Quando soube que dirigiria o novo BMW M2 em uma visita à Munique, na Alemanha, fiquei empolgado. Afinal, seria o primeiro jornalista brasileiro a andar no recém-apresentado esportivo, que está confirmado para desembarcar no Brasil em 2023. Logo depois, soube que pilotaria o modelo no metaverso, uma espécie de mundo virtual.
Confesso que a empolgação perdeu força. Afinal, para bons gearheads, não há simulação que corresponda à realidade. No entanto, mal sabia eu que estava prestes a trazer em primeira mão aos leitores de QUATRO RODAS um teste diferente de tudo o que já foi visto. A direção foi real, mas em outra dimensão. Explicarei nos próximos parágrafos.
Realidade mista
A BMW vive uma fase com grande foco na digitalização, o que inclui investimentos em multimídia, assistentes virtuais e sensações que possam transportar seus clientes a uma realidade paralela – mas não quer que isso tire o prazer de dirigir. Por isso, escolheu uma forma bem inusitada para o primeiro contato de jornalistas de todo o mundo com o novo M2.
O local escolhido foi a base aérea de Fürstenfeldbrück, que já serviu como uma base de treinamento militar alemã. Próxima a Munique, a base foi adquirida pela BMW para a realização de testes e atividades de maior sigilo.
Lá, um BMW M2 de verdade e todo adesivado nos esperava, retomando assim minhas esperanças de que não seria apenas uma condução virtual. E não foi. A marca aproveitou as dimensões grandiosas da maior pista de pouso e decolagem da antiga base aérea, e construiu um circuito virtual, no formato de um número 8, que coubesse no espaço físico.
Ao entrar no carro, um co-piloto deu as instruções e um óculos de realidade virtual para que eu “vestisse”. Com câmeras, os óculos ainda permitiam que eu visse o que acontecia no mundo real para poder sair da área de segurança, onde a troca de motorista era feita. Saindo desta área, dirigindo de verdade, eu também saí do mundo real.
Os óculos me levaram a um mundo virtual e paralelo, cheio de luzes e cores, com uma indicação de largada, onde uma contagem regressiva era iniciada. A partir dali, começava uma das experiências mais estranhas e surpreendentes que já tive ao volante de um carro.
A direção era real, eu estava acelerando, freando e fazendo curvas com um BMW M2, mas em uma pista virtual, com “moedas” que precisavam ser buscadas para aprendizado do traçado da pista. Algumas “paredes” surgiam no caminho para que eu desviasse e pudesse ficar em posição de apontar para as curvas.
Confesso, novamente, que por alguns minutos me esqueci que estava fazendo tudo isso em uma pista reta de um aeroporto. A direção só não era mais real porque algumas manobras tinham milésimos de segundos de diferença entre a vida real e a virtual. As curvas, por exemplo, chegavam antes do que aparentavam e forçavam frenagens mais intensas até que eu pudesse pegar o ritmo.
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Agradável aos olhos e aos braços
Na aparência, não dá para negar que o novo M2, que pode ser o último novo modelo da divisão M puramente a combustão, causou polêmica quando foi apresentado. Os traços retilíneos e as aberturas quadradas dedicados aos para-choques fizeram muita gente torcer o nariz. Porém, posso garantir: pessoalmente o resultado é muito melhor.
O cupê tem uma aparência ainda mais esportiva, e as linhas acabam por ser mais limpas do que nas versões comuns do Série 2. O interior é típico da nova geração da BMW e combina elementos horizontais do painel ao conjunto curvo de telas, que representam o quadro de instrumentos (12,3 polegadas) e a central multimídia (14,9 polegadas).
Todo o acabamento é de ótima qualidade, com materiais e montagem caprichados. Os bancos, em formato de concha, têm abas bastante pronunciadas para segurar o corpo nas curvas. Só não espere muito conforto deles, apesar dos ajustes elétricos.
Nosso contato com o M2 foi curto e nada convencional, como já dito acima. Além disso, a chuva insistente e a temperatura por volta de 2°C também não permitiu grandes estripulias, mas deu para sentir um pouco do que os 460 cv e 56,1 kgfm, vindos do 3.0 turbo de seis cilindros, são capazes.
Para maior segurança na experiência digital, o modelo conduzido era equipado com câmbio automático de oito marchas – e não com clássico manual de seis marchas. Mesmo assim, a condução do cupê esportivo é empolgante, com arrancadas vigorosas, trocas rápidas de marcha e um belo e grave ronco expelido pelas quatro saídas de escape.
Um fato curioso é que, apesar do desejo por um câmbio manual, ele torna o M2 mais “lento”, segundo a BMW. A marca diz que, quando com câmbio manual, o esportivo vai de 0 a 100 km/h em 4,3 segundos. O número cai para 4,1 segundos com a transmissão automática.
Mesmo com tração traseira, o M2 saiu de dianteira nas tentativas de frenagens mais abruptas em curvas, já que, como disse há pouco, há um certo descompaso no tempo de frenagem no circuito virtual. A direção é o que se espera de um M, direta e com dose certa de peso para domar o cupê.
Veredicto
A experiência de guiar um carro em um misto de mundo real e digital foi diferente de tudo, mas ficou melhor pela companhia do novo M2. O esportivo, que promete ser o último M puramente a combustão, é como todo purista gosta. Por enquanto, o que nos resta é aguardar pelo lançamento do modelo por aqui, em 2023, para poder dirigi-lo em um circuito de verdade.