Mercedes-Benz C 300 Cabriolet: como uma estrela deve ser
Versão conversível do Classe C oferece quatro lugares com luxo e alta performance, mas acabamento sofre com o asfalto ruim
Atração da Mercedes no Salão do Automóvel de São Paulo no final do ano passado, finalmente, o C 300 Cabriolet deu o ar da graça para avaliação. O modelo é bonito e chama atenção. Confesso, porém, que caminhei em direção a ele meio ressabiado.
Como admirador da Mercedes de longos carnavais, tenho preconceito contra a atual estratégia da marca de ampliar seu portfolio entrando em segmentos onde nunca esteve antes, como se fosse uma marca generalista. Ela não é a única a fazer isso, diga-se.
Às vezes, não é preconceito, porque, chego à conclusão de que alguns modelos não mereciam a estrela de três pontas. Mas, no caso do C300, que é o primeiro conversível da história da Classe C, tenho de dar a mão à palmatória: ele me surpreendeu positivamente desde o começo.
O padrão de acabamento do C 300 Cabriolet é superior, como convém a um Mercedes. Ele oferece madeira escura no console, superfícies de alumínio no painel e nas laterais das portas e revestimento de bancos que imita couro.
Entre os equipamentos, há central multimídia, ar-condicionado dual zone, faróis full led e sete airbags, entre outros itens. O preço sugerido é de R$ 299.900. Ele é mais carro que o sedã C 300, vendido por R$ 249.900, e mais barato que o esportivo AMG C 43, oferecido por R$ 350.000. Seu principal rival, o BMW 430i parte de R$ 262.950.
Com a ajuda dos comandos elétricos, encontro rapidamente a melhor posição de dirigir. Além do ajuste de distância e altura do assento e de inclinação do encosto, o C 300 Cabriolet tem regulagem elétrica para o apoio lombar, para o extensor do assento e também para a posição do volante, ajustável em altura e profundidade.
O banco é naturalmente baixo. Apesar do C 300 dividir a plataforma com o Classe C, sua posição de dirigir é típica dos conversíveis da marca e não dos sedã. Logo me lembro do 500 SL, dos anos 90, o meu preferido dentro da linhagem dos SL.
O C 300 Cabriolet não é um roadster, como os SL: trata-se de um conversível de quatro lugares, mas me agradou mais do que o CLK, o roadster de dois lugares derivado do Classe C.
O Cabriolet me conquistou definitivamente com o seu motor. Não é o V8 de 326 cv do 500 SL. É um quatro cilindros 2.0 que graças à tecnologia entrega honrosos 245 cv e 37,7 mkgf. E, para completar, está conectado ao câmbio automático sequencial de nove marchas 9G-Tronic, enquanto o SL tinha uma caixa automática de 4 marchas.
Para ajudar, o C 300 Cabriolet é leve. Sua carroceria conta com uso intensivo de alumínio na estrutura e material composto em partes como capô, para-lamas e portas. Ele pesa 1.690 kg, enquanto o 500 SL pesava 1.770 kg. Analisando as relações peso/potência de ambos, verificamos que o SL tinha 5,4 kg/cv ante 6,9 kg/cv do C Cabriolet.
E comparando as performances, a vantagem do SL é bem pequena. Segundo os números de fábrica, o SL 500 acelerava de 0 a 100 km/h em 6,2 segundos enquanto o C 300 Cabrio faz o mesmo em 6,4 segundos. Em relação à velocidade máxima, ambos são limitados a 250 km/h.
Por meio do sistema Dynamic Select é possível escolher um modo de condução entre quatro: Eco, Comfort, Sport e Sport +, com mapas que modificam as respostas do motor e da direção e o funcionamento de sistemas como o ar-condicionado e o sistema start-stop (o ajuste desses dois últimos sistemas são importantes no modo econômico, principalmente).
Em geral, quando dirijo os sedãs da Mercedes prefiro optar pelo modo Comfort, principalmente na cidade, para evitar os ruídos e as vibrações decorrentes do motor mais arisco. Nesse C 300 Cabriolet, no entanto, não hesitei em selecionar o modo Sport Plus para desfrutar das acelerações rápidas, acompanhadas de um ronco discreto mas ainda assim estimulante do motor, e as respostas prontas da direção.
A suspensão não tem regulagens, mas cumpre seu papel com eficiência. Embora eu tenha queixa em relação à ela no que diz respeito ao barulho que produz ao passar pelas irregularidades do piso.
Se você é daqueles que presta atenção aos ruídos do carro, o C 300 Cabrio (e quase todo conversível europeu) pode te deixar de cabelos em pé, aliás. Além da suspensão, a unidade avaliada apresentava ruídos de acabamento originados em diferentes partes: bancos, capota.
A culpa não é da carroceria. Ela apresenta rigidez torcional exemplar. Mas o acabamento sofre em pisos mal conservados. Imaginei que ao rodar com a capota aberta, os ruídos se dissipariam, mas não foi isso o que aconteceu. E, pior, ao retirar o teto, ganhei o barulho externo do trânsito.
A capota é eficiente ao bloquear os ruídos externos bem como no isolamento térmico da cabine. E recolhe-la ao porta-malas não leva mais que 20 segundos, podendo ser acionada como o carro em movimento, rodando até 50 km/h segundo a fábrica.
Com o teto armado, a capacidade do porta-malas é de 360 litros e com o teto aberto o espaço cai para 285 litros. Como a capota não tem função estrutural, o Cabrio conta com barras de proteção, na parte traseira, com acionamento pirotécnico, que são acionadas na iminência de capotamento.
Seguro, confortável e gostoso de dirigir, o C 300 Cabriolet terminou a avaliação me convencendo ser merecedor da estrela de pontas, na grade dianteira. Mas ter um modelo tão delicado em um asfalto tão ruim como o nosso exige coragem.
Ficha Técnica – Mercedes-Benz C 300 Cabriolet
- Motor: 4 cilindros em linha, 1.991 cm3, turbo, 245 cv a 5.500 rpm, 37,7 mkgf a 1.300 rpm
- Transmissão: automático, nove marchas, tração traseira
- Rodas e pneus: 225/40 R19 (frente), 255/35 R19 (traseira)
- Dimensões: comprimento, 468 cm; largura, 201 cm; altura, 140 cm; porta-malas, 360 / 285 litros (com capota arriada); tanquel, 66 litros; peso, 1.690 kg
- Aceleração de 0 a 100 km/h: 6,4 s
- Velocidade máxima: 250 km/h