Não está fácil para as marcas e seus modelos se diferenciarem num segmento de mercado em que os carros têm tecnologia equivalente, design desejável e qualidade de construção próxima do limite. Por isso, quem pode – e tem coragem de arriscar – acaba criando nichos em busca de um público que ainda não se encontrou nas categorias convencionais. A BMW já fez isso com o utilitário esportivamente anabolizado X6 e o Série 5 Gran Turismo, uma mistura de SUV, sedã e perua. Agora a marca volta à receita do 5 GT, apresentado em 2009, para lançar no Brasil no segundo semestre o Série 3 GT, que quer aliar a esportividade do sedã, o espaço de carga da perua e a altura e acessibilidade do SUV. Para chegar a essa combinação, ele é 20 cm mais longo que a perua, tem entre-eixos 11 cm maior (usa a plataforma do Série 3 L, vendido na China) e é 8,1 cm mais alto. Entre as versões a gasolina, terá o 320i de 184 cv, o 328i de 245 cv e o 335i de 306 cv.
Por fora, nota-se uma grade maior e com inclinação diferente, novos vincos laterais (para compensar a altura superior), linha de cintura mais ascendente que no sedã e abertura no para-lama dianteiro que faz parte de um novo sistema que melhora a aerodinâmica junto às rodas. Para finalizar, há um spoiler traseiro móvel: acima de 110 km/h ele se estica automaticamente para criar pressão sobre a traseira, voltando a recolher abaixo dos 70 km/h.
O painel é o já conhecido da Série 3, ligeiramente voltado para o motorista. A maior mudança interna é a posição 6 cm mais alta dos bancos, para melhorar a visibilidade e facilitar a entrada e saída.
Há ainda 7 cm extras para as pernas de quem vai atrás, mas a largura um pouco limitada e o enorme túnel no piso fazem com que ali seja mais indicado para duas pessoas. O encosto traseiro tem inclinação regulável no todo ou em três partes separadas (na proporção 40:20:40), com acesso tanto pela frente quanto pelo porta-malas. A enorme tampa traseira é elétrica, podendo ser aberta passando um pé sob o para-choque, e tem sua altura ajustável, para evitar que ela bata num teto baixo. O porta-malas de 520 litros oferece 40 mais que o sedã e 25 que a perua.
O monobloco é a conhecida e muito competente base do Série 3, o que ajuda a explicar o excelente comportamento na maioria das situações. Já os pneus run flat (que rodam a até 80 km/h mesmo furados) não convenceram, revelando-se barulhentos no contato com o piso. Ao ter 3 cm a mais na altura do solo, o 3 GT permite um pouco mais de movimento da carroceria nas transferências de massas (principalmente inclinando em curvas) que o sedã e a perua.
Para motoristas que preferem um comportamento mais esportivo, é possível selecionar a posição Sport ou Sport+ (esta desliga o ESP) da suspensão pneumática e contrariar um pouco a afinação padrão, ao mesmo tempo que a escolha desses programas ajusta também a resposta do motor e do excelente câmbio automatizado de oito marchas (opcional, pois o básico é o manual de seis marchas).
Esse sistema de alteração de personalidade do Série 3 GT é um opcional – chamado pela BMW de Driving Experience – que deve ser considerado, uma vez que permite que o modelo mostre todas as virtudes de uma personalidade tão cheia de nuances. Percebe-se que o novo carro não perdeu em esportividade, já que em Sport e Sport+ a essência de BMW está toda lá, sendo que é nesses programas que melhor se aprecia a resposta superior nas entradas de curva e o total equilíbrio na divisão de peso (50/50). Há ainda o benefício do modo Eco Pro, que permite a redução do consumo, que pode ser acompanhada pelo painel em número de quilômetros extras conquistados.
O motor é o sofisticado 3.0 de seis cilindros em linha, com turbo, injeção direta, abertura variável das válvulas (Valvetronic) e variação do eixo de comando (double Vanos). O torque máximo de 40,8 mkgf, alcançado logo a 1 200 rpm (e mantendo-se no pico até 5 000 rpm), é um reflexo dessa tecnologia. Em nosso test-drive em Palermo (Itália), só tivemos a chance de dirigir o 335i GT automatizado de oito marchas, que mostrou que qualquer pressão mais forte no acelerador tinha como consequência a ativação da função kickdown, com a redução de uma marcha e o consequente disparo do 3 GT à frente. O motor respira muito bem em altas rotações e os freios só mostram os primeiros sinais de fadiga após algum tempo de severa exigência. Quando comparado com o sedã ou a perua, percebemos que o peso maior (135 e 65 kg, respectivamente) afetou levemente o desempenho: mais 0,4 e 0,2 segundo no 0 a 100 km/h e mais 0,6 e 0,4 segundo de 80 a 120 km/h em quarta. Porém é uma perda pequena frente ao ganho de conseguir combinar três personalidades de automóvel tão distintas.
VEREDICTO
No meio do caminho entre um SUV e um sedã, o GT 3 traz ainda facilidades de perua para quem quer aliar espaço, esportividade e posição mais alta de dirigir, sem abrir mão da aura BMW.