Ser líder não é fácil. De repente você vira o centro das atenções e o exemplo a ser seguido (e derrubado) pela concorrência. Essa é a vida do Corolla nos últimos anos. Assim como em vários países, o sedã faz sucesso no Brasil, onde resiste bravamente à chegada de rivais mais modernos em design e conteúdo.
Disposta a sustentar a posição pelos próximos anos, a Toyota lançará uma reestilização em abril, já como linha 2018. Mas nós não quisemos esperar até lá para conhecê-la melhor, e fomos até a Cidade do Cabo, na África do Sul, experimentar as mudanças.
O facelift reproduzirá as formas do modelo lançado poucos meses atrás em vários mercados, como a África do Sul – onde dirigimos o novo Corolla. Se você não notou muitas diferenças em relação ao carro lançado em 2014, a culpa não é sua: as mudanças foram realmente discretas.
A maioria delas ocorreu na dianteira: os faróis têm novo formato e leds em todas as versões, a grade ficou mais estreita e os para-choques ganharam tomadas de ar mais agressivas, lembrando vagamente o visual do VW Golf GTI.
Atrás, as lanternas possuem uma seção translúcida, sendo que as versões XEi e Altis devem trazer leds. O desenho das rodas também é novo, com conjuntos de 16 polegadas nas versões mais baratas e aro 17 na configuração Altis.
A cabine não traz grandes novidades: as saídas de ar laterais foram trocadas por peças redondas, a qualidade do acabamento evoluiu e o quadro de instrumentos ganhou um visor colorido.
Uma novidade que pode pintar no nosso Corolla é a nova central multimídia Toyota Touch 2, uma tela de 7 polegadas sensível ao toque com funções como comandos de voz e informações do trânsito em tempo real. Ainda não foi desta vez, porém, que o sistema terá suporte a Apple CarPlay e Android Auto. E o reloginho digital ainda está lá, mas desceu das entradas de ar para o console central.
A notícia mais importante de todas, no entanto, não está no visual, e sim na segurança: o Corolla, enfim, sairá de fábrica com controles de estabilidade (ESP) e de tração em todas as versões, além de sete airbags e assistente de rampas – tudo de série.
O Corolla poderia recuperar ainda mais o tempo perdido se oferecesse outros equipamentos presentes no sedã europeu. Um dos sistemas mais importantes é o alerta de colisão com detecção de pedestres, que emite sinais audiovisuais antes do impacto e aciona os freios para evitar ou minimizar os danos da batida.
Outros recursos do modelo vendido na Europa são o alerta de mudança de faixa com correção autônoma da direção, faróis com regulagem automática dos fachos de luz (alterando a intensidade de acordo com as condições do ambiente ou se outro carro surgir no sentido oposto) e assistente de leitura de placas. Infelizmente, nenhum deles será vendido aqui nem sequer como opcional.
Uma fonte ligada à fábrica explica a razão de os Corolla vendidos na África e na América do Sul não terem tantas assistências eletrônicas. Segundo ele, o motivo é o mesmo: a dificuldade em achar fornecedores capacitados para produzir os componentes localmente a um custo razoável. Importar as peças deixaria o Corolla ainda mais caro do que já é. Essa razão justifica o fato de apenas o Cruze (que é feito na Argentina) ter esses itens entre os sedãs médios no Brasil.
Por se tratar de uma reestilização de meia-vida, a Toyota não mexeu na mecânica. Sendo assim, permanecem em linha os motores flex 1.8 16V (144 cv e 18,6 mkgf) e 2.0 16V (154 cv e 20,7 mkgf), ambos associados à transmissão continuamente variável (CVT) simulando sete marchas.
Foi o Corolla 1.8 na versão intermediária sul-africana Prestige que dirigimos pelo bairro de Athlone, na região leste de Cidade do Cabo. A ausência da tecnologia flex é a única diferença mecânica em relação ao nosso Corolla GLi, única versão brasileira com as mesmas especificações de motor/câmbio do modelo sul-africano.
Como é de praxe em um Corolla, o conjunto mecânico prima pela suavidade em vez da esportividade. O motor 1.8 responde bem, e a caixa CVT atua de forma eficiente, mas sem despertar fortes emoções.
A Toyota fez alterações importantes na suspensão do Corolla africano, que podem ser adotadas no Brasil. Além de novos amortecedores de maior diâmetro, o sedã ganhou buchas adicionais na traseira, que usa o sistema de eixo de torção. As mudanças melhoraram o conforto ao guiar, filtrando melhor as irregularidades do solo e fazendo a carroceria inclinar menos nas curvas.
A qualidade de montagem também segue o padrão de qualidade aplicado no Brasil (e em várias partes do mundo), com peças simples, mas sem vãos e bem encaixadas.
Todos contra o líder
Apesar de sutil, a reestilização do Corolla dará fôlego extra ao campeão de vendas dos sedãs médios. Em 2016, ele vendeu mais do que seus sete principais concorrentes juntos: foram 64.738 unidades emplacadas, contra 61.703 veículos das marcas rivais, segundo dados da Fenabrave. A má notícia: essa alteração vem acompanhada de um considerável reajuste nos preços.
O carro será oferecido em quatro versões: GLi com motor 1.8 (R$ 90.990), XEi 2.0 (R$ 99.990), a versão esportivada XRS 2.0, que retorna ao mercado (R$ 108.990) e a topo de linha Altis 2.0 (R$ 114.990), todos com câmbio CVT. Isso indica um aumento médio de R$ 3 mil sobre os valores anteriormente aplicados.
Seja qual for a estratégia, só o tempo dirá se o Corolla seguirá no topo até a chegada da 12ª geração, prevista para 2020. Fontes ligadas à marca dizem que, além de ser todo novo, o carro terá só motores híbridos, inclusive no Brasil. Se isso realmente ocorrer, o adjetivo “novo” fará realmente sentido para o Corolla.
Ficha técnica – Toyota Corolla 1.8 Prestige
- Motor: gas., diant., transv., 4 cil., 1.798 cm3, 16V, 140 cv a 6.400 rpm, 17,6 mkgf a 4.000 rpm
- Câmbio: automático, CVT, tração diant.
- Suspensão: McPherson(diant.)/ eixo de torção (tras.)
- Freios: discos vent. (diant.)/sólido (tras.)
- Direção: elétrica
- Rodas e pneus: 205/55 R16
- Dimensões: comp., 462 cm; largura, 177,5 cm; altura, 147,5 cm; entre-eixos, 270 cm; peso, 1.305 kg; tanque, 55 l; porta-malas, 470 l
- Itens de série: ESP, controle de tração, 5 airbags, ar-condicionado, assistente de partida em rampas
- Preço: 349.400 rands (R$ 81.515)