Eles estão por aí há décadas. Os pequenos caminhões sul-coreanos Kia Bongo e Hyundai HR, foram ganhando espaço no mercado brasileiro pouco a pouco e hoje são comuns no trânsito. Na verdade, quase insubstituíveis.
São caminhões com motor turbodiesel, mas pequenos e com boa capacidade de carga. Além disso, não enfrentam as restrições de circulação impostas a caminhões maiores nos grandes centros urbanos. E certamente suas vendas foram impulsionadas pelo fim da VW Kombi, há 10 anos. Mas como é dirigir um caminhãozinho desses?
Provavelmente só eu tinha essa curiosidade, é verdade. Não havia momento melhor: o Kia Bongo passou por atualizações em 2023 que implicaram até na adoção de tração 4×4 de série, junto com alguns novos equipamentos – que são banais em automóveis.
Como as Kombi, a maioria dos Kia Bongo nas ruas são brancos e todos têm lista de equipamentos extremamente limitada. Agora um pouco menos: o novo quadro de instrumentos tem computador de bordo, comandado por botões no volante inéditos. Também ganhou entrada de áudio auxiliar e uma tomada USB, mas são decorativos: se não tem rádio, simplesmente não funcionam.
Os retrovisores não são elétricos, nem sequer têm comandos internos para ajuste, mas têm uma lente para aumentar a visão da lateral em manobras. Não há retrovisor interno, nem sequer uma aba para prender o documento no parassol.
Os luxos são os vidros elétricos, a direção hidráulica, a chave canivete com telecomando e o vinil nos bancos – que ficam quentes como na Kombi.
Bastaria dizer que este é o primeiro veículo, em muitos anos, que recebemos sem ar-condicionado. É o único opcional e aumenta o preço do Bongo em R$ 7.000, de R$ 174.990 para R$ 181.990.
O motor turbodiesel sempre acompanhou o Kia Bongo no Brasil e, como nas antigas Besta, está instalado sob os bancos. O acesso a ele ainda é feito levantando o assento do carona. Hoje, é um 2.5 turbo com 130,5 cv e 26 kgfm disponíveis a 1.250 rpm.
O câmbio é manual de seis marchas e a tração 4×4, ainda que seja uma novidade, é acionada por uma caixa de transferência mecânica em outra alavanca. Pode ser usada a até 80 km/h, enquanto a reduzida só pode ser usada a até 40 km/h e só pode ser engatada com o veículo parado.
A coisa mais eletrônica na mecânica é a injeção common-rail do motor que, inclusive, foi atualizada para que pudesse respeitar as novas regras de emissões. Inclusive a tração 4×4 foi adotada para driblar as exigências do Proconve L7, mais tolerante a veículos com tração nas quatro rodas.
Este é um veículo que claramente foi concebido para ter sua capacidade de carga de 1.812 kg (80% mais que a média das picapes diesel) colocada à prova. Mas com o baú de 9,3 m³ vazio, se transforma em um veículo saltitante.
A dianteira, especialmente, é muito macia e faz a frente se movimentar bastante na vertical. A depender da ondulação do asfalto, os passageiros poderão experimentar a sensação de gravidade zero descolando dos seus assentos por alguns instantes. Pelo menos o motorista pode se agarrar ao volante.
De toda forma, deu para entender a agilidade dos Kia Bongo no trânsito. O câmbio de seis marchas tem as relações muito próximas entre si, justamente para poder lidar melhor com o peso. Por isso ganha velocidade relativamente rápido e o motor precisa trabalhar em rotações altas na estrada, onde o fôlego é limitado pela potência. Por mais que a cabine fique sobre o motor, o ruído dentro da cabine não é muito alto.
A direção hidráulica, surpreendentemente, não compromete a estabilidade. Mas é uma experiência diferente sentir o carro virando enquanto você está sentado à frente do eixo dianteiro. E vira muito bem: o diâmetro de giro pouco acima dos 9 metros é equivalente ao de um carro compacto. E há outro ponto importante: não exige CNH de caminhão.
Na prática, o Kia Bongo tem desenvoltura de carro pequeno, a força de um motor turbodiesel e mais capacidade de carga do que as picapes médias, que custam, bem mais caro. Mas o ar-condicionado deveria ser equipamento de série.
Ficha Técnica – Kia Bongo 4×4
Motor: diesel, dianteiro, longitudinal, 4 cil, 16V, 2.499 cm3; 130,5 cv a 3.800 rpm, 26 kgfm a 1.250 rpm
Câmbio: manual, 6 marchas, tração 4×4 sob demanda com reduzida
Direção: hidráulica
Suspensão: independente com barra de torção (diant.) eixo rígido (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), tambor (tras.)
Pneus: 195 R15
Peso: 1.664 kg
Dimensões: comprimento, 4,82 m; largura, 1,74 m; altura, 2,10 m; entre-eixos, 2,41 m; tanque, 60 l; capacidade de carga, 1.811 kg