Montana, Toro ou Oroch, qual é a melhor picape intermediária do Brasil?
Caminhonetes de Fiat, Renault e Chevrolet têm dimensões semelhantes e são equipadas com motor turbo mas, mesmo assim, guardam muitas diferenças
Chegou a hora de um dos embates mais aguardados do ano. A nova Chevrolet Montana, que se tornou uma picape intermediária a partir da linha 2023, tem a oportunidade de ficar frente a frente com as suas principais e novas rivais: Fiat Toro e Renault Oroch.
Reunimos as três picapes para saber qual delas é a melhor opção para um público urbano que, declaradamente, usa a caçamba como se fosse um porta-malas, deseja a dirigibilidade e porte de SUV e dificilmente sujará os pneus de lama.
O comparativo foi estabelecido pela proximidade de preços, tendo a versão topo de linha da Montana, Premier, como ponto de partida – porque, até então, esta era a única configuração disponibilizada pela Chevrolet para testes.
O preço da Montana (que já teve seu primeiro reajuste) começa em R$ 142.590 na versão aqui mostrada, sempre com motor 1.2 turbo. A Renault Oroch também participa com sua versão mais cara, Outsider, a única com motorização 1.3 turbo e que parte de R$ 146.900. Já a Fiat Toro vai a outro extremo e entra com a sua configuração mais barata, a Endurance, que mantém o motor 1.3 turbo das demais versões e começa em R$ 146.990.
A Fiat Strada também alinha com a nova Montana, mas em um patamar inferior de preços. A Strada briga com versões mais em conta da Chevrolet, como a LTZ e as configurações manuais.
Embora pertençam ao mesmo segmento, as três guardam características muito próprias, o que exigiu um exame criterioso de nossa parte. Se você tem interesse pelas picapes intermediárias, leia com atenção.
3º – Renault Oroch Outsider – R$ 146.900
A Oroch tem o porte mais parecido com o da Montana: são apenas 2 milímetros a mais na picape da Renault. Porém, ela também é a dona do projeto mais antigo. Mesmo passando por mudanças significativas no início de 2022, ainda tem como base o antigo Duster, e isso aparece no visual e no comportamento, da batida seca das portas à dirigibilidade.
A versão Outsider é a única com o motor 1.3 turbo de 163/170 cv (gasolina/etanol) e 27,5 kgfm, feito em parceria com a Mercedes-Benz, e acompanhado de um câmbio CVT que simula oito marchas. O conjunto é a estrela da Oroch e dá a ela bom desempenho.
Em nossos testes, com gasolina, ela levou 10,4 segundos para ir de 0 a 100 km/h – mais que a Montana e menos que a Toro. Porém, o motor parece entregar força além do que a picape foi idealizada para receber.
Uma pressão a mais no pedal do acelerador faz com que ela destracione e recorra aos controles de estabilidade e tração, em retas ou curvas. O consumo é o pior entre as rivais, com 8,3 km/l na cidade e 11,8 km/l na estrada.
A Oroch prova robustez na suspensão, que enfrenta terrenos acidentados com tranquilidade e tem boa estabilidade em rodovias, exceto em curvas mais fechadas, onde convém não abusar. Na cidade, ela é a que mais “pula” (por ter a traseira leve e a suspensão pronta para receber peso na caçamba) e a direção mais pesada (a única eletro-hidráulica). No quesito espaço e carga, ela pode carregar até 650 kg (mais que a Montana), mas a caçamba de 683 litros é a menor do trio. O espaço interno traseiro também é o pior do comparativo.
Se por fora a aparência da Oroch é quase a mesma desde que foi lançada, por dentro ela mudou por completo há um ano, mas o resultado não é bom. O painel mistura elementos de Captur e Duster, e soluções exclusivas.
O acabamento tem materiais simples, rebarbas aparentes e há poucos e inadequados porta-objetos. Há multimídia de 8 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, carregador de celular por indução, ar digital, faróis de neblina e milha, piloto automático e bancos com imitação de couro. Não há chave presencial, faróis automáticos e/ou de led, ajuste de profundidade no volante e são apenas dois airbags, mesmo nesta versão mais cara.
Antiquada, com mais erros que acertos e uma das mais caras, a Oroch certamente será afetada pela nova Montana. Fica em terceiro lugar.
Ficha Técnica – Renault Oroch 1.3 Turbo
Motor: flex, dianteiro, 4 cilindros, turbo, injeção direta, 16V, 1.330 cm³, 163/170 cv a 6.000 rpm, 27,5 kgfm a 1.600 rpm (etanol/gasolina)
Câmbio: CVT, 8 marchas virtuais, tração dianteira 4×2
Direção: eletro-hidráulica
Suspensão: McPherson (diant.), multilink (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
Pneus: 215/65 R16
Peso: 1.432 kg
Peso/potência: 8,8/8,4 kg/cv
Peso/torque: 52,1 kg/kgfm
Dimensões: comprimento, 471,9 cm; largura, 183,4 cm; altura, 169,4 cm; entre-eixos, 282,9 cm; distância do solo, 21,2 cm
Capacidades: caçamba, 683 litros; capacidade de carga útil, 650 kg; carga máxima rebocável, 710 kg; tanque de combustível, 45 litros
2º – Fiat Toro Endurance – R$ 146.990
A atual líder do segmento também é a maior e mais potente, mas a mais cara e menos equipada, já que se trata de uma versão de entrada contra duas topo de linha. O motor 1.3 turbo (o mesmo de modelos como Compass e Pulse Abarth) entrega 180/185 cv (gasolina/etanol) e 27,5 kgfm, sempre acompanhado de um câmbio de seis marchas.
Apesar dos números do motor, a Toro é a mais pesada (1.650 kg) e foi a mais lenta em nossos testes, levou 10,9 segundos para ir de 0 a 100 km/h, com gasolina. Seu consumo é melhor que o da Oroch, com 9,3 km/l na cidade e 12,8 km/l em ciclo rodoviário.
A dirigibilidade é de um SUV médio, com boa estabilidade mesmo em curvas mais fechadas. A suspensão (McPherson, na frente, e multilink, atrás, como a da Oroch) é robusta e macia, e não transmite pancadas abruptas aos ocupantes, nem solavancos . Já a direção, mesmo elétrica, tem um certo peso que faz jus a um carro tão pesado e potente.
A Toro leva a melhor em vários aspectos. Sua caçamba de 937 litros é a maior, assim como a capacidade de carga, de 750 kg, e o espaço interno. No reboque ela é pior que a Oroch. Pode puxar até 400 kg, contra 650 kg. A Montana não permite o uso de reboques.
Tudo isso faz sentido diante do maior porte da Toro, com 23 cm a mais no comprimento diante das rivais. Por fora, o visual já é conhecido e a Toro Endurance é a única da linha com faróis halógenos, mesmo que a luz diurna seja de led. Mas há bastante simplicidade pela ausência de cromados e faróis de neblina.
Os retrovisores e as maçanetas são de plástico sem pintura e as rodas são de aço cobertas por calotas. Já o interior surpreende por se tratar de uma versão básica. Há conforto, acabamento de padrão mediano e uma mistura de materiais e texturas no painel, com imitações de aço escovado.
A simplicidade reaparece na lista de equipamentos, mas há certo equilíbrio. Esqueça câmera de ré, faróis automáticos, ar digital, bancos que imitam couro, chave presencial e carregador por indução. Nada disso é oferecido. Mas há quadro de instrumentos digital de 7 polegadas, multimídia de 7 polegadas (a menor do trio) com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, piloto automático, sensores de estacionamento traseiros e seis airbags de série.
A Endurance vai bem em segurança, robustez, força e espaço, mas deve em itens de conveniência e conforto, e tem aparência muito despojada. Em resumo, termina em segundo.
Ficha Técnica – Fiat Toro Endurance 1.3 turbo
Motor: flex, dianteiro, 4 cilindros, turbo, injeção direta, 16V, 1.332 cm³, 180/185 cv a 5.750 rpm, 27,5 kgfm a 1.750 rpm (etanol/gasolina)
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira 4×2
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), multilink (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
Pneus: 215/65 R16
Peso: 1.650 kg
Peso/potência: 9,2/8,9 kg/cv
Peso/torque: 60 kg/kgfm
Dimensões: comprimento, 494,5 cm; largura, 184,4 cm; altura, 167,3 cm; entre-eixos, 298,2 cm; distância do solo, 24,8 cm
Capacidades: caçamba, 937 litros; capacidade de carga útil, 750 kg; carga máxima rebocável, 400 kg; tanque de combustível, 55 litros
1º – Chevrolet Montana Premier – R$ 142.590
Como novata da turma, a Montana tem quase como obrigação aprender com os erros e acertos das concorrentes. E esse trabalho ela fez muito bem. Para ficar competitiva, porém, precisou de uma base mais barata (de Onix e Tracker), o que não a livra de pontos fracos.
Seu motor 1.2 turbo é o menor e menos potente da turma, com seus 132/133 cv e 19,4/21,4 kgfm (gasolina/etanol), sempre com câmbio automático de seis marchas. Mesmo assim, ela é a mais leve (1.310 kg) e surpreende ao se revelar a mais rápida do trio.
Em nossos testes, com gasolina, a Montana Premier foi de 0 a 100 km/h em 9,9 segundos. O consumo também foi o melhor, com as médias de 11,3 km/l na cidade e 14,9 km/l na estrada. Em movimento, ela é a que mais se aproxima de um carro compacto, com agilidade e direção leve.
Sua suspensão é mais rígida, mas não repassa as pancadas aos ocupantes. Uma das economias da Montana e herança do Onix está na suspensão traseira, por eixo de torção. Para evitar uma estrutura multilink, a GM adotou um duplo batente, que deixa a picape confortável com ou sem carga. Solução barata que deu bom resultado.
As capacidades da Montana têm mais baixos que altos: ela leva apenas 600 kg de carga e não pode utilizar reboque. Mas a caçamba é maior que a da Oroch e a mais eficiente, já que cumpre a promessa de menor invasão de água. Pudemos conferir: mesmo sob chuva torrencial, o compartimento segue intacto, grande vantagem para quem usa a caçamba como um porta-malas – ou seja, a esmagadora maioria de seus compradores.
Por fora, ela tem personalidade, rodas de 17” escurecidas e faróis automáticos de led. Por dentro, o acabamento é bom, com direito a superfícies de toque rígido, porém emborrachado. A multimídia é de 8” com visual inédito na linha GM do Brasil, com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, mas o quadro de instrumentos é o mesmo do Onix.
A lista de equipamentos segue com carregador de celulares por indução, câmera de ré, wi-fi, seis airbags, alerta de pontos cegos, piloto automático e monitoramento de pressão dos pneus. Há, como opcional, um subwoofer assinado pela JBL.
A Montana supera as rivais na faixa dos R$ 140.000. É a mais rápida, econômica, equipada, trata bem ocupantes e carga, e ainda é a mais barata. Por isso, vence o comparativo.
Ficha Técnica – Chevrolet Montana Premier 1.2 turbo
Motor: flex, dianteiro, 3 cilindros, turbo, injeção direta, 12V, 1.199 cm³, 132/133 cv a 5.500 rpm, 19,4/21,4 kgfm a 2.000 rpm (etanol/gasolina)
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira 4×2
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
Pneus: 215/55 R17
Peso: 1.310 kg
Peso/potência: 9,9/9,8 kg/cv
Peso/torque: 67,5/62,1 kg/kgfm
Dimensões: comprimento, 471,7 cm; largura, 179,8 cm; altura, 165,9 cm; entre-eixos, 280 cm; distância do solo, 18,5 cm
Capacidades: caçamba, 874 litros; capacidade de carga útil, 600 kg; carga máxima rebocável, n/d; tanque de combustível, 44 litros
Veredicto Quatro Rodas
A Oroch fica em terceiro lugar por ser antiquada e não tratar tão bem os ocupantes, isso sendo mais cara que a Montana. Já a Toro vai bem no espaço e nas capacidades, mas é muito básica. A Montana vence pelo equilíbrio. Não tem as maiores capacidades de carga, mas é a que melhor atende para o dia a dia, a mais econômica, rápida e equipada. Ainda é a mais nova e a mais barata.
Teste Comparativo Quatro Rodas
Aceleração | Montana | Toro | Oroch |
0 a 100 km/h | 9,9 s | 10,9 s | 10,4 s |
0 a 1.000 m | 31,5 s – 163,61 | 32,2 s – 161,8 km/h | 31,8 – 165,4 kmh |
Velocidade Máxima (dado de fábrica) | n/d | 200 km/h | 189 km/h |
Retomadas | |||
D 40 a 80 km/h | 4,4 s | 4,8 s | 4,7 s |
D 60 a 100 km/h | 5,8 s | 6,3 s | 5,6 s |
D 80 a 120 km/h | 7,3 s | 8 s | 7 s |
Frenagens | |||
60/80/120 km/h a 0 | 13,3/23,5/53,2 m | 15,4/27,5/63,9 m | 18,1/29,4/63,7 m |
Consumo | |||
Urbano | 11,3 km/l | 9,3 km/l | 8,3 km/l |
Rodoviário | 14,9 km/l | 12,8 km/l | 11,8 km/l |
Ruído Interno | |||
Neutro/RPM máx. | 44/67,5 dBA | 64,5/74,7 dBA | 66,2/73,8 dBA |
80/120 km/h | 63,2/69,2 dBA | 64,5/74,7 dBA | 66,2/73,8 dBA |
Aferição | |||
Velocidade real a 100 km/h | 97 km/h | 97 km/h | 97 km/h |
Rotaçnao do motor a 100 km/h em 5º | 2.000 rpm | 1.900 rpm | 1.750 rpm |
Volante | 2,7 voltas | 2,7 voltas | 3 voltas |
Seu bolso | |||
Preço | R$ 140.490 | R$ 146.990 | R$ 146.900 |
Garantia | 3 anos | 3 anos | 3 anos |
Concessionárias | 553 | 520 | 295 |
Revisões até 60.000 km | R$ 4.864 | R$ 5.656 | R$ 5.020 |
Condições de teste (montana/toro/oroch): alt. 660 m; temp., 25/30/33,5°C; umid. relat., 77/62/45,5%; press.,1.013,5/1.012/1.036 kPa