Os carros da Lotus fizeram sua fama por serem baratos e divertidos. É uma receita que combina tamanho compacto, baixo peso, motor central, tração traseira e foco no prazer de dirigir. O novo Alfa Romeo 4C trilhou esse caminho para encantar quem sonha com doses generosas de esportividade por pouco preço. Mas vamos ser justos: mais que seguir a escola inglesa, o esportivo italiano resgata essa fórmula que a marca já usou no passado e se perdeu com o tempo, a partir da sua aquisição pela Fiat, em 1986. Basta dizer que este é o primeiro cupê de tração traseira daAlfa em quase 20 anos (excetuando o 8C Competizione, de 2007, série limitada a apenas 500 unidades).
O 4C orgulha-se, portanto, de suas origens. E não é para menos: ficam evidentes as semelhanças genéticas no design, além de se beneficiar da experiência adquirida no desenvolvimento do irmão maior 8C, como o uso de materiais leves.As formas voluptuosas também rementem ao cupê de 2007. São linhas atraentes que não só deleitam o olhar como têm função aerodinâmica. A carroceria envolvente sugere músculos avantajados, abraçando os faróis circulares e as entradas de ar laterais na traseira, que aqui também servem para refrigerar o intercooler do motor turbo de quatro cilindros e 1,7 litro, com 240 cv.
O interior bebe também nas fontes do passado: a simplicidade do painel e acabamento estão aqui para lembrar que o que interessa é apenas o prazer de dirigir – por isso nem mesmo o ar-condicionado e sistema de som são de série. Enquanto em outros esportivos instrumentos e console central são levemente direcionados para o piloto, no 4C os comandos estão quase totalmente voltados para seu assento. Aqui ele é o centro de tudo, e só interessa o essencial para a pilotagem. É o caso da simples tela digital que faz as vezes de quadro de instrumentos, que parece que foi tirada de uma moto. Mas ela é de fácil leitura e pode ser configurada para mostrar toda informação relevante ao motorista – até a aceleração lateral pode ser checada no meio da curva.
A escolha dos revestimentos internos não busca a beleza, mas a simplicidade, para reduzir sempre peso e custo.A própria estrutura do veículo é visível às vezes, caso dos batentes da porta de fibra de carbono. Os bancos finos e envolventes, os pedais de alumínio e a textura rugosa do painel são detalhes que nos levam ao universo das corridas.
Para o máximo de prazer ao volante, a Alfa trabalhou uma combinação de três características: centro de gravidade extremamente baixo aliado à tração traseira (que assegura maior aderência na aceleração ou uma entrada de curva mais rápida), motor central (que elimina a necessidade do túnel da transmissão no assoalho) e uma divisão de peso de 40% à frente e 60% atrás, melhorando seu equilíbrio.
Para permitir que o 4C fosse um esportivo de alto desempenho relativamente barato, foram buscar um motor que havia dentro de casa, um quatro-cilindros de 1,7 litro. Para que seus 240 cv rendessem mais na pista, a única solução foi trabalhar com um carro peso-pluma – são só 895 kg, mais leve que um Chevrolet Celta. Para isso, materiais como fibra de carbono (25% do total do veículo) aplicada no monocoque, que tem função estrutural. Ou o alumínio no reforço do teto e nas estruturas dianteira e traseira. Ou o aço composto, bem mais leve (1,5 g/cm3) que o tradicional (7,8 g/cm3) ou o alumínio (2,7 g/cm3), além de ser mais maleável.
A direção é como nos carros de corridas, sem assistência, o que lhe confere um feeling especialmente direto e sem filtros – os engenheiros italianos garantem que é possível fazer 90% das curvas sem mover nenhuma das mãos do volante. E foi exatamente a impressão que tive ao dirigi-lo em um circuito fechado e em estradas públicas na região de Vercelli, norte de Milão. Mas se a direção se mostra muito direta e precisa, ela não se dá nada bem com pisos irregulares, que transmitem vibração excessiva aos braços. A culpa também é da suspensão mais esportiva (amortecedores duros e pneus de baixo perfil, 205/40 ZR18 à frente e 235/35 ZR19 atrás) do 4C avaliado, que tinha um pacote opcional.
A posição de dirigir permite uma excelente interação com a máquina: boa ergonomia, banco bem baixo e envolvente (mas um pouco estreito) e borboletas no volante. Giramos a chave (falha imperdoável: não há botão de partida neste esportivo) e o motor revela logo seu ronco grave – nem parece ser apenas um quatro-cilindros. Depois é só escolher a programação do câmbio automatizado de seis marchas, sempre muito rápido e suave graças à caixa de dupla embreagem. Conforme o ajuste, ele vai ficando mais nervoso, subindo a partir de All Weather, Natural, Dynamic e Race. Neste último, que altera ainda o som e a resposta do motor, o controle de estabilidade (ESP) fica de folga, até precisar entrar em ação depois que o carro passa do seu limite.
Quando o test-drive chegou ao autódromo, pude desligar o ESP e comprovar que maravilha é pilotá-lo num circuito fechado. Chegar a uma curva em alta velocidade ou acelerar forte lá no meio provoca deliciosas (e controláveis) saídas de traseira, que tanto podem ajudar na sua entrada de curva como apenas elevar a adrenalina.
Na pista fica evidente ainda como ele freia muito bem (o dado de fábrica é de 35 metros a 100 km/h, abaixo dos 39 metros do Mercedes A 45 AMG no teste da QUATRO RODAS). Esse ótimo resultado se deve em grande parte ao peso reduzido, que também mostra seu valor nas acelerações: são só 4,5 segundos no 0 a 100 km/h – o A 45 AMG, com 360 cv, levou 5,2 no nosso teste. Já a máxima divulgada é de 258 km/h.Vamos ao preço: o 4C custa na Europa a partir de 54 000 euros, abaixo dos 57 000 euros do Porsche Cayman (265 cv e longos 5,7 segundos no 0 a 100 km/h) e ainda menos que o Audi TT RS (340 cv e 4,6 segundos), de 66 000 euros.
Em resumo, o 4C não vai salvar as finanças da Alfa, mas é seu modelo mais importante em décadas, pela tecnologia, pela demonstração de capacidade técnica e pela imagem que pode ser aproveitada pelos futuros carro de larga escala. Por isso é uma pena que a marca não esteja mais no Brasil…
VEREDICTO
Provocante na aparência e minimalista no interior, o Alfa 4C seduz por oferecer o prazer de uma pilotagem de corrida para as ruas a um preço inferior ao dos concorrentes.