O lançamento, porém, será no início de 2019.
Os designers alemães fizeram o possível para esconder a herança genética. O X tem caixas de roda com arcos menos marcados e a caçamba é sóbria, com discretos vincos horizontais na tampa e lanternas (leds nas versões mais caras), estreitas e verticais, que não invadem as laterais. O interior muda bastante. Da japonesa sobraram só interruptores e manopla do câmbio. Quadro de instrumentos, central multimídia com tela de 8,4 polegadas e volante, porém, são de outros Mercedes.
A versão topo de linha Power tem acabamento refinado, com couro na parte superior do painel e das portas, nas alavancas e couro perfurado no volante. O banco do motorista é climatizado e tem ajustes elétricos, e a central é operada pelo trackpad no console central. Clientes fiéis da Mercedes se sentirão em casa aqui. O banco traseiro está mais alto, ajudado pelo teto elevado em 2 cm. Já não escondo as orelhas com os joelhos, como acontece na Frontier.
Entre os equipamentos, há assistente de permanência em faixas, frenagem de emergência, leitor de placas, ar-condicionado de duas zonas com saídas traseiras, câmeras 360º, sete airbags e faróis full led. A única configuração disponível é a X250d, com o motor 2.3 diesel biturbo de 190 cv e câmbio automático de sete marchas.
Sim, é exatamente o mesmo conjunto da Nissan Frontier – e com os mesmos vícios. Logo percebo que este motor continua ruidoso e acusa o esforço para movimentar a picape. Culpa do câmbio, que retém as marchas mais do que deveria e é lento nas reduções. A tração 4×4 é acionada pelo seletor eletrônico no console.
A engenharia da Mercedes teve liberdade para retrabalhar as suspensões. Mantiveram o conjunto independente duplo A, na dianteira, e de eixo rígido com molas helicoidais e cinco pontos de apoio no chassi (5-link), na traseira. Mas toda a estrutura foi reforçada, e molas e amortecedores têm calibração voltada para o conforto. Por fim, ainda alargaram em 7 cm as bitolas dianteira e traseira.
A Classe X não saltita em irregularidades e merece elogio pelo compromisso entre estabilidade e conforto. Mesmo nas partes mais rápidas e sinuosas do percurso, a X250d inclina pouco e de forma controlada. Mas a direção, com assistência hidráulica, poderia ser melhor: falta precisão, embora seu peso seja adequado. E o volante só tem ajuste de altura – falta o de profundidade.
Mas a X250d não será a versão topo de linha. Acima dela haverá futuramente a X350d, com motor V6 3.0 turbodiesel de 258 cv e 56 mkgf de torque, combinado com o câmbio automatizado de dupla embreagem e sete marchas, o 7G-Tronic Plus. Ela só começa a ser vendida na Europa em meados de 2018.
Pude conhecê-la ainda na fase de protótipo de carona com Frankie Schumacher, chefe de desenvolvimento. Em estrada de asfalto liso, chama atenção como o V6 trabalha em silêncio e sua pronta entrega de força, além da agilidade do câmbio. Esta é a Classe X que tem visual, acabamento, equipamentos e desempenho de um Mercedes legítimo.
As principais concorrentes da X350d serão a VW Amarok V6, que desembarca nos próximos meses com motor V6 3.0 de 224 cv, e a RAM 2500, com seu enorme seis em linha 6.7 de 330 cv. E só. A briga da X250d mostrada aqui é com as versões mais caras de Ford Ranger, Toyota Hilux e Chevrolet S10, beirando os R$ 200.000. Nessa disputa, a estrela de três pontas será seu trunfo.
Veredicto
A Classe X é mais que uma Frontier em traje de gala. Tem boa dinâmica, acabamento acima da média e bons equipamentos. Mas o motor 2.3 não é suficiente para seus anseios.
Ficha técnica – Mercedes-Benz Classe X
Preço estimado no Brasil: R$ 200.000 (estimado)
Motor: diesel, dianteiro, longitudinal, 4 cilindros, 2.298 cm3; 16V, biturbo, 85 x 101,3 mm, 15,4:1, 190 cv a 3.750 rpm, 45,9 mkgf entre 1.500 e 2.500 rpm
Câmbio: automático 7 marchas, 4×4
Suspensão: duplo A (dianteiro) e eixo rígido 5-link (traseiro)
Freios: discos ventilados (dianteira e traseira)
Direção: hidráulica, 13,4 m (diâmetro de giro)
Rodas e pneus: liga leve, 255/60 R17
Dimensões: comprimento, 534 cm; largura, 192 cm; altura, 181,9 cm; entre-eixos, 315 cm; peso, 2.234 kg; capacidade de carga, 1.016 kg; tanque, 73 l
Desempenho*: 0 a 100 km/h em 11,8 s, velocidade máxima: 175 km/h
* Dados de fábrica