Pode procurar com calma. É difícil identificar onde estão as mudanças do novo Ford Fiesta. Se você ainda não achou, fica a dica: olhe a frente. Faróis, grade e para-choque são diferentes do modelo fabricado no Brasil desde 2013.
Curiosamente, o fim da sintonia com o europeu ocorre apenas alguns meses após a estreia do novo Polo, lançado quase simultaneamente aqui e na Europa. Será que o reestilizado Fiesta consegue peitar o Polo?
Convocamos as versões mais caras (e recheadas) dos hatches para o embate. No caso do Fiesta, a escolha lógica seria pela versão SEL 1.0 EcoBoost (R$ 69.790), mas ela foi descartada por ser rejeitada pelo mercado, correspondendo a menos de 5% das vendas.
Assim, ficamos com a Titanium (R$ 71.190), que vai a R$ 75.190 com todos os opcionais. Do outro lado está o VW Polo Highline, que parte de R$ 71.760 e pode chegar aos R$ 78.990.
Não é só no visual que Polo e Fiesta se diferenciam. Enquanto o primeiro estreia uma versão diminuída da moderna plataforma modular MQB, o segundo aproveita a mesma base desde 2011, quando a Ford resolveu importar o Fiesta do México.
O design do Polo inaugura a nova identidade visual da VW no país, marcada por traços horizontais e vincos mais marcantes. Há quem critique pela semelhança com o Gol, mas o Polo chama bastante a atenção pelas ruas brasileiras. Já a Ford resolveu atualizar o Fiesta – e a falta de curiosos em torno do modelo indica que pouca gente notou.
A grade frontal ganhou desenho tridimensional com elementos retangulares imitando pedras preciosas. A parte inferior do para-choque reforça a sensação de largura, proporcionada pelo formato das tomadas de ar com faróis de neblina embutidos. Os faróis ganharam luzes de posição em leds na versão Titanium e as lanternas têm novas lentes.
Se as alterações são difíceis de ser notadas do lado de fora, a situação é ainda pior por dentro. A principal novidade é a adoção do SYNC 3.
Bastante intuitiva e responsiva ao toque dos dedos, a central multimídia é fácil de operar e traz diversas funções, incluindo suporte a Android Auto e Apple CarPlay.
Ela também é mais completa do que a central do Polo, pois vem com GPS e câmera de ré – ambos oferecidos à parte no VW. Faltou só um pouco de capricho no console central, herdado do New Fiesta Sedan Titanium Plus.
Além do desenho semelhante ao de uma TV de tubo, a tela de 6,5 polegadas fica em uma posição recuada, dificultando o toque dos dedos em algumas funções.
Já o Polo sai de fábrica com a central Composition Touch. Além de oferecer uma interface mais atraente e as mesmas funções do SYNC 3, o sistema dispõe de espelhamento de smartphone e monitor de 5 polegadas.
Nova referência
Reconhecido por sua boa dirigibilidade, o Fiesta ganhou novos amortecedores na linha 2018. Segundo a Ford, a mudança melhorou a estabilidade nas curvas e suavizou o comportamento do carro nas lombadas. Na prática, o hatch continua um dos modelos mais prazerosos de guiar à venda no Brasil.
Só que o Polo evoluiu – e muito. Sua direção é precisa e a suspensão tem um ajuste privilegiando o conforto – diferentemente da calibragem firme em geral adotada pela VW. O hatch absorve bem as irregularidades do solo e a carroceria rola pouco nas curvas.
As diferenças ficam mais evidentes nas provas de desempenho. Com o conhecido Sigma 1.6 de 125 cv, no nosso teste o Fiesta levou 11,3 segundos para ir de 0 a 100 km/h e 8,2 segundos para retomar de 80 a 120 km/h.
O Polo usa o 1.0 TSI de três cilindros, calibrado para render 128 cv – mais do que os 125 cv do Golf e os 105 cv do Up!. Nossas medições indicaram 10,6 segundos no 0 a 100 km/h e 7,4 de 80 a 120 km/h.
Apesar de titubear um pouco nas reduções de marchas mais baixas, a caixa automática Tiptronic do Polo tem trocas mais suaves e precisas.
No Fiesta não há novidades: o câmbio é o automatizado de dupla embreagem de seis marchas, que abandonou o nome PowerShift.
Além de mais rápido, o Polo consome menos, fazendo 12,1 km/l na cidade e 16 km/l na estrada, contra 11,3 km/l e 14,2 km/l do Fiesta. Foi ele também o melhor nas frenagens e o mais silencioso em todas as medições.
Briga de foice
Alguns detalhes entregam a idade do Fiesta. O quadro de instrumentos analógico tem iluminação azulada e visual datado, contrastando com a moderna central multimídia. O acabamento é sóbrio, sem variação de materiais ou cores.
Enquanto isso, o Polo enche os olhos com uma cabine mais refinada e repleta de texturas diferentes, incluindo uma faixa horizontal na cor cinza com superfície brilhante.
O Fiesta dá o troco com um bom pacote de itens de série, incluindo sensor de chuva, GPS e câmera de ré – todos opcionais no rival. Para equipar o Polo com esses itens, ele sairia por R$ 3.300 – o que dá um total de R$ 72.490, ou R$ 1.300 a mais que o Fiesta. Pelo menos o pacote também inclui sensor de estacionamento dianteiro e painel digital, ambos exclusivos do VW.
Além de ter dois airbags a mais do que o Fiesta, o Polo oferece outros importantes itens de segurança, como controle do freio motor, limpeza automática dos discos de freio e frenagem automática pós-colisão.
De resto, o conteúdo é parelho: controles de estabilidade e de tração, sensor de ré, assistente de partida em rampas, ar-condicionado digital e piloto automático equipam os dois modelos.
Mesmo sem mudanças profundas há quase sete anos, o Fiesta ainda é uma opção interessante. Boa qualidade de construção, dirigibilidade e design são suas principais virtudes. Mas não há como rivalizar com um projeto moderno como o do Polo.
Bonito, ágil, econômico e confortável, o hatch da Volks faz jus à campanha publicitária que o chama de “mini-Golf”, agradando a quem gosta de dirigir.
Tudo isso por uma diferença de só R$ 1.300, já com os equipamentos equivalentes. São essas credenciais que fizeram o Polo vencer nosso comparativo.
Veredicto
Moderno, rápido, econômico e confortável, o Polo é a atual referência no segmento de hatches compactos premium, posto que já foi do Fiesta no passado.
Teste de pista
Polo TSI | Fiesta 1.6 | |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 10,9 s | 11,3 s |
Aceleração de 0 a 1.000 m | 32,1 s | 32,9 s |
Retomada de 40 a 80 km/h (em 3ª) | 4,7 s | 4,9 s |
Retomada de 60 a 100 km/h (em 4ª) | 5,9 s | 6,2 s |
Retomada de 80 a 120 km/h (em 5ª) | 7,4 s | 8,2 s |
Frenagem de 60 / 80 / 120 km/h a 0 em m | 15,6/27,7/61,9 | 17/29,8/67,2 |
Consumo urbano e rodoviário | 12,1 km/l e 16 km/l | 11,3 km/l e 14,2 km/l |
Seguro | n/d | n/d |
Revisões (6) | R$ 3.034 | R$ 4.036 |
Ficha técnica
Polo TSI | Fiesta 1.6 | |
Motor | flex, diant., transv., 3 cil, 12V, injeção direta, 999 cm3, 74,5 x 76,4 mm, 128/116 cv a 5.500 rpm, 20,4 mkgf de 2.000 a 3.500 rpm | flex, diant., 4 cil., 16V, dual VVT, 1 596 cm3, 79 x 81,4 mm, 128/125 cv a 6.500 rpm, 15,7/15,5 mkgf de 4.250 a 5.000 rpm |
Câmbio | automático, 6 marchas, tração dianteira | automatizado duplo embr., 6 marchas, tração dianteira |
Suspensão | McPherson (d) e eixo de torção (t) | McPherson (d) e eixo de torção (t) |
Freios | discos vent. (d) e sólidos (t) | discos vent. (d) e tambor (t) |
Direção | elétrica, 11 m (diâmetro de giro) | elétrica |
Rodas e pneus | liga leve, 185/65 R15 | liga leve, 195/50 R16 |
Dimensões | comprimento, 405,7 cm; largura, 175,1 cm; altura, 146,8 cm; entre-eixos, 256,5 cm; peso, 1.083 kg; peso/potência, 9,26/9,33 kg/cv; peso/torque, 65,64 kg/mkgf; tanque, 52 l; porta-malas, 300 l | comprimento, 396,9 cm; largura, 172,2 cm; altura, 146,4 cm; entre-eixos, 242,1 cm; peso, 1.178 kg; peso/potência, 9,2/ 9,4 kg/cv; peso/torque, 75/76 kg/mkgf; tanque, 52 l; porta-malas, 290 l |