Depois de seis anos produzindo o Huracán, a Lamborghini parece já saber exatamente o que seus clientes esperam do superesportivo: o máximo de potência, dinâmica apurada, tração traseira e até mesmo soluções que reduzam os eventuais custos de um dia de track-day, onde o carro precisará se sentir à vontade. Isso se traduz no Lamborghini Huracán Tecnica.
Quatro Rodas foi até a Califórnia, nos Estados Unidos, para conhecer esta nova versão, que soa como uma alternativa mais amistosa ao Huracán STO. A sigla significa “Super Trofeo Omologato”, literalmente uma versão do Huracán Super Trofeo usado na GT3 homologado para andar nas ruas. E andar por aí com um carro que nasceu para as pistas nunca é fácil, tampouco apreciado pela nossa coluna.
O Huracán Tecnica não tem as mesmas soluções aerodinâmicas para aumentar o downforce em alta velocidade, nem abre mão de equipamentos, como a central multimídia, para reduzir o peso total. Mas a mecânica é a mesma: o V10 5.2 aspirado gerando 640 cv a 8.500 rpm e 57,6 kgfm a 6.500 rpm. O câmbio é o Lamborghini Doppia Frizione, de dupla embreagem com sete marchas e a tração é sempre traseira.
O aprendizado do STO foi usado para aumentar o downforce em até 35% sem precisar de um aerofólio tão grande, ao mesmo tempo que o arrasto aerodinâmico foi reduzido em 20%.
É um ganho que vem, também, de novos elementos de design, como o para-choque frontal 6 cm mais pronunciado e com recortes que unem faróis e as novas tomadas de ar laterais. Também tem novo divisor dianteiro, com lâminas abertas mais baixas direcionando o ar para baixo, para-choque traseiro que otimiza o fluxo de ar e saídas de escape hexagonais.
A parte inferior do Tecnica também é otimizada com novos defletores aerodinâmicos para melhorar a eficiência e direcionar o fluxo de ar para os locais certos para ter outros benefícios, com um sistema de freios com temperatura melhor controlada. A redução na temperatura do sistema chega a 7%, com o fluido trabalhando 9% mais frio. Assim a frenagem melhora 5% e, a vida útil das pastilhas, aumenta 13%, de acordo com a fabricante.
Isso entra, justamente, no custo relacionado a usar um Lamborghini Huracán no limite. Essa preocupação se estende aos pneus, Bridgestone Potenza Sport, que além do foco na precisão da direção e do conforto de rodagem, suporta melhor seu uso no limite.
A cabine ajuda a manter o clima de carro de pista, com bancos esportivos de fibra de carbono e ajuste de altura/inclinação, revestimentos de Alcantara por todo lado e fibra de carbono nos detalhes. Inclusive, os painéis das portas podem ser de fibra de carbono, como no STO.
O quadro de instrumentos digital também ganha interface otimizada para o uso em pista, destacando conta-giros, marcha, indicador de trocas e até a temperatura dos freios. Isso, sem deixar de lado a central multimídia vertical com Apple CarPlay, Android Auto e até Amazon Alexa.
Curioso, pelo menos para um novato entre os Lamborghini, é acionar setas e limpadores em botões no volante, pois não há qualquer haste atrás dele. Todo o espaço é dedicado ao manuseio das enormes borboletas de alumínio para as trocas de marcha sequenciais.
Amistoso até a página dois
Para experimentar entender toda essa teoria, só mesmo na prática. Nosso contato com o Lamborghini Huracán Tecnica é no The Thermal Club, na região de Palm Springs, Califórnia. É um clube para apaixonados por carro. Há três pistas disponíveis para os condôminos ou empresas que alugam grandes garagens e oficinas. É o local ideal para um colecionador manter seus carros em uma estrutura próxima de casa, pois grandes mansões podem ser construídas às margens das pistas – com direito a janelas com vista privilegiada. Ninguém ali vai reclamar do ronco.
Ainda bem, porque os V10 rugem alto. Para cada Huracán Tecnica há um STO pilotado por instrutor da Lamborghini para imprimir o ritmo e o traçado adequado, mas sem limitar quem está atrás. Até porque, por mais que os dois tenham a mesma mecânica, o STO promete um 0 a 100 km/h em 3 segundos, e o Tecnica cumpre o mesmo em 3,2 s.
A cada bateria com pelo menos cinco voltas experimentei cada um dos modos de condução, que a fabricante italiana chama de sistema LDVI (Lamborghini Dinamica Veicolo Integrata). É bem nítido como cada modo, Strada, Sport e Corsa, garante uma personalidade diferente ao carro.
Começo pelo modo Strada, com trocas de marcha mais confortáveis, a suspensão, que tem tem acerto exclusivo para a versão, proporcionando um rodar até suave, graças aos amortecedores magnéticos, e o pedal em um nível de reação normal.
Sendo franco, só percebi como estava sendo bem tratado ao avançar ao modo Sport. Aqui o sistema de controle de tração começa a intervir menos, o sistema de vetorização do torque começa a atuar mais e, já acostumado com o traçado começo a ganhar coragem para explorar os benefícios do sistema de esterçamento das rodas traseiras.
É quando você percebe que o que faz um superesportivo não é a potência ou pelo ronco grave ecoando do escape, como muitos imaginam.
A mágica vem da leveza, da rigidez do carro que faz aumentar a sensação de precisão que você sente no volante e nos pedais, seja pela pronta resposta do acelerador ou pelas reações consistentes do freio. Uma eventual escapada de traseira dominada no contraesterço é o auge da diversão proporcionada pelo Tecnica.
Toda a confiança construída até aqui seria posta à prova na terceira entrada na pista, agora no modo Corsa. Agora eu e o carro somos unha e carne. O câmbio passa a ser minha responsabilidade e as trocas ficam ainda mais rápidas e explosivas, a resposta do acelerador é quase telepática e o carro se condiciona a entregar a máxima aderência.
Há necessidade de máxima atenção. O Huracán fica arisco, o giro do motor sobe rápido, o momento para troca ideal é curto. Antecipar a aceleração na saída da curva passa a ser mais arriscado. É impressionante como o motor e o câmbio aceitam reduções e como não há qualquer intenção de poupar o piloto de trancos a cada troca de marcha.
Minutos depois, o ronco, a vibração e a precisão do carro me entorpecem. O Huracán STO à minha frente se torna um fantasma a ser alcançado.
Galeria de Fotos – Lamborghini Huracán Tecnica
Ele me prega a peça na saída de uma curva, quando chamo o motor cedo demais (basicamente, com o volante ainda muito esterçado) e ele entrega força prontamente. A traseira escapa, mas com o ímpeto de um touro bravo que não aceita ser controlado e me faz girar em meu eixo ao fazer o contraesterço. Faz parte da busca pelos limites do carro. Não saí da pista, o carro não sofreu nada. Mas aquela confiança se esvai quando você se sente o Mazepin.
Isso, por outro lado, só reforça como o Lamborghini Huracán Tecnica consegue se transformar. Vai do cenário mais confortável ao mais instigante por meio de uma simples chave na base do volante. E ele logo poderá mostrar essas três personalidades nas ruas brasileiras. Se o Huracán STO supera os R$ 6,5 milhões, é possível estimar que o Tecnica custará cerca de R$ 6 milhões quando chegar, em 2023.
Ficha técnica – Lamborghini Huracán Tecnica
- Motor: gasolina, central, long., 10 cil., 40V, 5.204 cm³, 640 cv a 8.000 rpm, 57,6 kgfm a 6.500 rpm
- Câmbio: .automatizado, dupla embreagem, 7 marchas, tração traseira
- Suspensão: ind. braços sobrepostos (diant. e tras.)
- Freios: discos carbono-cerâmicos ventilados
- Direção: elétrica, 10,9 (diâmetro de giro)
- Pneus: 245/30 R20 (diant.), 305/30 R20 (tras.)
- Dimensões: comprimento, 456,7 cm; largura, 193,3 cm; altura, 116,5 cm; entre-eixos, 262 cm; vão livre do solo; porta-malas, 100 l; tanque de combustível, 80 l Peso, 1.397 kg