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Teste off-road: Troller T4 e Suzuki Jimny, os reis da terra

Adorados pelos jipeiros, Troller T4 e Suzuki Jimny são diferentes em quase tudo - menos na vocação para encarar trilhas onde nenhum SUV urbano ousaria pisar

Por Vitor Matsubara Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 15 jan 2018, 18h27 - Publicado em 20 mar 2017, 16h50
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  • São eles os modelos mais procurados por quem deseja entrar no mundo off-road
    São eles os modelos mais procurados por quem deseja entrar no mundo off-road (Marcos Camargo/Quatro Rodas)

    Existe uma perigosa epidemia atingindo motoristas por aí. Autoridades dizem que os principais sintomas são aversão ao asfalto, desejo incontrolável de conhecer novos lugares e necessidade de se embrenhar no meio da lama. Se você apresenta um desses sintomas, cuidado: o vírus da “jipeirice” te contagiou.

    Médicos recomendam um tratamento simples à base de doses de Suzuki Jimny e Troller T4 sem moderação. São eles os modelos mais procurados por quem deseja ingressar no mundo off-road, seja competindo esporadicamente em ralis de regularidade ou mergulhando de cabeça nas trilhas mais radicais.

    Antes de cair na lama, vamos esclarecer que não estamos comparando os modelos – nosso objetivo é mostrar como eles se comportam fora do asfalto. Até porque ambos estão separados por um abismo na tabela de preços: enquanto o Jimny parte de R$ 68.890 (a versão avaliada é a 4Sport, de R$ 76.690), o T4 sai por R$ 128.994.

    As diferenças continuam em porte e motor. Adotado por parte dos órfãos do Mitsubishi Pajero TR4, o Suzuki tem 3,64 metros de comprimento (apenas 4 cm maior que um VW Up!) e 1,70 de altura, levando quatro pessoas mais (pouca) bagagem (são só 113 litros). O veterano motor 1.3 16V a gasolina tem 85 cv e é acoplado a uma caixa manual de cinco marchas.

    Potência do motor diesel do T4 é mais que o dobro do Jimny
    Potência do motor diesel do T4 é mais que o dobro do Jimny (Marcos Camargo/Quatro Rodas)
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    Motor 1.3 a gasolina do Jimny acelerou de 0 a 100 km/h em 14,6 segundos
    Motor 1.3 a gasolina do Jimny acelerou de 0 a 100 km/h em 14,6 segundos (Marcos Camargo/Quatro Rodas)

    Já o Troller T4 mede 4,09 metros e tem 1,96 de altura, e também fica devendo no porta-malas (134 litros). Sob o capô está um poderoso 3.2 turbodiesel de 200 cv emprestado da Ford Ranger, assim como a transmissão manual de seis marchas com engates curtos. Ambos saem de fábrica com tração 4×4, acionada por botões no Suzuki ou um seletor giratório no Troller.

    Jipes não são luxuosos, mas a dupla oferece confortos como ar-condicionado (analógico no Jimny e digital bizona no T4), direção hidráulica e vidros elétricos. Só o T4 vem com bancos de couro, mas a falta do airbag duplo (não é obrigatório para jipes) é um deslize imperdoável. Defensores do Troller podem até dizer que o item pode disparar nos solavancos das trilhas, mas o fato é que o Jimny traz as bolsas infláveis. Ao menos o freio ABS equipa o T4…

    Cabine do T4 é bonita e bem acabada, mas falta airbag
    Cabine do T4 é bonita e bem acabada, mas falta airbag (Marcos Camargo/Quatro Rodas)
    Interior datado do Jimny tem acabamento simples
    Interior datado do Jimny tem acabamento simples (Marcos Camargo/Quatro Rodas)
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    Ambos têm pneus Pirelli Scorpion ATR, indicados para uso misto, e o Jimny avaliado tinha o snorkel (vendido à parte por R$ 900). As duas marcas oferecem uma vasta gama de acessórios homologados para off-road pesado, incluindo cintas, estribos, pneus lameiros e até guinchos.

    Todas as diferenças caem por terra na hora de encarar a… terra. Fomos a uma pista no interior de São Paulo repleta de obstáculos comuns nas aventuras dos jipeiros. Por precaução, convocamos dois jipeiros munidos de pás, picareta e um guincho elétrico caso atolássemos. Foi deles, aliás, que ouvi comentários debochando da aparente fragilidade do Jimny, vindas de quem está habituado à brutalidade dos Troller. Mal sabiam eles que a história não seria bem assim…

    Os bancos de couro são de série no T4
    Os bancos de couro são de série no T4 (Marcos Camargo/Quatro Rodas)
    Bancos são de tecido e só existem dois encostos de cabeça no Jimny
    Bancos são de tecido e só existem dois encostos de cabeça no Jimny (Marcos Camargo/Quatro Rodas)

    Após ligar a tração reduzida com o veículo parado, começamos pela caixa de ovos – uma série de crateras intercaladas que fazem a carroceria torcer de um lado para o outro. Favorecido pelos ângulos de entrada e saída maiores (51º em ambos os casos, contra 41º e 44º do Jimny) e maior altura livre do solo (21 cm contra 20 cm), o T4 quase ignorou o obstáculo.

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    Já o Suzuki tanto sacolejou de lá para cá a ponto de quem assistia à cena jurar que ele tombaria a qualquer momento. Tudo porque o Jimny quase mergulha de frente nos buracos mais fundos, deixando ao menos uma roda suspensa no ar. Foi preciso executar algumas manobras (inclusive de ré) para sair das situações críticas.

    No Suzuki, o condutor também precisa de mais cautela ao transpor aclives, já que os para-choques podem ser danificados ao raspar em pedras e galhos. Com um pouco de calma e perícia, seguimos em frente.

    Suspensão mais elevada favorece o T4 no facões e na maioria dos desafios
    Suspensão mais elevada favorece o T4 no facões e na maioria dos desafios (Marcos Camargo/Quatro Rodas)
    O Jimny sofre mais para vencer as crateras da caixa de ovos
    O Jimny sofre mais para vencer as crateras da caixa de ovos (Marcos Camargo/Quatro Rodas)

    Torque x peso

    As erosões e inclinações laterais praticamente não foram notadas pela dupla, que partiu para uma rampa com pequenas lombadas pelo caminho. De pé no acelerador, o T4 subiu prontamente, embora tenha maltratado os ocupantes.

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    Mesmo sem o torque abundante do T4 (são 47,9 mkgf contra 11,2 do rival), o valente 1.3 do Jimny também deu conta do recado e levou-o ao topo sem dificuldades, devido ao baixo peso (1.090 kg ante 2.140 do T4).

    Logo veio um fosso de lama daqueles que poucos ousariam enfrentar sem pneus especiais. Descemos dos carros para analisar por onde seguir. Nessa condição, o baixo peso jogou a favor do Jimny, que saiu do atoleiro mais rapidamente do que o Troller.

    T4 vence alguns obstáculos mesmo sem assistência da reduzida
    T4 vence alguns obstáculos mesmo sem assistência da reduzida (Marcos Camargo/Quatro Rodas)
    Jimny pesa mais de 1 tonelada a menos que o T4
    Jimny pesa mais de 1 tonelada a menos que o T4 (Marcos Camargo/Quatro Rodas)

    Nosso percurso terminava em um trecho de mata fechada, no qual o largo T4 demandou mais esforço para ser manobrado e atenção para não sair com marcas pela lataria.

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    Após mais algumas horas ao volante, saímos de lá com a certeza de que o T4 encararia trilhas bem mais pesadas sem reclamar. Assim é fácil entender por que é o queridinho dos jipeiros. A surpresa foi o Jimny. Lembra o que nossos amigos trolleiros disseram?

    Pois até eles reconheceram a valentia do Suzuki. Claro que não está à altura do T4, afinal este está mais longe do solo, tem ângulos de entrada e saída maiores, esbanja potência e torque e sua suspensão e chassi sãos mais parrudos. Ainda assim, poucos jipes conseguem seguir o T4 numa trilha com tanta competência como o Jimny fez – e custando metade do preço.

    O T4 topa qualquer parada sem abrir o bico
    O T4 topa qualquer parada sem abrir o bico (Marcos Camargo/Quatro Rodas)
    Nas curvas, Jimny tem leve tendência a sair de frente
    Nas curvas, Jimny tem leve tendência a sair de frente (Marcos Camargo/Quatro Rodas)

    Caso você também pretenda explorar a selva de pedra, saiba que o jogo vira na cidade, onde a dirigibilidade próxima a de um automóvel de passeio e o porte compacto fazem o Jimny se sentir à vontade. Já o T4 é grande demais e cansa o motorista, principalmente pela embreagem muito pesada no anda e para urbano.

    Bem, se depois de ler este texto você sentir que está contaminado pelo vírus da jipeirice, relaxe. Agora já sabe qual remédio tomar. Falta muito para chegar o sabadão?

    Porta-malas do Troller tem apenas 134 litros
    Porta-malas do Troller tem apenas 134 litros (Marcos Camargo/Quatro Rodas)
    Tampa traseira do Jimny é pesada para abrir
    Tampa traseira do Jimny é pesada para abrir (Marcos Camargo/Quatro Rodas)

    Veredicto – Troller T4

    Se quiser virar um jipeiro profissional, não há opção melhor do que o T4, ideal para receber vários acessórios off-road. Mas prepare-se para a falta de conforto no dia a dia.

    Veredicto – Jimny 4Sport

    Bem mais barato que o T4, o Jimny é uma boa compra para quem encara o trânsito durante a semana e gosta de fugir da cidade nas horas de lazer – e sem passar vergonha na trilha.

    Álbum de família

    Uma inesperada reunião de gerações do T4 marcou nossa sessão de fotos. Além do modelo mais recente (lançado em 2014), os dois antecessores do jipe estavam no local. A primeira geração (veículo prata) surgiu em 1999, inicialmente movida pelo motor AP2000 de origem Volkswagen – posteriormente substituído por motorizações turbodiesel mais potentes.

    Nascido no Ceará, o T4 mudou bastante em três gerações - mas continua valente
    Nascido no Ceará, o T4 mudou bastante em três gerações – mas continua valente (Marcos Camargo/Quatro Rodas)

    Adquirida pela Ford em 2007, a Troller lançou um novo T4 dois anos depois, trazendo uma leve reestilização e várias peças internas de outros modelos Ford. Em 2013, o jipe ganhou um novo motor 3.2 diesel de 165 cv.

    * agradecimentos à Fazenda do 4×4, que cedeu o local para as fotos.

    Teste de pista (com gasolina)

    Jimny Troller T4
    Aceleração de 0 a 100 km/h 14,6 s 13,4 s
    Aceleração de 0 a 1000 m 36,3 s 35,6 s
    Retomada de 40 a 80 km/h 9,8 s (em 3ª) 5,7 s (em 3ª)
    Retomada de 60 a 100 km/h 15,3 s (em 4ª) 7,1 s (em 4ª)
    Retomada de 80 a 120 km/h 23,6 s (em 5ª) 9,5 s (em 5ª)
    Frenagens de 60 / 80 / 120 km/h a 0 22,3 / 36,8 / 75,6 m 15,9 / 29,8 / 71,2 m
    Consumo urbano n/d 8,9 km/l
    Consumo rodoviário n/d 10,9 km/l

     

    Ficha Técnica

    Jimny Troller T4
    Motor gas., diant., long., 4 cil., 1.328 cm3, 16V, 78 x 69,5 mm, 85 cv a 6.000 rpm, 11,2 mkgf a 4.100 rpm diesel, diant., long. 5 cil., 3.198 cm3, 20V, 89,9 x 100,8 mm, 200 cv a 3.000 rpm, 47,9 mkgf entre 1.750 e 2.500 rpm
    Câmbio manual, 5 marchas, 4×4, reduzida manual, 6 marchas, 4×4, reduzida
    Suspensão eixo rígido, molas helicoidais (diant. e tras.) eixo rígido, molas helicoidais (diant. e tras.)
    Freios disco sólido (diant.)/tambor (tras.) disco ventilado (diant.)/disco sólido (tras.)
    Direção hidráulica, 4,2 voltas hidráulica, 2,7 voltas
    Rodas e pneus liga leve, 205/70 R15 liga leve, 255/65 R17
    Dimensões compr., 364,5 cm; altura, 170,5 cm; largura, 160 cm; entre-eixos, 225 cm; peso, 1.090 kg; tanque, 40 l compr., 409,5 cm; altura, 196,6 cm; largura, 197,7 cm; entre-eixos, 258,5 cm; peso, 2.140 kg; tanque, 62 l
    Equipamentos de série airbag duplo, ar-cond., rádio com entradas USB e aux., Bluetooth, faróis de neblina, vidros e travas elétricas, rodas de liga leve, banco traseiro bipartido bancos de couro, teto solar, ABS com EBD, ar bizona, rádio com Bluetooth, rodas de liga leve, compu­tador de bordo
    Preço R$ 68.890 R$ 128.994
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