O mais novo veículo do Exército Brasileiro é um modelo capaz de fazer qualquer jipeiro feliz. Nós dirigimos o LMV (Light Multirole Vehicle ou Veículo Leve Multitarefas), também conhecido como IDV Guaicuru, e estamos certos disso.
Nosso test-drive ocorreu no campo de provas da Iveco Defense (IDV), fabricante do veículo, que fica em Sete Lagoas (MG).
Na terra, a impressão é de que nada pode detê-lo. O motor turbodiesel 3.0 de 220 cv tem força suficiente para empurrar as 8 toneladas do carro (blindado) e encarar os obstáculos das trilhas com valentia.
A tração é 4×4 permanente e o câmbio é automático de oito marchas. Sua suspensão independente nas quatro rodas mantém os pneus off-road (335/80 R20) o tempo todo em contato com o piso.
E graças à precisão da direção hidráulica é o motorista quem dá as ordens ao definir a trajetória.
A geometria de suspensão é excelente: 54 graus no ângulo de entrada, 44 graus no ângulo de saída e vão livre de 40 cm. Tem capacidade de submersão de 85 cm (encobre os pneus) e chegando a 1,5 m (até o capô), com snorkel.
A dirigibilidade é típica de veículo off-road raiz: ótima na terra, sofrível no asfalto. A altura, o peso e os pneus run-flat não encorajam velocidades acima de 60 km/h nas curvas.
Mesmo nas de raio longo, a carroceria oscila bastante. Não há conforto: os ocupantes percebem cada pedrisco nas trilhas e ranhura no asfalto.
E o nível de ruído interno (vindo dos pneus, do motor e da transmissão) é mais elevado do que em qualquer SUV do mercado. Há atenuantes de comodidade como o comportamento da direção (hidráulica) comparável aos dos jipes civis e ar-condicionado, que é item de série.
No asfalto, o que mais impressionou durante nossa avaliação foi a eficiência dos freios (hidropneumáticos). Vindo a 90 km/h, realizamos uma frenagem de emergência e o jipe simplesmente estancou.
Mesmo estando acostumado a esse tipo de situação, em que ocorre desaceleração brusca, não consegui manter minhas costas apoiadas no banco.
A Iveco não informou a velocidade máxima – assim como fez com quase todas as especificações técnicas, tratadas como sigilosas pelo Exército Brasileiro. Por isso, ela também não autorizou fotos internas e do motor.
As duas imagens da cabine mostradas aqui são material de divulgação da fábrica e pertencem a uma versão genérica do LMV.
Voltando à velocidade, quando atingimos 90 km/h na pista de testes, a impressão era de que o limite máximo estava próximo, porque a aceleração já perdia vigor.
Apesar de ter tudo para agradar um jipeiro, as diferenças do Iveco para um jipe civil estão por toda parte.
Começa pelas dimensões: 4,86 m de comprimento, 2,20 de largura, 2,10 de altura e 3,23 de distância entre-eixos – enquanto o Troller T4 mede respectivamente 4,10; 1,87; 1,97; 2,86.
Para entrar, é preciso força para destravar e puxar a pesada porta blindada (nível 2, norma STANAG-Otan), que suporta tiros calibre 7,62.
Partida em três etapas
O posto do motorista é apertado. O banco tem ajuste apenas em distância e o volante é ajustável só em profundidade. O cinto de segurança de cinco pontos torna a posição de dirigir ainda mais claustrofóbica.
Para dar a partida, é necessário seguir um roteiro de três etapas. A primeira, ligar a bateria, é dividida em duas fases porque o botão usado para isso fica coberto por uma trava. Para apertar o botão é necessário levantar a trava antes.
Ligada a bateria, é preciso energizar os sistemas do carro (são acionadas as bombas diversas e o sistema de arrefecimento). Para tanto, existe outro botão que deve ser apertado (esse sem trava).
Só depois disso é que se pode apertar o botão da partida.
O volante é simples: com três raios e sem airbag. O painel traz o essencial. No centro, há velocímetro e conta-giros. No alto, indicadores de ângulos de inclinação longitudinal e lateral.
Todos os mostradores são pequenos. Ao lado direito do motorista, há um console carregado de botões on/off dos diferentes sistemas.
Além das chaves usadas para dar a partida, há o controle da calibragem de pneus (que podem ser enchidos ou esvaziados de acordo com a necessidade de utilização), a iluminação externa (no modo civil, as luzes acendem normalmente; no modo militar, há apenas pequenos pontos de luz, para evitar que o jipe seja visto) e o sistema de rádio.
O LMV é um veículo construído sobre chassi que pode ter diferentes configurações de carroceria.
No caso da versão-padrão mostrada aqui (com compartimentos para motor, cinco ocupantes e bagagem), além da blindagem nas laterais (chapas e vidros) e no teto, há proteção contra minas, no piso da cabine.
E, na parte inferior, tudo foi desenvolvido para absorver ou desviar a energia de uma explosão, evitando que se convertam em projéteis secundários. O tanque de combustível foi preenchido de espuma para proteção contra explosivos.
O LMV foi o vencedor da concorrência aberta pelo Exército Brasileiro, que fechou um contrato estimado em R$ 1,4 bilhão que prevê a entrega de 420 unidades de uma versão atualizada do Guaicuru ao longo de 10 anos, a partir de 2026. O preço de cada unidade ficará ao redor de R$ 3 milhões.
A Iveco já pensou em produzir uma versão civil do LMV, como a GM fez com o Hummer H1, jipe militar dos anos 90, que caiu no gosto do público americano. Sem a blindagem e os recursos de uso militar, o brasileiríssimo LMV teria um preço bem menor. Mas, ao menos por enquanto, esse plano é apenas uma possibilidade remota.
Veredicto
Com capacidade fora de estrada impressionante, o Iveco LMV poderia fazer um jipeiro feliz, mas é no campo de batalha que ele se sente mais à vontade.
FICHA TÉCNICA – Iveco Guaicuru
- Motor: diesel, dianteiro, 3.0, 220 cv
- Câmbio: automático, 8 marchas, tração 4×4
- Suspensão: independente nas quatro rodas
- Freios: disco nas quatro rodas
- Direção: hidráulica, diâmetro de giro, 14,3 m
- Rodas e pneus: 335/80 R20
- Dimensões: comprimento, 486 cm; largura, 220 cm; altura, 210 cm; entre-eixos, 323 cm; peso, 8 ton.,
- Off-road: vão livre do solo, 40 cm; ângulo de ataque, 54 graus; ângulo de saída, 44 graus; capacidade máxima de rampa, 60%