O mercado automotivo categoriza os modelos por carroceria e porte, principalmente. São hatches compactos, sedãs médios, SUVs grandes etc. Mas, na cabeça do consumidor, muitas vezes, o que define uma escolha é o preço.
“É natural que o cliente tenha como foco o preço e muitas vezes acabe misturando algumas categorias no momento da decisão”, diz Milad Neto, consultor automotivo.
Dentro dessa lógica – e levando em consideração que modelos zero- -km, nas faixas de entrada no mercado, são cada vez mais raros –, reunimos aqui quatro modelos com preços até R$ 100.000, que pertencem a categorias distintas com diferenças até mesmo na motorização. O que eles têm em comum? São os últimos nessa faixa de preço com câmbio automático.
O recém-lançado Citroën Basalt chegou e já foi convocado para este confronto, pois estreia com preços competitivos e com o título de SUV cupê mais barato do Brasil. A versão considerada é a intermediária Feel, a mais barata (R$ 96.990) equipada com o câmbio CVT (que simula sete marchas) combinado ao conhecido motor 1.0 turbo (130 cv e 20,4 kgfm). Esse preço é promocional e é uma estratégia que a Stellantis tem seguido nos seus mais recentes lançamentos. Porém, não há validade definida para a promoção (anunciada já com a ameaça de que o preço real é R$ 112.290).
Esse valor promocional é na verdade o desconto obtido por meio da venda direta. Essa modalidade elimina alguns tributos e torna possível a redução de preço. Esse também é o caso do Citroën C3 You!, que tem o mesmo conjunto mecânico do Basalt e custa os mesmos R$ 96.990 (mas apenas enquanto durarem os estoques, segundo a fábrica: depois custará R$ 100.900).
As ameaças de aumento, uma hora, devem ser cumpridas – até para terem credibilidade. Mas a Stellantis controla a duração das promoções, estrategicamente. Outro modelo que segue essa filosofia de preço é o Peugeot 208 2025, porém ele ficou de fora deste comparativo porque seu preço oficial não parava de oscilar, enquanto selecionávamos os carros que entrariam no confronto.
Em um primeiro momento, o site da Peugeot informou que os preços promocionais teriam validade somente até 3 de outubro e o valor da versão Allure CVT iria a R$ 110.990. Depois, a fábrica informou que o preço retornaria para o custo de venda direta de R$ 98.990. Novamente, sem previsão para o fim do estoque. Pelo sim, pelo não, o 208 não entrou.
Outro representante da Stellantis é o Fiat Argo Drive CVT, que foi considerado o automático mais barato do Brasil por um bom tempo e era vendido recentemente por R$ 89.990, porém seu preço subiu para R$ 97.990.
E o quarto modelo alinhado aqui é o Renault Kwid E-Tech, o único elétrico e o único que não é de uma marca da Stellantis (sem ele, este comparativo seria uma briga em família). Ao contrário dos demais, com preços em vias de aumento, segundo as fábricas, o Renault baixou de R$ 124.990 para R$ 99.990, em fevereiro deste ano, reflexo da chegada do BYD Dolphin Mini – que era prometido por menos de R$ 100.000 e acabou desembarcando por R$ 115.800.
Pelo exposto até aqui, ficou claro que preço é importante, mas o consumidor não se deve deixar levar pelo sentimento de urgência estimulado pelos anúncios de promoção. Melhor decidir sem pressa, com consciência. Se você procura um carro até R$ 100.000, veja a seguir como estes quatro se saíram em nossa avaliação.
4º – Renault Kwid E-tech: R$ 99.990
O Renault Kwid E-Tech manteve o título de elétrico mais barato do Brasil, assumindo o preço abaixo dos R$ 100.000, porém faz concessões ousadas em um mercado com consumidores empolgados com tecnologias como uma tela multimídia que se movimenta e acabamento mais refinado – como é o caso do BYD Dolphin Mini, que já é o elétrico mais vendido do Brasil.
Acabamento não é o ponto forte de nenhum representante deste comparativo, mas o Kwid elétrico herda da variante equipada com motor flex o emprego de plásticos rígidos por toda parte da cabine, com textura que remete aos chamados carros populares, dos anos 1990.
Entre as concessões para ser mais barato estão os comandos dos vidros elétricos dianteiros no console central, uma forma de poupar tempo de fabricação e alguns metros de chicotes elétricos. Há também a ausência de comandos no volante para o controle da multimídia de 7” com conexão por cabo com Android Auto e Apple CarPlay. Inclusive os grafismos da central são antiquados e a tela poderia ser mais responsiva. Para completar o pacote de economias, o Kwid é o único do embate que não possui ajustes de volante, o que prejudica a ergonomia.
O Kwid elétrico leva vantagem ao eliminar a necessidade de frequentar o posto de combustível e reduzir drasticamente o custo de manutenção. As seis revisões do Renault Kwid 1.0 flex até os 60.000 km custam R$ 4.194. As do Kwid elétrico somam R$ 1.959. Porém, ser elétrico traz algumas limitações que podem ser um tanto incômodas. O motor elétrico de 65 cv e 11,5 kgfm oferece um 0 a 100 km/h em 14,4 segundos e uma retomada de 80 a 120 km/h em intermináveis 14,9 segundos. Trata-se de um carro limitado para deslocamento urbano. E há ainda o fato de a autonomia ter 185 km (Inmetro).
Outra limitação é o espaço interno que acomoda no máximo quatro adultos e quem for mais alto não viajará com conforto.
A dinâmica é elogiável graças à posição de dirigir mais elevada e às mudanças no conjunto de suspensão, que aproveita o peso das baterias no assoalho, deixando o E-Kwid mais bem assentado.
O E-Tech poderia ser uma opção de segundo carro, para uso urbano e elétrico. Mas, se o foco é ter um carro que atenda a todas as necessidades do dia a dia, ele deixa a desejar. E, por isso, fica em quarto lugar.
Ficha Técnica – Renault Kwid E-tech
Motor: elétrico, dianteiro, transversal, 65 cv, 11,5 kgfm, bateria, 26,8 kWh, autonomia, 185 km
Câmbio: automático, 1 marcha, tração dianteira
Suspensão: McPherson (dianteira), eixo de torção (traseira)
Freios: disco ventilado (diant.), tambor (tras.)
Pneus: liga leve, 175/70 R14
Dimensões: comprimento, 373 cm; largura, 158 cm; altura, 159 cm; entre-eixos, 242 cm; porta-malas, 290 litros; peso, 977 kg
3º – Fiat Argo Drive CVT: R$ 97.990
Na linha 2023, o Fiat Argo estreou duas versões equipadas com o conjunto mecânico amplamente utilizado pela marca: o motor 1.3 aspirado (107 cv e 13,7 kgfm) combinado com câmbio CVT da Aisin, conjunto que também equipava Strada, Pulse e Cronos.
A versão mais barata com esse conjunto mecânico é a Drive e é ela que, desde fevereiro do ano passado, ostenta o título de modelo automático mais barato do Brasil. Porém, seu preço subiu recentemente e o Argo perdeu o posto, embora continue sendo vantajoso em alguns aspectos.
Seu primeiro trunfo é a transmissão CVT competente, ao efetuar as trocas de marcha no tempo certo, sem margem para buracos. E é essa condição que faz com que o Argo seja o mais econômico entre os modelos movidos a combustão: rodando 13,2 km/l na cidade e 17 km/l na estrada. Em relação ao desempenho, não tem milagre, afinal, apesar de ser o mais econômico, o Argo Drive também é o menos potente entre os modelos que aceitam gasolina ou etanol. Uma retomada mais exigente exibe as limitações de um carro que, para ir de 0 a 100 km/h, levou 13,1 segundos. A potência tem seu pico acima de 6.000 rpm e, na estrada, em diversas situações, quase sempre é necessário subir bem o giro, aumentando consideravelmente o nível de ruído na cabine.
No dia a dia, na cidade, o comportamento do Argo é dócil, volante e pedais chamam atenção por serem bem leves. A direção é precisa e o acelerador sensível, responde na medida certa.
Outra virtude que também vale menção é o espaço interno. Apesar de ser um hatch, o espaço para pernas no banco dianteiro (101 cm) é o maior entre os quatro rivais e no traseiro (90 cm) é o mesmo espaço que o Basalt, que é um SUV e tem porte bem maior. O Fiat peca apenas no espaço para cabeça do banco traseiro (88 cm), o menor entre os concorrentes. E não nega que é um hatch ao oferecer enxutos 300 litros de capacidade de porta-malas.
É no pacote de equipamentos que o Argo deixa mais a desejar ao oferecer apenas dois airbags, enquanto todos os concorrentes, dentro e fora da sua categoria, disponibilizam pelo menos quatro. A versão também não conta com câmera de ré e nem rodas de liga leve, presentes nos rivais.
O terceiro lugar fica bem defendido. O Argo é econômico, bom de dirigir, mas, em desempenho e conteúdo, ele não empolga.
Ficha Técnica – Fiat Argo Drive CVT
Motor: flex, diant., transversal, 4 cilindros em linha, 8V, 1.332 cm³; 107 cv a 6.250 rpm, 13,7 kgfm a 3.500 rpm
Câmbio: automático CVT, 7 marchas simuladas; tração dianteira
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), tambor (tras.)
Pneus: aço, 185/60 R15
Dimensões: comprimento, 403,1 cm; largura, 198 cm; altura, 156,8 cm; entre-eixos, 252,1 cm; porta-malas, 300 l; peso, 1.104 kg; tanque de combustível, 47 litros
2º – Citroën C3 You!: R$ 96.990
O título da avaliação do C3 You! em nosso site foi: “Citroën C3 You! é o 1.0 mais rápido do Brasil e (também) o mais barato”. Porém, com a chegada do irmão maior, Basalt, já não podemos cravar que ele está sozinho nesse pódio, pois o SUV cupê estreou com a versão automática (a mais barata) pelo mesmo preço: R$ 96.990.
Uma briga dentro de casa e o C3 You! tem muitos atributos para ser mais considerado. O primeiro é o excelente desempenho: ele continua sendo o 1.0 mais rápido do país. Os irmãos compartilham o mesmo conjunto mecânico formado pelo motor 1.0 turbo da Stellantis (Turbo 200), que rende 130 cv e 20,4 kgfm, com o câmbio CVT de sete marchas simuladas. Porém, é a leveza do C3 que o torna tão rápido (0 a 100 km/h em 9,1 s), ele pesa 1.115 kg, enquanto o Basalt tem 1.191 kg, justificando a diferença na aceleração (o Basalt cravou em nossa pista 9,7 segundos). As retomadas do hatch foram ligeiramente melhores que as do irmão corpulento. De 60 a 100 km/h a diferença foi de 5,7 s (Basalt), para 5,3 s (C3).
Já dissemos que o C3 com motor 1.0 turbo é menos econômico que a versão com o motor 1.0 Firefly (75 cv e 10,7 kgfm), mas ele também perde para o Basalt. Enquanto o C3 fez 12,3 km/l, na cidade, e 14,5 km/l, na estrada, com gasolina. O Basalt fez 12,6 km/l e 16,5 km/l, respectivamente.
No dia a dia, foi possível constatar que o You! é um modelo ágil no trânsito e sua resposta rápida a qualquer toque no pedal do acelerador agradou. E isso pode ser atribuído ao torque máximo (20,4 kgfm) ser entregue cedo: a 1.750 rpm. E é na estrada que esse atributo se torna mais importante, reduzindo o tempo das retomadas, o que significa ultrapassagens mais seguras.
Com um vão livre do solo de 18 cm, um dos maiores do segmento, é possível vencer os obstáculos urbanos como buracos, valetas e lombadas com mais facilidade, mas também torna a carroceria mais suscetível a oscilações laterais.
Uma das novidades da linha 2025 foi a adoção da chave canivete. Porém, algumas limitações se mantiveram presentes, como o quadro de instrumentos monocromático, que não traz nem conta-giros.
A vice-liderança é conquistada pelo desempenho, boa dinâmica e espaço interno generoso. Ele perde ao não ser tão econômico quanto o Basalt e por não ter um conteúdo tão rico quanto o do SUV.
Ficha Técnica – Citroën C3 You!
Motor: flex, dianteiro, transv., 3 cilindros, turbo, 12V, 999 cm³, 130/125 cv a 5.750 rpm; 20,4 kgfm a 1.750 rpm
Câmbio: automático CVT, 7 marchas simuladas; tração dianteira
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco vent. (diant.), tambor (tras.)
Pneus: liga leve, 195/65 R15
Dimensões: comprimento, 398,1 cm; largura, 173,4 cm; altura, 158,7 cm; entre-eixos, 254 cm; porta–malas, 315 litros; peso, 1.115 kg; tanque de combustível, 47 litros
1º – Citroën Basalt Feel: R$ 96.990
O estreante definitivamente não tem sorte de principiante para vencer este embate: ele conseguiu reunir características consideradas importantes para o brasileiro com um preço atraente. Antes dele era necessário desembolsar pelo menos R$ 105.990 por um Fiat Pulse para ter um SUV zero-km na garagem.
Desenvolvido em conjunto com a engenharia da Stellantis na Índia, como parte de um projeto chamado C-Cubed, o SUV cupê é o terceiro carro produzido em Porto Real (RJ) sobre a plataforma CMP (os outros são C3 e C3 Aircross).
O Basalt desperta curiosidade pelo design. A parte dianteira é a mesma do C3 Aircross, mas a partir da coluna B é outro carro. As portas traseiras têm corte diferente para seguir o caimento do teto.
Um dos melhores atributos do Citroën Basalt é o espaço interno. Seus 2,64 m de entre-eixos foram bem aproveitados e adultos com mais de 1,80 metro viajam com conforto no banco traseiro. Até o porta-malas se beneficiou, com capacidade para 490 litros, a maior capacidade entre os carros deste comparativo.
Nada de quadro de instrumentos sem conta-giros por aqui, o Basalt traz de série em todas as versões um painel digital de 7” e rodas de liga leve de 16”. E herda do C3 a central multimídia de 10,25” com conexão com smartphones sem fio com operação intuitiva e grafismos modernos. Durante a nossa convivência, todavia, tanto o Apple CarPlay quanto o Android Auto tiveram o pareamento interrompido e esperamos que seja um caso isolado, pois atrapalha muito a vida a bordo.
O motor 1.0 turbo tem bastante fôlego e a transmissão CVT feita pela Aisin mostra estar muito bem escalonada, sem elevar demais o giro nas acelerações e evitando trancos.
O Basalt se comporta bem na cidade, mostrando ser macio ao rodar e com ajuste de suspensão que filtra a maior parte das irregularidades do asfalto.
Na estrada, o comportamento é bom até chegar aos 120 km/h, quando a altura da carroceria o torna suscetível a ventos laterais, assim como o C3 You!, e passa a sensação de que a carroceria flutua, provocando insegurança ao volante.
Ele ganha pelo conjunto da obra: bom desempenho, econômico, boa dinâmica, pacote de equipamentos mais completo e espaço suficiente para quatro adultos altos, com direito a uma mala cada um.
Ficha Técnica – Citroën Basalt Feel
Motor: flex, dianteiro, transversal, 3 cilindros, turbo, 12V, 999 cm³, 130/125 cv a 5.750 rpm; 20,4 kgfm a 1.750 rpm
Câmbio: autom. CVT, 7 marchas simuladas; tração dianteira
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco vent. (dianteiro), tambor (traseiro)
Pneus: liga leve, 205/60 R16
Dimensões: comprimento, 434,3 cm; largura, 182,1 cm; altura, 158,5 cm; entre-eixos, 264,5 cm; porta-malas, 490 litros; peso, 1.191 kg; tanque de combustível, 47 litros
Veredicto Quatro Rodas
Com foco no custo/benefício, o Citroën Basalt é o que entrega mais por menos. O C3 You! quase chegou lá. Lhe faltou justamente o conjuto do irmão. O Argo pecou em conteúdo e desempenho. E o Kwid, no uso limitado às viagens urbanas.
Aceleração | Basalt 1.0 turbo | C3 1.0 turbo | Argo 1.3 CVT | Kwid e-Tech |
0 a 100 km/h | 9,7 s | 9,1 s | 13,1 s | 14,4 s |
0 a 1.000 m | 31,5 s – 162,8 km/h | 31,1 s – 162,2 km/h | 35 s – 147,3 km/h | 37,1 s – 124,5 km/h |
Velocidade máxima* | 199 km/h | 194 km/h | 180 km/h | 130 km/h |
Retomadas | ||||
D 40 a 80 km/h | 4,4 s | 4,1 s | 5,5 s | 6,1 s |
D 60 a 100 km/h | 5,7 s | 5,3 s | 7,2 s | 9,6 s |
D 80 a 120 km/h | 7,5 s | 7 s | 10,2 s | 14,9 s |
Frenagens | ||||
60/80/120 km/h a 0 | 14,1/24,2/57,4 m | 14/25,2/58,7 m | 14,5/25,8/58,8 m | 15,1/27,4/63,7 m |
Consumo | ||||
Urbano | 12,6 km/l | 12,3 km/l | 13,2 km/l | 9,5 km/kWh |
Rodoviário | 16,5 km/l | 14,5 km/l | 17 km/l | 8,4 km/kWh |
Ruído interno | ||||
Neutro/RPM máx. | 43,7/62,8 dBA | 46,2/66 dBA | 45,8/71,5 dBA | -/- dBA |
80/120 km/h | 60,8/67,7 dBA | 63/69,3 dBA | 65,1/71,1 dBA | 68/73,1 dBA |
Aferição | ||||
Velocidade real a 100 km/h | 94 km/h | 94 km/h | 98 km/h | 97 km/h |
Rotação do motor a 100 km/h em D | 1.800 rpm | – | 2.100 rpm | – |
Seu bolso | ||||
Preço | R$96.990 | R$96.990 | R$97.990 | R$99.990 |
Garantia | 3 anos | 3 anos | 3 anos | 3 anos |
Concessionárias | 182 | 182 | 537 | 300 |
*Dados de fábrica