Assistir a um jogo da NBA abraçado a um balde de pipoca, ir à noite de pijama ou camisola ao shopping ou supermercado, fazer churrasco de hambúrguer no fim de semana: junte as três situações e ainda assim não terá um símbolo mais americano que uma Ford F-150.
Nos Estados Unidos, você olha para o lado e vê passando ao menos uma das 13 gerações da Série F – “F Series”, como dizem lá. As empresas de TV a cabo têm, as de entrega expressa também, assim como executivos, aventureiros, médicos, fazendeiros, aposentados. E ela ainda é unissex: tem muita mulher dona de F-150.
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Fomos até a casa da Ford, em Detroit (EUA), para entender melhor esse hit americano. A explicação começa com seu catálogo, que mais parece um menu configurável de lanchonete. São quatro motores (três V6 e um V8), cabines simples (RegularCab), estendida (SuperCab) ou dupla (SuperCrew), 4×2 ou 4×4 e cinco versões (XL, XLT, Lariat, King Ranch e Platinum, como a das fotos), mas repletas de opcionais e acessórios.
E ainda falta a Raptor, que deve ser lançada até o final de 2016, com esperados 450 cv e 70,5 mkgf de torque, além de toda a preparação nos freios, suspensão e outras partes mecânicas para enfrentar corridas off-road com toda a naturalidade.
O câmbio é sempre uma caixa automática de seis marchas. Porte e preço variam bastante. Dependendo da versão, a nova F-150 tem comprimento de 5,32 metros (3,11 de entre-eixos) a 6,36 metros (4,16 metros de entre-eixos, mais que um Sandero inteiro, com 4,06).
A tabela de preços, lógico, reflete a distância de conteúdo e porte entre as versões, variando de US$ 25 800 a US$ 63 690.
“A Ford analisa muito o comportamento do consumidor. Com o tempo, vimos que, além de se tornar um símbolo tão marcante quanto a águia americana, a F Series passou a servir como indicador de ascensão social. A cada passo que se avança na profissão, compra-se uma F-150 mais cara”, diz Jeff Greenberg, responsável da área de desenvolvimento da Ford americana. “Há muita gente que aprendeu a dirigir numa picape da F Series, quando adolescente, e hoje tem uma versão top.”
Esse sucesso junto ao público, claro, é alardeado com orgulho pela marca do oval. É quase um discurso padrão dos seus executivos: “A F-150 é a picape mais vendida do mundo, e aqui nos Estados Unidos é líder de vendas anuais há mais de 30 anos”. Desde 1948, já foram vendidas mais de 33 milhões de unidades. Mesmo assim, o comando da empresa deu uma bela sacudida nessa nova geração de sua best-seller.
DIETA DE ALUMÍNIO
Com legislação cada vez mais rígida quanto a emissões, a Ford tratou de submeter a picape a uma rigorosa dieta à base de alumínio e outros materiais nobres de alta leveza e resistência. A ideia é reduzir o esforço do motores para baixar o consumo e, consequentemente, as emissões de gases.
Dependendo da versão, a perda de peso comparada à geração anterior passou dos 100 kg, segundo a marca. No chassi de longarinas, por exemplo, a construção do tipo escada (com oito travessas ligando as barras longitudinais) e a aplicação de um aço especial garantem, além do emagrecimento, uma rigidez torcional 23% superior.
De fato, ao volante, a picape, apesar de descomunal, não range mesmo ao iniciar uma subida logo após uma curva de 90 graus, situação normal em rampas de garagem de prédio, por exemplo. Quando montada em um veículo com alto nível de rigidez torcional, a suspensão também desempenha melhor seu papel, uma vez que a variação de geometria é menor.
Isso ficou muito claro na aceleração, durante o test-drive, quando o V8 5.0 a gasolina de 385 cv foi exigido repentinamente e a picape respondeu com um comportamento digno de esportivo, disparando em linha reta sem exigir movimentação do volante para corrigir a trajetória.
A cabine impressiona mais pela vastidão do que pelo layout do painel, que, apesar de completo, é um tanto monótono e óbvio.
Em contraponto, externamente, faróis e lanternas com contornos irregulares e leds no interior conferem um ar futurista à F-150, uma picape que, apesar do sucesso que faz em sua terra natal, segue sem a mínima possibilidade de ser vendida no Brasil, segundo a Ford. Uma grande pena. Literalmente.
VEREDICTO
No Brasil, nenhuma picape desse porte tem dinâmica com nível de excelência ao menos próximo do da nova F-150. Nem a própria Ford Ranger.
Motor | dianteiro, longitudinal, V8, 32V |
---|---|
Cilindrada | 4 949 cm3 |
Diâmetro x curso | 92,2 x 92,7 mm |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Potência | 385 cv a 5 750 rpm |
Torque | 53,5 mkgf a 3 850 rpm |
Câmbio | automático, 6 marchas, tração 4×4 |
Dimensões | comprimento, 619 cm, altura, 196,3 cm; largura, 202,9 cm; entre-eixos, 415,8 cm; |
Peso | 2 236 kg |
Porta-malas/caçamba | 939 kg |
Tanque | 136 litros |
Suspensão dianteira | duplo A |
Suspensão traseira | eixo rígido |
Freios | discos ventilados nas 4 rodas |
Direção | elétrica |