Sedãs médios equipados com transmissão manual hoje em dia são quase tão raros nas lojas quanto uma garrafa de vinho Chateau Lafite produzido em 1787. No mercado brasileiro, são apenas quatro: Volkswagen Jetta, Mitsubishi Lancer, Honda Civic e Citroën C4 Lounge (o Toyota Corolla GLi 1.8 manual é oferecido apenas para pessoas jurídicas).
Com a indisponibilidade de unidades para teste e ausências de novidades entre os dois primeiros, o comparativo concentrou-se entre os dois últimos modelos, ambos recém-chegados em versões até então inéditas em suas respectivas gamas.
Como já adianta o nome, o Civic Sport ganhou aspecto esportivo para justificar a adoção do câmbio com embreagem e disfarçar que é o mais barato da linha – mesmo custando elevados R$ 87.900. Já o C4 Lounge Origine não faz questão de disfarces e mostra, por dentro e por fora, que é a versão mais simples em busca uma boa relação de custo-benefício, com preço de tabela de R$ 73.590.
O Honda tem aparência agressiva e recebe tratamento especial no estilo em relação ao restante da linha, como grade pintada de preto e rodas escurecidas de 17 polegadas. Os faróis, com leds de uso diurno e projetores, e as lanternas, também iluminadas por leds, formam o belo conjunto do sedã metido a cupê.
Por dentro do Civic, a impressão é de que estamos em uma versão superior. Mesmo com materiais de menor qualidade e toque mais rígido em relação ao francês, o Honda oferece linhas mais modernas, uma central multimídia e quadro de instrumentos coloridos e repletos de informações. Os bancos são confortáveis, mas seu tecido é menos aveludado que o do Citroën.
De outro lado, o Lounge Origine é uma típica versão de entrada. Apesar dos cromados e dos leds, ele é o único da gama com rodas de 16 polegadas (nas outras são 17) e pneus de perfil mais alto.
Na cabine, o Citroën volta a nos relembrar que estamos em uma configuração mais barata. O sistema de áudio, com USB e Bluetooth, é representado por uma pequena tela com iluminação laranja que remete aos C4 de primeira geração, de 12 anos atrás.
O quadro de instrumentos tem iluminação branca e dispensa até o marcador analógico de velocidade e o de temperatura do motor, enquanto a tela da esquerda, onde fica o conta-giros, só serve para indicar a hora de trocar de marcha.
Apesar de serem revestidos com tecido mais macio do que o utilizado no Civic, os bancos do Lounge são menos ergonômicos e para alguns motoristas é difícil achar uma posição confortável de dirigir.
Os dois têm alarme, assistente de partida em rampa, controle de estabilidade, Isofix, retrovisores e travas elétricos e volante multifuncional – nenhum oferece opcionais.
Os R$ 14.310 extras do Civic em relação ao Lounge se justificam na maior quantidade de equipamentos do japonês, como ar-condicionado digital, airbags laterais e de cortina (somando seis), central multimídia com tela colorida, câmera de ré (o C4 não tem sensor de ré!), freio de estacionamento eletrônico, brake hold, conta-giros e volante revestido de couro, além da boa relação com o mercado.
Mesmo mais caro e com revisões até 60.000 km pouco mais altas (R$ 4.306 contra R$ 4.267 do Citroën), o Honda ganha em liquidez de revenda e menor desvalorização, como é praxe entre os sedãs da Honda e Toyota.
Se o Citroën fica atrás no quesito equipamentos, ele mostra sua força no conjunto mecânico. O motor 1.6 turbo flex entrega 173/166 cv e 24,5 mkgf com etanol/gasolina. Junto do câmbio manual de seis marchas, o sedã vai de 0 a 100 km/h em 9,1 segundos, com bons números de retomada.
Já o Civic, com motor 2.0 aspirado de 155/150 cv e 19,5/19,3 mkgf e câmbio igualmente de seis marchas, faz a mesma prova em 10,1 segundos. No teste de consumo, deu quase um empate no percurso urbano, com 9,6 km/l para o C4 contra 9,5 do Civic. Já no ciclo rodoviário, o Honda vence com folga, com a marca de 16,1 km/l contra 14,3 km/l do Citroën.
Ao volante, o motor turbo do C4 faz toda diferença, com saídas e retomadas mais rápidas e empolgantes. Mas o câmbio não ajuda, com engates mais longos que os do Civic e uma segunda marcha fraca, que força o motorista a reduzir para a primeira em valetas e lombadas.
A relação da transmissão do Civic é superior, apesar do desempenho que não condiz com a denominação Sport da versão. Quem também não conversa com a proposta é a suspensão, mas isso é bom: ponto criticado na geração passada por alguns donos, ela está mais macia.
Se para o motorista a vida a bordo difere muito entre os sedãs, para os ocupantes é bem semelhante. Há espaço de sobra para quem vai atrás em ambos. No porta-malas, mais um ponto para o Civic: 525 litros contra 470 do C4.
Apesar do preço alto para uma configuração de entrada, o Civic leva a melhor pela maior oferta de equipamentos, pela melhor aceitação no mercado e maior prazer ao volante. Caso você valorize a performance, o C4 é uma ótima alternativa – que fica ainda melhor na versão intermediária Tendance, que traz câmbio automático e ainda é mais barata (R$ 84.990) e equipada que o Civic Sport manual.
Veredicto
O Civic é bem mais caro, porém mais equipado – os seis airbags, a central multimídia e a câmera de ré são de grande importância para a categoria. Também pesa a favor o prazer de dirigir e a boa fama no mercado. Se dinheiro não for o maior problema, o Honda vence.
Mas além de ser R$ 14.310 mais barato, o Lounge também é mais rápido. E se o câmbio manual não for uma necessidade, dá para levar o C4 automático por quase R$ 3 mil a menos.
Teste de pista (com gasolina)
C4 Lounge Origine | Civic Sport | |
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Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,1 s | 10,1 s |
Aceleração de 0 a 1.000 m | 29,7 s – 179,6 km/h | 31,3 s – 169,2 km/h |
Retomada de 40 a 80 km/h (em 3ª) | 4,8 s | 7,1 s |
Retomada de 60 a 100 km/h (em 4ª) | 6,2 s | 9,8 s |
Retomada de 80 a 120 km/h (em 5ª) | 8,3 s | 13,6 s |
Frenagens de 60 / 80 / 120 km/h a 0 | 16,4 / 28,5 / 68,2 s | 16,2/ 26,9 / 64,2 s |
Consumo urbano | 9,6 km/l | 9,5 km/l |
Consumo rodoviário | 14,3 km/l | 16,1 km/l |
Ficha Técnica
C4 Lounge Origine | Civic Sport | |
---|---|---|
Motor | flex, diant., transv., 4 cil., 1.598 cm3, 16V, turbo, 173/166 cv a 6.000 rpm, 24,5 mkgf a 1.400 rpm | flex, diant., transv., 4 cil., 1.997 cm3, 16V, 155/150 cv a 6.300 rpm, 19,5/19,3 mkgf a 4.700 rpm |
Câmbio | manual, 6 marchas, tração dianteira | manual, 6 marchas, tração dianteira |
Suspensão | McPherson (diant.) / eixo de torção (tras.) | McPherson (diant.) / multilink (tras.) |
Freios | discos ventilados (diant.) sólidos (tras.) | disco ventilado (diant.) / sólido (tras.) |
Direção | elétrica | elétrica, 5,2 (diâmetro de giro) |
Rodas e pneus | liga leve, 205/55 R16 | liga leve, 215/50 R17 |
Dimensões | comp., 462,1 cm; alt., 150,5 cm; larg., 178,9 cm; entre-eixos, 271 cm; peso, 1.430 kg; tanque, 60 l; porta-malas, 450 l | comp., 463,7 cm; alt., 143,3 cm; larg., 207,6 cm; entre-eixos, 270 cm; peso, 1.275 kg; tanque, 56 l; porta-malas, 525 l |
Equipamentos de série | alarme, ar-condicionado, assistente de partida em rampas, ESP, faróis e lanternas de neblina e sistema de áudio com Bluetooth e USB | ar-condicionado digital, brake hold, câmera de ré, central multimídia, ESP, freio de estacionamento elétrico e seis airbags |
Preço | R$ 73.590 | R$ 87.900 |