Land Rover Range Rover Vogue
Quarta geração não ousa no visual, mas apresenta um avanço tecnológico jamais visto em 40 anos
Se esta fosse uma revista de moda, uma das descrições possíveis ao Land Rover Range Rover Vogue seria “luxo da cabeça aos pés”. Como não é esse o nosso caso, cabe melhor um “luxo do teto aos pneus”. Não é exagero, pois poucos carros contam com tanto requinte no… teto. Toda a parte superior, incluindo as colunas, é forrada de couro legítimo, mesmo material encontrado nos bancos, volante, painel e compartimentos de objetos. Até a trava do cinto central traseiro é encapada com couro. Quando há contato de outras peças com a forração, a união é feita com Alcantara. Plástico é raridade. O teto solar de vidro abre-se na parte frontal e conta com uma tela retrátil de tecido que veda totalmente a passagem de luz. Os pneus também são exclusivos. Na medida 275/45 R21, são vendidos sob encomenda e encontrá-los não é tarefa fácil. Cada um custa mais de 3 000 reais. Dito isso, resta detalhar o que há entre o teto e os pneus.
Se fosse um trabalhador, o Vogue seria um mordomo imperial. Sua missão seria privar os patrões de qualquer esforço. Ele quase consegue fazer isso com o motorista, mas ainda é preciso acelerar e virar manualmente o volante. Com pouco trânsito e em estradas, o controle adaptativo de velocidade de cruzeiro (ACC) praticamente dirige sozinho. Basta programar a velocidade e ajustar a distância do carro da frente. O resto ele faz sozinho. Acelera e freia, seguindo o tráfego, respeitando a ordem do dono. O Vogue também avisa quando algum passageiro solta o cinto ou se esquece de prendê-lo, por meio da tela digital no centro do painel. Aliás, é a primeira vez que a Land Rover utiliza uma tela de alta resolução que substitui todos os mostradores analógicos.Velocímetro, conta-giros, nível de gasolina, dados do computador de bordo, acionamento da tração, tudo exibido numa tela de TFT como se fosse um computador. No centro do painel, outra tela é ainda mais completa e exibe as imagens das câmeras espalhadas ao redor do carro, permitindo a visão de todos os ângulos críticos ao manobrar ou atravessar passagens estreitas. O mesmo visor é usado para exibir filmes em DVD, acessar o sistema de som, ajustar a iluminação interna e comandar as funções do assento elétrico. Por último, a tela serve como monitor do sistema de tração, que informa ao motorista quando uma roda perde contato com o solo e indica a altura da suspensão. Todos os assentos contam com ajuste elétrico e aquecedor. Os da frente recebem ainda ventilador interno e massageador com cinco programas para motorista e passageiro. Quando um dos ocupantes não fecha a porta corretamente, um motor elétrico se encarrega de travá-la por inteiro – sem riscos de andar com um dos trincos solto.
À noite, o Range Rover de quarta geração dá um show de iluminação. Leds contornam os encaixes laterais da porta e do console, sinalizando as extremidades. Nenhum botão ou entrada eletrônica fica escondida. O descanso de braço central abriga uma pequena geladeira e as entradas auxiliares e USB do rádio. Ambas são iluminadas. É possível configurar a cor e a intensidade das luzes.
Automação
A tampa do porta-malas se abre em duas partes e ambas contam com motores elétricos. É possível abrir ou fechar por meio de controle remoto ou por botões localizados na porta. Na área do porta-malas, próximo da lanterna direita, um botão controla o rebatimento dos assentos traseiros. Quando, por exemplo, uma carga não cabe no bagageiro, não é necessário entrar na cabine e baixar o encosto. Isso pode ser feito do lado de fora do carro.
O Terrain Response é o nome do sistema pelo qual o usuário controla o gerenciamento eletrônico dos programas de tração. Até a geração anterior, era o motorista quem selecionava o terreno desejado e o carro fazia a adaptação do motor e da suspensão e o engate da tração necessária. O problema é que não necessariamente as pessoas sabem qual modo (urbano, lama, areia, pedras ou neve) é o mais adequado. Com isso, a geração atual do sistema analisa as condições de rodagem e automaticamente seleciona a melhor configuração. Sem intervenção do motorista, a eletrônica pode se encarregar de elevar a suspensão em até 75 mm, bloquear os eixos e até engatar a reduzida. Quem não tem familiaridade com sistemas 4×4 pode passar por trechos severos e nem tomar ciência de quais recursos foram utilizados pelo carro para enfrentar as dificuldades do terreno.
Feito para ser silencioso, o motor V8 5.0 sobre-alimentado trabalha em harmonia com a caixa de oito marchas da ZF. Impecável, é a mesma transmissão que equipa a picape Amarok e o Chrysler 300C. A 120 km/h, o motor gira a cerca de 1 500 rpm e nem mesmo o som do vento atrapalha conversas. Um dos truques para o silêncio está nos vidros laminados com isolante duplo nas portas.
A quarta geração do Vogue preserva o visual que o consagrou, mas, mesmo sem ousar na aparência, passou por uma reforma tecnológica sem precedentes. Além da eletrônica, a carroceria trocou o aço pelo alumínio para perder peso. De acordo com a Land Rover, a troca de materiais permitiu que a peça ficasse 180 kg mais leve que a anterior. No entanto, por causa do tamanho e equipamentos, não significa que o Vogue tem peso de miss. É um corpanzil de 2 360 kg, número ignorado pelos 510 cv do motor. Na pista, foi de 0 a 100 km/h em 5,5 segundos. Em frenagens, mostrou competência digna de cumprimentos da rainha, com números equivalentes aos de um Onix 1.0.
O novo Vogue é o primeiro projeto realizado sob tutela da indiana Tata, atual dona da marca. Ele representa o máximo em tecnologia e luxo disponíveis na casa, mas não em ousadia. Apesar de ter elementos de estilo emprestados do Evoque, encantar os olhares pelo visual arrebatador continua sendo tarefa do irmão menor.
DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
É uma das suspensões a ar mais eficientes do mercado, mas poderia ser mais firme no modo esportivo. O pedal de freio está ajustado para evitar trancos, então é preciso pressioná-lo com convicção para frear rápido.
★★★★★
MOTOR E CÂMBIO
Conjunto trabalha de forma exemplar, ignorando as mais de 2 toneladas do carro.
★★★★★
CARROCERIA
O grandalhão foi modernizado, mas não tem visual arrebatador, como o Evoque.
★★★★★
VIDA A BORDO
Feito para ser impecável, dá trabalho encontrar defeitos no interior. Os materiais são de alta qualidade e os comandos, acessíveis e fáceis de operar.
★★★★★
SEGURANÇA
Tem todos os auxiliares eletrônicos disponíveis na Land Rover, incluindo recursos de contenção no uso off-road – situação que pode colocar os ocupantes em risco. Merece mais de cinco estrelas.
★★★★★
SEU BOLSO
É caro e exclusivo mesmo no país de origem, a Inglaterra. Aqui, chega por somas proibitivas. Deve ultrapassar a casa dos 500000 reais.
★★★
OS RIVAIS BMW X6 xDrive 50i
Tem motor 4.4 V8, de 413 cv, e câmbio de oito velocidades. Como o Porsche, é voltado para uso urbano e rodoviário.
Porsche Cayenne turbo
Tem motor de 500 cv e esbarra nos 300 km/h. Apesar do 4×4, não tem a mesma vocação off-road que o britânico.
VEREDICTO
O Vogue surpreende por entregar mais do que se espera, e isso em um segmento cujas expectativas não poderiam ser mais elevadas. O RR é um clássico e um dos carros mais versáteis já produzidos. No entanto, nunca foi tão exclusivo.
>> Confira a Ficha Técnica do carro