O título pode parecer alarmista, mas é real. Você que manda e-mails para a nossa redação dizendo que prefere hatches médios, em vez de sedãs e SUVs, ou que um dia desejou ter um Civic VTI, Astra GSI ou Stilo Abarth, em breve terá que procurar prazer de dirigir e tecnologia em outro segmento.
Reunimos os três hatches médios mais vendidos, porém sem muito o que comemorar. Volkswagen Golf, Ford Focus e Chevrolet Cruze Hatch somaram 8.837 unidades emplacadas até setembro. Foram 817 carros a menos do que o Nissan March, o 51o no ranking dos mais vendidos do Brasil – e que muita gente nem lembra que existe.
Eles representam apenas 0,67% dos carros vendidos no país em 2018. Em 2010, quando as opções eram os velhos Astra, C4 VTR, Stilo e o Golf da quarta geração, detinham 6,9% do mercado. Os SUVs, por sua vez, passaram de uma participação de 7,6% em 2010 para 24,3% em 2018.
Essa tendência é mundial e por aqui transformará os hatches médios em carros de nicho, como aconteceu com as peruas e minivans – também muito defendidas por diversos leitores.
Quando um carro vende pouco, ele está fadado a sair de linha e o primeiro será o Focus. A Ford anunciou que encerrará a produção do modelo na Argentina, nas versões hatch e sedã, em maio de 2019.
A surpresa só não é maior porque é a mesma Ford que decidiu deixar de vender hatches e monovolumes nos Estados Unidos para se focar nos SUVs e comerciais, que dão mais lucro.
A Volkswagen quer concentrar a produção do Golf na Alemanha, de onde abastecerá os principais mercados do modelo. Não fala em encerrar a produção no Brasil, mas já decidiu que não fará mais o modelo em Puebla, no México.
Vale dizer que tanto o Focus como o Golf figuram entre os carros mais vendidos da Europa. O Cruze não é vendido por lá, mas tem produção na Argentina (de onde é importado), nos EUA, no México e na China. Por aqui, a reestilização de meia vida que já apareceu nos Estados Unidos está prevista para o ano que vem.
Mais por mais
A briga aqui é pela sobrevivência. Dos três, o Ford Focus é o que melhor consegue defender o prazer ao dirigir esperado. É o único com suspensão traseira multilink, que suporta melhor a carroceria em curvas mais longas.
O acerto é mais firme do que nos demais, mas o prejuízo ao conforto combina com a direção mais pesada e direta, e com o ronco mais encorpado que ecoa do escape.
Também vale dizer que o Focus é o único hatch médio sem motor turbo à venda hoje. Usa o 2.0 Duratec flex com injeção direta que gera 178/175 cv, a maior potência entre os três.
Mesmo assim, nem o câmbio PowerShift de dupla embreagem, mais rápido que os automáticos com conversor de torque dos demais – principalmente no modo Sport –, conseguiu evitar os piores números de desempenho (10,3 s no 0 a 100 km/h) e consumo (10,6 km/l no regime urbano e 15,1 km/l no rodoviário dos três) com gasolina no tanque.
Quem leva a melhor nas mesmas condições é o Chevrolet Cruze LTZ, que precisou de 8,8 s para chegar aos 100 km/h com o competente 1.4 turbo flex de 153/150 cv em nossa pista de teste.
Nas ruas, porém, se mostra mais propenso a ser um automóvel voltado para o conforto. A direção é mais leve, a suspensão está mais comprometida em filtrar as irregularidades do asfalto e o câmbio não tem trocas sequenciais por borboletas, mas somente pela alavanca, e ainda carece de modo Sport.
O Cruze LTZ parte dos R$ 110.790, mas completo, com alerta de pontos cegos, alerta de colisão frontal, assistente de permanência em faixa, farol alto adaptativo, sistema de estacionamento automático e banco do motorista com regulagens elétricas custa R$ 8.600 a mais, chegando aos R$ 119.390.
O Focus Titanium Plus fica devendo o assistente de faixa e o alerta de pontos cegos, mas tem frenagem autônoma de emergência e faróis de xenônio como equipamentos de série por R$ 110.600 – e a Ford já oferece descontos de até R$ 8.000 para a versão.
No outro extremo está o Golf Highline 250 TSI. Por R$ 112.190, já começa mais caro que os rivais e precisa de pacotes opcionais para chegar ao mesmo nível deles.
O teto solar (R$ 4.800) e as rodas aro 17 (R$ 2.450) elevam a conta para R$ 119.440, mas ainda falta o pacote Premium, que custa R$ 9.900, e soma frenagem autônoma de emergência, faróis full led com facho alto automático, sistema de estacionamento automático, bancos com ajuste elétrico e até piloto automático adaptativo.
Um Golf como o da foto custa R$ 129.340. Para ter esses equipamentos sofisticados em SUVs, é preciso partir para os mais caros, como o Chevrolet Equinox Premier (R$ 162.990) e o Volkswagen Tiguan R-line (R$ 179.990).
Foco nos detalhes
Mas o hatch da Volkswagen consegue impressionar. Nem tanto pelo visual, atualizado em junho, mas pelo esmero do interior.
Você até encontra painel todo emborrachado nos Jeep Renegade e Compass na faixa de preço, mas nicho de porta acarpetado e porta-objetos emborrachado mostram uma preocupação com detalhes que não se vê em nenhum SUV ou sedã médio nessa faixa de preço.
E o Golf já foi melhor: quando vinha da Alemanha, tinha freio de estacionamento eletrônico, suspensão traseira multilink e câmbio de dupla embreagem com sete marchas em vez de seis.
A posição de dirigir também encanta. Volante e bancos têm ajustes amplos e os comandos continuarão por perto independentemente da posição que o motorista escolher. O Golf ainda reserva os melhores bancos do trio, com bom suporte para as coxas e grandes apoios laterais. O Focus peca pelo assento curto e o Cruze, pelo encosto quase plano.
Golf e Cruze levam a melhor num item relevante para quem olha para um SUV: espaço interno. O Chevrolet tem vantagem sobre o Golf no espaço traseiro, enquanto o Focus aperta os passageiros com a enorme estrutura dos bancos dianteiros. No porta-malas, empate entre Golf (313 litros) e Focus (316), enquanto o Cruze (290) tem só 10 litros a mais que o Onix.
Cada um dos três atende um público diferente. O Focus entrega as melhores sensações para quem quer se sentir piloto sem ter um esportivo e tem custo/benefício imbatível.
O Golf fisga quem busca um hatch à moda antiga em nível de conforto e tecnologia, mas sem abrir mão de um acerto dinâmico equilibrado. Já o Cruze consegue ser o mais rápido, confortável e espaçoso, o que explica seu domínio nas vendas. E poderá ser ele o último de seu segmento.
Veredicto
Em fim de carreira, o Focus pode ser uma boa escolha pelo preço, mas é o Cruze quem entrega o melhor desempenho. O Golf é um carro excelente, mas ficou muito caro. O vencedor? Desta vez não tem. Todos aqui perdem, especialmente nós, apaixonados por automóveis, que com a derrocada dos hatches médios vamos perder os melhores carros do mercado para quem gosta de dirigir.
Teste de pista (com gasolina)
Golf | Cruze | Focus | |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,5 s | 8,8 s | 10,3 s |
Aceleração de 0 a 1.000 m | 30,7 s-169,5 km/h | 30,2 s-172,8 km/h | 31,3 s-171,6 km/h |
Velocidade máxima | 203 km/h | 214 km/h | 206 km/h |
Retomada de 40 a 80 km/h (em D) | 4 s | 4 s | 4,4 s |
Retomada de 60 a 100 km/h (em D) | 5,4 s | 5 s | 5,4 s |
Retomada de 80 a 120 km/h (em D) | 6,7 s | 6,5 s | 6,8 s |
Frenagem de 60 / 80 / 120 km/h a 0 | 14,7/26,6/62,3 m | 15,8/27,9/65 m | 16,9/28/65,8 m |
Consumo urbano | 12,3 km/l | 12 km/l | 10,6 km/l |
Consumo rodoviário | 15,9 km/l | 15,8 km/l | 15,1 km/l |
Ruído interno: Neutro/RPM máx. | 35,4/69,2 dBA | 37,2/68,6 dBA | 38,9/72,8 dBA |
Ruído interno: 80/120 km/h | 60,6/66,3 dBA | 60,2/67,1 dBA | 63,3/67,8 dBA |
Velocidade real a 100 km/h | 96,1 km/h | 94,5 km/h | 98,4 km/h |
Rotação do motor a 100 km/h em 5º marcha | 1.800 rpm | 1.800 rpm | 2.100 rpm |
Volante | 2,7 voltas | 3,1 voltas | 2,5 voltas |
Preço básico | R$112.190 | R$110.790 | R$110.600 |
Garantia | 3 anos | 3 anos | 3 anos |
Revisões até 60.000 km | R$ 1.949 | R$ 3.044 | R$ 4.284 |
Seguro | R$ 6.056 | R$ 3.843 | R$ 3.933 |
Concessionárias | 540 | 600 | 365 |
Ficha técnica
Golf | Cruze | Focus | |
Motor | flex, diant., transv., 4 cil., 1.399 cm³, 16 V, turbo, 150 cv a 4.500 rpm, 25,5 mkgf a 1.500 rpm |
flex, diant., transv., 4 cil., 1.399 cm³, 16 V, turbo, 153/150 cv a 5.200/5.600 rpm, 24,5/24 mkgf a 2.000/2.100 rpm |
flex, diant., transv., 4 cil., 1.999 cm³, 16 V, 178/175 cv a 6.500 rpm, 22,5/21,1 mkgf a 4.500 rpm |
Câmbio | automático, 6 marchas, tração dianteira | automático, 6 marchas, tração dianteira | automático, 6 marchas, tração dianteira |
Suspensão | McPherson (diant.), eixo de torção | McPherson (diant.), eixo de torção (tras.) | McPherson (diant.), ind. Multlink (tras.) |
Freios | disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.) | disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.). | disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.) |
Direção | elétrica | elétrica | elétrica |
Rodas e pneus | 225/45 R17 | 215/50 R17 | 215/50 R17 |
Peso | 1.238 kg | 1.336 kg | 1.339 kg |
Peso/ Potência | 8,25 kg/cv | 8,73/8,91 kg/cv | 7,86/7,99 kg/cv |
Peso/ Torque | 48,55 kg/mkgf | 54,53/55,67 kg/mkgf | 62,18/66,3 kg/mkgf |
Dimensões | comprimento, 425,5 cm; largura, 179,9 cm; altura, 146,8 cm; entre-eixos, 263,8 cm; porta- -malas, 313l; tanque, 50 l |
comprimento, 444,8 cm; largura, 180,7 cm; altura, 148,4 cm; entre-eixos, 270 cm; porta-malas, 290 l; tanque, 52 l | comprimento, 436 cm; largura, 182,3 cm; altura, 146,9 cm; entre-eixos, 264,8 cm; porta-malas, 316 l; tanque, 55 l |