Fastback Abarth capricha no visual e no ronco, mas só parece mais rápido
SUV cupê esportivo empolga o motorista com mudanças eletrônicas e no comportamento dinâmico
Talvez não exista, hoje, um carro que resuma tão bem o gosto peculiar do consumidor brasileiro quanto o Fiat Fastback. As linhas de SUV cupê, os faróis e as lanternas de led estreitinho, as telas na cabine e o porta-malas enorme (são 516 litros) foram os principais argumentos para ter conseguido emplacar 40.408 unidades em 2023.
O design, principalmente, ajudou a contornar o espaço traseiro reduzido pelo entre-eixos de 2,53 m e a origem menos nobre do projeto. Há algo de genial no fato de a Fiat, a partir do Cronos (que teve 50.760 unidades emplacadas em 2023) ter feito seu SUV cupê graças às suspensões e direção específicas, e à liberdade para criar uma carroceria inédita. O Fastback é algo como um Cronos turbo (que não existe) bem estiloso e mais equipado, e parte dos R$ 117.990 contra os R$ 92.990 do Cronos 1.0.
Se deu tão certo, por que não incrementar o Fiat Fastback a fim de destacar seu visual esportivo? O Fastback Abarth faz isso muito bem: combina uma série de adereços visuais do Pulse Abarth com suspensão específica, elementos de estilo e ronco de escapamento encorpado e hipnotizante para sugerir um desempenho muito melhor – que, na prática, esse carro não conseguiu demonstrar em nossa pista de testes.
Arredondamento favorável
O Fastback Abarth mantém o 1.3 turbo de 185 cv e 27,5 kgfm, com câmbio automático de seis marchas, exatamente o mesmo conjunto da versão Fastback Limited by Abarth, que passou a ter visual mais conservador na linha 2024 para se distanciar do Abarth legítimo.
Nas retas, porém, as duas versões 1.3 turbo andam juntas. O Fastback Abarth foi apenas 0,06 s mais rápido que o Limited, mas arredondando fica 8,5 s contra 8,6 s na aceleração com gasolina no tanque.
A melhora nas retomadas também fica na casa dos decimais: a maior diferença foi de 80 a 120 km/h, em que o Abarth precisou de 5,94 s e o Limited foi mais rápido, com 5,68 s. Dá para dizer que as duas versões andam igual e consomem igual: empataram nos 10,9 km/l no ciclo urbano e o Abarth melhorou o consumo rodoviário de 14,8 para 15,2 km/l. Mas o Limited não faz o que o Abarth faz.
Um carro esportivo não é definido só pela potência e muitos carros elétricos poderiam ilustrar isso: são extremamente velozes nas retas, mas não têm “chão”, são ruins de curva.
O escorpião da Abarth no lugar do logo da Fiat significa uma mudança notável no comportamento do Fastback. É curioso saber que esta versão tem calibração de amortecedores e molas específica, mais rígida, porque o Pulse Abarth (R$ 149.990) usa exatamente a mesma calibração dos Fastback civis. Ajustes na geometria ainda deixaram o Fastback Abarth 0,5 cm mais baixo, o que muda a atitude do carro nas curvas e deixa a direção com sensação mais direta.
Por fim, as rodas de aro 18” até simulam um parafuso central, que não é a única referência aos carros de competição, porque os pneus 215/45 dessa versão são os Goodyear Eagle F1 Asymmetric 6, que prometem mais aderência que os Continental Premium Contact de mesma medida que calçam o Limited.
O que realmente pode explicar o aumento da velocidade máxima em 10 km/h, para 220 km/h, são os novos aerofólio traseiro e difusor de ar.
Também existe o lado emocional da preparação. O escapamento duplo exclusivo começa a mostrar sua razão de existir pelo ronco grave logo na partida e invade mais, de propósito, a cabine. Para quem gosta de mexer no escape do carro, esse já vem prontinho de fábrica. Mas quem não gosta terá de se acostumar – ou economizar R$ 5.000 e comprar o Fastback Limited, por R$ 155.990.
Outra exclusividade importante é o modo Poison, o modo esportivo de funcionamento do conjunto mecânico que é ativado pelo botão vermelho no volante. Com o “veneno” ativado, o acelerador fica bem mais sensível, a ponto de a metade do curso já garantir 100% do torque e, em algumas condições, não tem filtro para a resposta do motor. O câmbio também passa a ficar mais bruto, com trocas feitas mais rápidas e em rotações 30% mais altas. As reduções automáticas acontecem mais cedo para deixar o motor sempre cheio, mas recorrer à borboleta esquerda atrás do volante poderá brindar o motorista com um pipoco no escape, fruto de um backfire proposital que os engenheiros conseguiram colocar no mapa do motor sem comprometer as emissões.
Por fim, o modo Poison retira parte da assistência da direção elétrica e deixa os controles de tração e estabilidade menos invasivos, ao mesmo tempo que a vetorização dinâmica de torque atua para melhorar o contorno de curvas.
Boa parte da esportividade do Fastback Abarth vem de linhas de código perfeitamente escritas para deixar o carro mais visceral e responsivo. Há um efeito quase hipnótico, porque as respostas são melhores, o carro passa a sensação de ter mais estabilidade em curvas (especialmente em trechos sinuosos) e a suspensão é claramente mais firme. Talvez firme até demais para andar com conforto onde o asfalto é ruim. Mas quem gosta de suspensão fixa não vai reclamar.
O mérito do Fastback Abarth é lembrar que um esportivo também tem que mexer com as sensações, mesmo que seja para enganar seus sentidos. Esse esforço de engenharia pode ser mais efetivo do que um mero incremento nos números de potência e torque disponíveis.
O ambiente na cabine faz parte do esforço. É igual ao de um Pulse Abarth: bancos com gomos horizontais, costuras vermelhas, faixa vermelha interligando as saídas de ar e uma faixa de vinil com textura de fibra de carbono, além do volante Abarth e das pedaleiras de alumínio.
Em termos de equipamentos, tem tudo que um Fastback completo pode ter, desde o quadro de instrumentos digital de 7 polegadas com estilo exclusivo, central de 10 polegadas, frenagem de emergência, assistente de faixa, mas apenas quatro airbags. Mas custa R$ 160.990 – um preço que o Fiat Cronos jamais terá.
Veredicto Quatro Rodas – Sem ser mais rápido, o Fastback Abarth se garante na diversão e cobra R$ 5.000 pelas mudanças. Mas ainda é bem caro.
Ficha Técnica – Fiat Fastback Abarth
Preço: R$ 160.990
Motor: flex, dianteiro, transversal, 4 cil., 16V, 1.332 cm³, 185/180 cv a 5.750 rpm, 27,5 kgfm a 1.750 rpm
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica, 10,9 m (diâmetro de giro)
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), tambor (tras.)
Pneus: 215/45 R18
Dimensões: comprimento, 442 cm; largura, 178 cm; altura, 154,4 cm; entre-eixos, 253,2 cm; peso, 1.299 kg; porta-malas, 516 litros; tanque, 47 litros
Teste Quatro Rodas – Fiat Fastback Abarth
Aceleração | |
0 a 100 km/h | 8,5 s |
0 a 1.000 m | 29,57 s – 177,6 km/h |
Velocidade máxima | 220 km/h* |
Retomadas | |
D 40 a 80 km/h | 3,8 s |
D 60 a 100 km/h | 4,8 s |
D 80 a 120 km/h | 5,9 s |
Frenagens | |
60/80/120 km/h a 0 | 14,6/25,8/58,1 m |
Consumo | |
Urbano | 10,9 km/l |
Rodoviário | 15,2 km/l |
Ruído interno | |
Neutro/RPM máx. | 47,9/71,5 dBA |
80/120 km/h | 72,6/75,3 dBA |
Aferição | |
Velocidade real a 100 km/h | 96 km/h |
Rotação do motor a 100 km/H | 2.000 rpm |
Volante | 2,5 voltas |
SEU Bolso | |
Preço básico | R$160.990 |
Garantia | 3 anos |
*Dado de fábrica
Condições de teste: alt. 660 m; temp., 32,5 °C; umid. relat., 59%; press., 759 mmHg