A decisão de manter o modelo antigo em linha mesmo com o lançamento da nova geração ou reestilização não é algo novo na indústria automotiva. Essa prática existe faz tempo e há casos curiosos, no Brasil, como o do Hyundai Tucson, que, em 2018, teve a primeira, segunda e terceira gerações vendidas ao mesmo tempo, com nomes diferentes: Tucson, ix35 e New Tucson.
Ao que tudo indica, a prática dá resultado, porque a própria Hyundai lançou mão novamente dessa estratégia ao preservar em linha a versão antiga do SUV Creta, após o lançamento da nova profundamente reestilizada, em agosto de 2021.
O Hyundai Creta Action 1.6 é a versão de entrada e traz o visual do modelo antigo acompanhado da motorização 1.6 16V que rende até 130 cv e 16,5 kgfm – a mesma que equipava o HB20 e o HB20S e que foi descontinuada. Essa versão é a única que ainda preserva esse motor e a marca garante que ele atende aos requisitos do Proconve (Programa de Controle de Emissões Veiculares), que ficaram mais rigorosos em 2022.
O motor é combinado com o câmbio automático de seis marchas e esse conjunto mecânico cravou em nossa pista exatos 12,7 segundos no teste de 0 a 100 km/h – o mesmo desempenho do Nissan Kicks também equipado com motor 1.6 aspirado, mas menos potente: oferece até 113 cv.
Não é um desempenho satisfatório, pois o Kicks foi o mais lento em um comparativo com oito SUVs publicado recentemente. Mas o novo Creta equipado com o motor 1.0 turbo (120 cv/17,5 kgfm) não foi tão mais rápido na nossa pista. Ele acelerou de 0 a 100 km/h em 11,3 segundos. E as retomadas de ambos os Creta são bem próximas.
Porém, é no consumo que o novo supera o antigo com folga. Enquanto o Creta Action faz apenas 10,4 km/l na cidade e 13,5 km/l na estrada, o novo SUV tem médias de 11,5 km/l e 14,4 km/l, respectivamente.
A dinâmica ao volante é satisfatória, pois o conjunto de suspensão cumpre bem o seu papel e privilegia o conforto, como é comum nesse segmento. A ergonomia também é privilegiada graças aos ajustes de altura e profundidade do volante e ao acerto de altura do banco.
O desempenho no dia a dia na rodagem urbana é eficaz, porém ele deixa a desejar na estrada. O máximo de torque só é entregue aos 4.500 rpm, o que traz morosidade, em especial, nas ultrapassagens, a partir de uma velocidade de cruzeiro. O Creta 1.0 turbo tem todo o torque presente aos 1.500 giros, proporcionando agilidade nessas situações.
Outro ponto perceptível é uma relação conflituosa entre motor e câmbio. Pisando fundo no acelerador (quick down), a transmissão demora a reconhecer a necessidade de reduzir a marcha e depois demora a avançar, fazendo com que o motor trabalhe em rotação alta, o que aumenta o consumo de combustível. Mas em uma condução com acelerações progressivas, o comportamento da transmissão é suave e agradável – e é essa a condução esperada de um dono de SUV.
O Creta de entrada tem como trunfo um bom pacote de equipamentos, que inclui controle de estabilidade e tração, sinalização de frenagem de emergência, assistente de partida em rampa, alarme, airbag duplo, monitoramento de pressão dos pneus e piloto automático.
Porém, em conectividade ele deixa a desejar. Essa versão Action não traz central multimídia. Há apenas um rádio AM/FM com conexão Bluetooth, portanto há ausência de todas as comodidades de uma multimídia como espelhamento com smartphones.
Se essa falta pode ser compensada, o acabamento tem qualidade com peças bem encaixadas e sem rebarbas, apesar do predomínio do plástico rígido. Os assentos também são confortáveis, com espuma de boa densidade, e os grafismos são atraentes.
O espaço interno não deixa a desejar, mas o espaço para pernas e ombros dos passageiros traseiros é inferior ao oferecido no novo Creta. Enquanto a versão de entrada tem 92 cm de espaço para pernas e 144,5 cm para os ombros, o SUV 1.0 turbo traz, respectivamente, 96 cm e 148 cm.
A principal vantagem desta versão é o preço, ela custa R$ 112.690. Não é o SUV mais barato do Brasil, há opções mais em conta como o Peugeot 2008, Citroën C4 Cactus e até o Nissan Kicks. Porém, é inegável que se trata de um carro robusto de uma marca confiável. É uma boa alternativa ao considerar que hatches ou sedãs compactos automáticos custam cerca de R$ 100.000. Se você não abre mão de tecnologia, é indicado que opte pelo novo Creta, porém terá de investir mais R$ 15.000, pelo menos.
Veredicto – O Hyundai Creta Action deve ser considerado pela relação custo/benefício, afinal é um dos SUVs mais acessíveis. Mas peca no design, consumo e tecnologia.
Ficha Técnica – Hyundai Creta Action 1.6
Motor: dianteiro, transversal, 1.591 cm³, 130/123 cv a 6.000 rpm, 16,5/16 kgfm a 4.500 rpm
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (dianteira), eixo de torção (traseira)
Freios: disco ventilado (dianteiro), tambor (traseiro)
Pneus: 205/65 R16
Dimensões: comprimento, 429 cm; largura, 178 cm; altura, 163,5 cm; entre-eixos, 259 cm; peso, 1.359 kg; porta-malas, 431 litros; tanque de
combustível, 55 litros
Teste – Hyundai Creta Action 1.6
Aceleração
0 a 100 km/h: 12,7 s
0 a 1.000 m: 34,3 s – 150,2 km/h
Velocidade máxima 172 km/h
Retomadas
D 40 a 80 km/h: 5,5 s
D 60 a 100 km/h: 6,9 s
D 80 a 120 km/h: 9,2 s
Frenagens
60/80/120 km/h a 0: 14,5/26,1/61,6 m
Consumo
UrbanoL 10,4 km/l
Rodoviário: 13,5 km/l
Ruído interno
Neutro/RPM máx.: 38,9/64,5 dBA
80/120 km/h: 61,1/68,2 dBA
Aferição
Velocidade real a 100 km/h: 96 km/h
Rotação do motor a 100 km/h: 2,7 voltas
Volante: 2,7 voltas
Seu Bolso
Preço básico: R$ 112.690
Garantia: 5 anos
Condições de teste: alt. 660 m; temp., 28 °C; umid. relat., 63%; press., 1.012,5 kPa. Realizado no ZF Campo de Provas