Dezoito anos se passaram desde que o Peugeot 206 abandonou o motor 1.0 e a marca deixou de equipar seus carros com motores “mil”. Agora, a francesa sucumbiu ao mercado e passou a usar motorização 1.0 no moderno 208.
Para saber se o modelo terá força no concorrido degrau de entrada do mercado, convocamos o Chevrolet Onix, vice-líder da categoria. O líder Hyundai HB20, recém-atualizado, não teve unidades com motor 1.0 aspirado disponibilizadas a tempo de serem alinhadas neste confronto.
O comparativo reúne a segunda versão mais barata de cada um dos hatches. Ou seja, o 208 Style, de R$ 82.990, enfrenta o Onix LT, de R$ 77.690 – ambos equipados com motor 1.0 aspirado de três cilindros.
No caso do Onix, o propulsor entrega 82/78 cv e 10,6/9,6 kgfm (etanol/gasolina), sempre com câmbio manual de seis marchas. Já no 208, o motor Firefly, emprestado do “primo” Fiat Argo, rende até 75/71 cv e 10,7/10 kgfm (etanol/gasolina), e tem câmbio manual de cinco marchas.
Na pista, o Chevrolet foi mais rápido e mais econômico, em nossos testes feitos com gasolina. Ele levou 13,2 segundos para ir de 0 a 100 km/h, enquanto o 208 fez a mesma prova em 14,3 segundos.
E obteve as marcas de 13,9 km/l, na cidade, e 17,6 km/l, na estrada, contra as médias de 11,2 km/l e 14,1 km/l, do Peugeot, respectivamente. A diferença de torque entre os motores é pequena. Mas no Onix o pico chega mais tarde: 4.100 rpm, ante 3.250 rpm do 208.
A agilidade do Chevrolet, portanto, pode ser creditada ao seu número de válvulas (12, contra 6 do 208), o que ajuda no crescimento do giro do motor.
O 208, por outro lado, se mostra mais disposto por ter o torque mais cedo, exigindo menos trocas de marchas. Apesar de uma marcha a mais (a sexta é overdrive, voltada à redução de giro), o câmbio do Onix apresenta um buraco entre segunda e terceira marchas.
E a caixa do 208, além de bem escalonada, se mostrou mais rápida e precisa (melhor até mesmo que no Fiat Argo, que compartilha motor e câmbio com o Peugeot).
Ambos têm a direção leve e confortável para todas as situações, mas o 208 se destaca pela suspensão, que torna a convivência bem mais agradável na cidade. Até pouco tempo atrás seria impensável dizer isso, mas o Peugeot tem um acerto robusto de suspensão, que vence o asfalto lunar brasileiro sem prejuízos ao conforto dos ocupantes e sem barulheiras.
É um acerto bem próximo de um Fiat. Já o Onix vai bem em asfalto liso, com bom balanço da carroceria, mas tem ajuste mais rígido, com pancadas mais secas em imperfeições. Também é possível ouvir o trabalho da suspensão.
Outro problema está na altura em relação ao solo, especialmente na dianteira, que o torna presa fácil de lombadas e valetas.
CONECTIVIDADE A lista de equipamentos, por sua vez, tem um peso bem definido para cada modelo. Ambos trazem ESP, mas o Onix LT vem com seis airbags, contra quatro do 208.
O GM tem ainda limitador de velocidade, ar-condicionado e assistente de partida em rampa.
A central multimídia, com tela de 8 polegadas, mostra uma grande fraqueza do Onix: por problemas na cadeia global de semicondutores, o modelo tem sido equipado apenas com Apple CarPlay via cabo, deixando de oferecer Bluetooth e Android Auto.
O problema deverá ser resolvido nos próximo meses e, com esses recursos, o modelo sobe R$ 2.500.
Na unidade testada, produzida anteriormente ao corte no conteúdo, os itens estavam presentes, assim como um pacote com faróis automáticos, chave presencial, rodas de liga leve e câmera de ré, que elevam o preço inicial aos R$ 83.190.
Uma terceira opção com esse conteúdo, mas sem os de conectividade, sai por R$ 80.690.
PACOTE COMPLETO A O 208 Style não tem opcionais. Assim, oferece de série, além dos itens de fábrica do Onix, rodas de liga leve, faróis full-led (único na categoria, contra parábola simples do rival), teto solar panorâmico, carregador de celulares por indução, multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, e tela de 10 polegadas, câmera de ré e sensores de ré. São seis alto-falantes (no Onix, são quatro, sem saídas traseiras) e há ajuste de altura e profundidade no volante, indisponíveis no rival.
As diferenças entre os hatches crescem ainda mais no quesito visual. Por fora, o 208 exibe traços mais modernos, rodas pretas e aerofólio.
É um conjunto que inspira maior refinamento, assim como no interior. O painel tem formas quase futuristas, com o volante de pequeno diâmetro, apliques em preto brilhante e imitação de fibra de carbono.
Os materiais, apesar de rígidos, mostram boa qualidade e montagem caprichada. O quadro de instrumentos, no entando, poderia ser mais atraente – é simples demais e destoa do restante.
Já o Onix, apesar do desenho ainda atual do painel, evidencia os materiais e a montagem com menos refinamento e texturas de aspecto mais barato. Seu quadro de instrumentos, porém, é mais elaborado.
CONTORCIONISMO Ainda por dentro, nenhum deles tem o espaço interno como trunfo, mas o 208 leva pequena desvantagem.
O modelo tem menos espaço para quem vai atrás, problema que a marca disfarça com um discreto baixo relevo nas costas dos bancos dianteiros, além do porta-malas menor: são 265 litros, contra 303 l do Onix.
O Peugeot também incomoda na hora de acessar o banco traseiro, já que o vão de acesso é pequeno e exige certo contorcionismo na entrada e na saída. No Chevrolet, as portas maiores não deixam com que isso aconteça.
As vantagens em espaço e economia de combustível do Chevrolet Onix não conseguem abafar o ótimo pacote de equipamentos, conectividade e de tecnologia do Peugeot 208, além do melhor acabamento e de um estilo que salta mais aos olhos.
Mais do que isso, o francês fabricado na Argentina também está mais preparado para condução urbana em asfaltos ruins e ruas com elevações e valetas.
Assim, o Peugeot 208 Style vence o comparativo.
Veredicto Quatro Rodas
Mesmo menos econômico e espaçoso em relação ao Onix, o 208 vence a disputa pelo conjunto. O francês combina estilo moderno e bom acabamento com um belo pacote de tecnologia e conectividade.
Teste Comparativo Quatro Rodas
208 1.0 | Onix 1.0 | |
0 a 100 km/h | 14,3 s | 13,2 s |
0 a 1.000 m | 35,88 s – 143,9 km/h | 35 s – 150 km/h |
Velocidade máxima | n/d | n/d |
Retomadas | ||
D 40 a 80 km/h | 8,1 s | 7,4 s |
D 60 a 100 km/h | 12,4 s | 11,1 s |
D 80 a 120 km/h | 22,7 s | 18,01 s |
Frenagens | ||
60/80/120 km/h a 0 | 14/25,6/58,6 m | 15,5/27,5/61,4 m |
Consumo | ||
Urbano | 11,2 km/l | 13,9 km/l |
Rodoviário | 14,1 km/l | 17,6 km/l |
Ruído interno | ||
Neutro/RPM máx. | 40,8/71,3 dBA | 41,2/64,5 dBA |
80/120 km/h | 63/68,5 dBA | 63,2/68,6 dBA |
Aferição | ||
Velocidade real a 100 km/h | 100 km/h | 96 km/h |
Rotação do motor a 100 km/h em 5a marcha |
3.000 rpm | 2.800 rpm |
Volante | 3 voltas | 2,7 voltas |
Seu Bolso | ||
Preço básico | R$ 82.990 | R$ 77.690 |
Concessionárias | 118 | 553 |
Revisões até 50.000 km | R$ 4.034 | R$ 4.272 |
Condições de teste: alt. 660 m; temp., 26/26 °C; umid. relat., 46/44%; press., 1.012,5/1.012,5 mmHg
Ficha Técnica – Peugeot 208 Style 1.0
Motor: flex, diant., transv., 3 cil., 6V, 999 cm³, 75/71 cv a 6.000 rpm, 10,7/10 kgfm (etanol/gasolina) a 3.500/3.250 rpm
Câmbio: manual, 5 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira)
Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
Pneus: 195/55 R16
Peso: 1.102 kg
Dimensões: comprimento, 405,5 cm; largura, 196 cm; altura, 145,3 cm; entre-eixos, 253,8 cm; porta-malas, 265 l; tanque de comb., 47 litros
Ficha Técnica – Chevrolet Onix LT2 1.0
Motor: flex, diant., transv., 3 cil., 12V, 999 cm³, 82/78 cv a 6.400 rpm, 10,6/9,6 kgfm (etanol/gasolina) a 4.100 rpm
Câmbio: manual, 6 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira)
Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
Pneus: 185/65 R15
Peso: 1.037 kg
Dimensões: comprimento, 416,3 cm; largura, 173,1 cm; altura, 147,5 cm; entre-eixos, 255,1 cm; porta-malas, 303 litros; tanque de combustível, 44 litros