O luxo não está apenas em ter, mas também em fazer; e é justamente o que você pode fazer a bordo da Jeep Gladiator que a torna a segunda picape mais cara do Brasil atrás da Ram 3500. A caminhonete do Wrangler chega ao Brasil (inicialmente) apenas na versão topo de linha Rubicon, por R$ 499.990; mesmo assim, a Jeep espera vender mais de 600 unidades só nos próximos quatro meses.
À primeira vista, a Gladiator parece simplesmente um Wrangler com caçamba, e na prática é isso mesmo. O compartimento de cargas, entretanto, abre possibilidade de levar ainda mais coisas ao meio do mato, incluindo motos e equipamentos mais volumosos. Sua capacidade de carga, entretanto, é de 674 kg: mais do que suficiente para um passeio, mas abaixo do mínimo para uma picape a diesel.
Isso não significa, porém, que o conjunto abre mão da robustez: além de eixos rígidos Dana 44 à frente e atrás, a Gladiator utiliza apoios do tipo five-link, que garantem boa amarração junto às molas helicoidais sem que haja prejuízo da robustez. Amortecedores FOX completam o kit de série, que pode ser incrementado com acessórios.
Foco no que interessa
Desse modo, a Jeep trouxe ao Brasil o motor bem conhecido V6 3.6 Pentastar, de 284 cv e 35,4 kgfm, com transmissão automática de oito marchas. É uma bola segura: ao mesmo tempo que não faz feio, tem manutenção barata e funcionamento confiável. Os engenheiros da marca garantem que ele seguirá utilizado por mais alguns anos, inclusive na próxima fase do Proconve.
Na estrada, fora de seu hábitat, a Jeep Gladiator passa longe de ser um foguete, mas também não é lerda. Como a suspensão foi ajustada para uma capacidade menor de carga, a caminhonete balança muito menos que seus pares do segmento — o que, somado à posição bem alta do motorista, torna a condução bem confortável e divertida.
Aspirado, o Pentastar sofre um pouquinho em ultrapassagens e está sempre em rotações elevadas para movimentar os 2.261 kg da Gladiator. Isso explica as médias de 6,5 km/l na cidade e 7,4 km/l na estrada, divulgadas pela fabricante e sempre com gasolina. Ainda que haja isolamento acústico no capô, a falta de melhor isolamento nas portas também torna a cabine mais barulhenta do que seria o ideal.
Picape desmontável
Esse isolamento menor tem a ver com uma das funções mais interessantes da Gladiator, que pode se “despir” completamente de teto, portas e até para-brisa. A parte de cima sai em segundos, girando algumas travas e tirando as quatro partes que compõem o teto. As portas levam alguns minutos mas é um processo pouco complexo: basta usar as chaves sextavadas que vêm de série para remover os parafusos, além de desconectar os chicotes elétricos.
O ideal é que o condutor faça isso em casa, já que as partes da picape acabariam danificadas na caçamba. A Jeep afirma não haver problemas com o CTB em rodar assim, mas o para-brisa não deve ser rebatido na rua. Em viagens rápidas no mato, ele também é proteção crucial contra pedrinhas e insetos que se espatifam no vidro o tempo todo.
Com uma boa paisagem escolhida, a experiência de liberdade provocada pela ausência de portas e teto pode ser emocionante e memorável. Para quem faz questão de trilha sonora, a marca transferiu as caixas de som laterais para a estrutura de proteção contra capotamentos, de modo que as nove caixas de som Hi-Fi seguem à disposição. Uma delas ainda pode ser removida e usada em qualquer lugar como caixinha de som bluetooth.
Proteção contra a natureza
É natural que um passeio desprotegido suje bastante o interior da Gladiator, mas todos os materiais usados alinham forma e função. O painel é quase todo em plástico, mas de qualidade elevada que não destoa de um veículo de luxo; as entradas USB são cobertas por uma tampa de proteção e todos os botões têm frestas reduzidas, tornando mais difícil a entrada de poeira.
Em termos de telas, a Gladiator mantém estilo clássico de quem carrega a icônica dianteira da Jeep: o quadro de instrumentos tem mostradores analógicos e computador de bordo de 7’’ do Compass; a central multimídia é de 8,4’’, igual à do Renegade. Suas funções, entretanto, incluem giroscópios, monitoramento de funções mecânicas e outros auxílios off-road.
Fácil, mas para poucos
Auxílio off-road, na verdade, é algo que não falta na Gladiator, que obviamente é equipada com tração 4×4 e modo que ajusta o conjunto do veículo conforme o terreno. Um deles, por exemplo, é feito para andar velozmente em terrenos de baixo atrito, como pisos de areia.
A coisa começa a ficar mais bruta na reduzida, com relação 4:1, que gera uma crawl ratio de 77:1. Quem é jipeiro sabe o quanto isso representa, mas, em termos gerais, a crawl ratio representa o quão capaz um automóvel é capaz de subir obstáculos. Com 77 giros no motor para cada giro nos eixos Dana 44, a Gladiator tem mais que o dobro de multiplicação que qualquer outra caminhonete média do Brasil.
Um dos testes feitos ao volante incluíam mergulhar e sair de um grande buraco de uma elevação rochosa na Paraíba, onde a picape foi dirigida. A entrada na vala era feita em um pequeno caminho com quedas de ambos os lados, mas uma câmera frontal projetava onde as rodas deveriam passar, resolvendo o primeiro problema. Aos mais ansiosos, também seria possível ativar o assistente de descida, que cuidaria de frear e acelerar o carro enquanto o motorista só esterça.
Uma vez no “fundo do poço”, a Gladiator mostrou as virtudes do seus 27 cm de vão livre e 76 cm de submersão, que lidaram tranquilamente com a água. Com fundo não apenas acidentado mas sujo de lodo, foi a hora de realizar o bloqueio dos diferenciais dianteiro e traseiro e de desconectar a barra estabilizadora dianteira.
Essa desconexão amplia o curso da suspensão dianteira em 30%, dando maior liberdade para as rodas da frente estarem sempre ao chão. Feito isso, bastava aproveitar os 43º de ângulo de ataque para escalar o paredão e sair tranquilamente da vala, com a facilidade quem passava por uma lombada na rua.
É facilidade que contrasta com o preço de R$ 499.990. Mesmo assim, a Jeep crê que mais de 600 unidades da Gladiator serão vendidas até o final de 2022. Com “espírito” alheio ao mundo country, a Stellantis duvida que haverá concorrência com as caminhonetes da Ram. Além disso, cada concessionária da Jeep no Brasil focará em 30 clientes potenciais, a fim de buscar mais um sucesso onde marcas como a Ford e seu Bronco não viram potencial.