Volkswagen quer fechar fábricas na Alemanha pela primeira vez na história
Em crise, a Volkswagen tenta economizar 10 bilhões de euros até 2026 e, para isso, quer fechar duas fábricas na Alemanha
A Volkswagen está passando por uma situação econômica delicada. Com o intuito de economizar cerca de 10 bilhões de euros até 2026, a montadora pode fechar duas fábricas na Alemanha, sendo uma de automóveis de passeio e a outra de componentes.
O mais alarmante nisso é: em seus 87 anos de história, a Volkswagen nunca fechou uma fábrica em seu país natal.
De acordo com analistas alemães, as unidades de Osnabrück e Dresden são as principais candidatas. A decisão está passando por forte resistência dos sindicatos, muito influentes dentro do grupo alemão.
Além do fechamento, a montadora também pretende encerrar o programa programa de estabilidade de emprego, criado em 1994 e que proíbe o cortes de funcionários até 2029. Atualmente, o Grupo VW emprega mais de 650.000 funcionários em todo o mundo, dos quais aproximadamente 300.000 estão na Alemanha.
“A situação é extremamente tensa e não pode ser superada por simples medidas de corte de custos”, disse Thomas Schaefer, chefe da marca Volkswagen, em um comunicado.
Só neste ano, as ações da VW já acumulam uma queda de 13%. Além disso, a empresa vem reduzindo as margens de lucro de sua marca homônima, operando na casa dos 2,3%. A montadora ainda enfrenta uma queda brusca em seu principal mercado, a China, onde as montadoras locais se tornaram dominantes e agora focam em expandir seus negócios para Europa e o resto do mundo.
“O ambiente econômico tornou-se ainda mais difícil e novos players estão entrando na Europa. A Alemanha, como ambiente de negócios, tem ficado cada vez mais para trás em termos de competitividade” disse o CEO do Grupo Volkswagen, Oliver Blume, em um comunicado.
Os executivos do grupo convocaram uma reunião para a próxima quarta-feira, para detalhar a situação da empresa com o conselho dos trabalhadores.
Daniela Cavallo é a chefe e maior representante dos funcionários nessa briga, além de ser membro do IG Metall, um dos mais influentes sindicatos da Alemanha. A representante disse que espera que Blume também se envolva na negociação e que a reunião será “bem desconfortável” para os executivos.
A influência do IG Metall é tão forte que, em 2022, eles conseguiram barrar a tentativa de demitir 30.000 da Volkswagen na Alemanha. Na época, a derrota dos executivos custou o cargo do então CEO Herbert Diess, que foi substituído por Blume, que estava na Porsche.
Além disso, metade das 20 cadeiras do conselho da Volkswagen é destinada a representantes dos sindicatos trabalhistas.
Porém, desta vez, a missão do sindicato será mais difícil. O estado da Baixa Saxônia, onde está localizada a fábrica de Osnabrueck, é o segundo maior acionista do Grupo e demonstrou seu apoio aos planos de revisão. Historicamente, o estado sempre tomou decisões do lado dos trabalhadores, inclusive no caso de 2022.
“Esperamos que o fechamento de fábricas não seja necessário com o uso bem sucedido de alternativas. O governo estadual dará atenção especial a isso” disse Stephan Weil, primeiro-ministro da Baixa Saxônia e membro do conselho de supervisão da VW.
Do lado do sindicato, Cavallo acusa os executivos de tomarem sucessivas decisões erradas, como não investir em híbridos ou ser lenta no desenvolvimento de veículos elétricos baratos, setor que foi tomado pelas gigantes chinesas, como a BYD. Ao invés de fechar fábricas, a representante afirma que a montadora deveria focar em reduzir complexidades e aproveitar melhor as sinergias entre os projetos do grupo.