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Um galgo afegão careca

Ao tirar a capota de um esportivo, ele perde rigidez ou ganha peso. Para um motorista afiado, isso representa um incômodo constante. O estádio Moses Mabhida em Durban, África do Sul, é a construção mais bonita do mundo. Feito para a Copa do Mundo de 2010, é lindo de noite e lindo de dia. É […]

Por Jeremy Clarkson
23 nov 2012, 09h47
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  • Ao tirar a capota de um esportivo, ele perde rigidez ou ganha peso. Para um motorista afiado, isso representa um incômodo constante.

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    O estádio Moses Mabhida em Durban, África do Sul, é a construção mais bonita do mundo. Feito para a Copa do Mundo de 2010, é lindo de noite e lindo de dia. É um triunfo. Recentemente, ele foi o palco do evento do nosso programa de TV, o Top Gear. Não apenas nós três nos apresentaríamos para uma animada plateia de 15 000 sul-africanos, mas fora do estádio haveria uma exposição de veículos e, nas estradas fechadas só para o evento, um circuito de rua de 1,6 km.

    Nele aconteceriam corridas entre uma superbike e o Mercedes de F-1 de Michael Schumacher, voltas de demonstração do piloto misterioso Stig em diversos supercarros e apresentações do herói local Jody Scheckter, que nunca bateu um carro na vida. Sério. Richard Hammond, James May e eu ficamos muito impressionados com a lista de atrações, mas decidimos que aquele era nosso playground, que deveríamos ter o direito de dar algumas voltas.

    Por isso, inventamos uma competição: cada um escolhe um carro e vamos ver quem faz a volta mais rápida. May foi de McLaren MP4-12C, Hammond escolheu um Fusca qualquer. E eu? Eu peguei a paixão da minha vida: um Mercedes SLS AMG roadster.

    E, na volta de reconhecimento,
logo descobri que tinha feito uma má escolha. Porque a pista não era só muito estreita e travada, mas também cercada por barreiras de concreto dos dois lados. E uma pista de rua estreita com muros dos dois lados não é o lugar ideal para um monstro com um V8 de 6,2 litros e 563 cv, com o rugido de um animal selvagem e a cauda de um cachorro feliz. Seria como lutar contra um urso dentro de uma cabine telefônica.

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    Todos estavam com suas câmeras na mão, filmando cada movimento meu, para mostrar aos amigos em casa como eu tinha ido. Na verdade, não. Era para colocarem no YouTube o momento exato em que eu acertasse o muro e minha cabeça saísse voando. Para evitar isso, decidi que a perspectiva de vencer o Hammond – o May podia ser desconsiderado – não era nem de longe suficiente para compensar o risco de acabar como estrela de um vídeo de acidente na internet. Resultado: decidi ir devagar.

    No entanto, havia um problema. Ocorre que, quando você pilota diante de um público e é metido a machão, não consegue andar lento, pois é forçado a se exibir. Isso quis dizer que, onde quer que fosse possível, eu não andei rápido, ou lento, mas de lado, fazendo o máximo possível de fumaça com os pneus traseiros. E, o pior de tudo, fui dominado por um desejo incontrolável de acenar o tempo inteiro. O público acenava para mim e parecia deselegante não responder. Por isso, lá estava eu, acenando e fazendo derrapagens controladas com umV8 numa pista inadequada para qualquer uma dessas coisas.

    Essa é mais uma razão pela qual eu não poderia ser um piloto de corrida de verdade. Você não vai vencer muito se fizer zerinhos em cada curva e posar para fotos enquanto está passando. E assim foi. Hammond foi o mais rápido.

    O que fez com que eu tivesse de passar quatro dias ouvindo-o se gabar de como seu Fusca era vastamente superior ao grande Mercedes SLS. E então, acreditem, quando cheguei em casa, adivinha que carro estava na entrada da garagem esperando para ser testado? Sim, um maldito Fusca – ou, como ele gosta de ser conhecido, um Porsche 911 Carrera S Cabriolet. Sentei e chorei. Como Hammond não deve estar lendo este artigo, posso ser honesto: o último 911 é, na verdade, um esportivo tremendamente bom. E a versão GT3 é ainda melhor: é divina.

    Porém pediram que eu passasse uma semana com o conversível, e assim a história é outra. A verdade é que, se tirar o teto de um esportivo, você acaba, em menor ou maior grau, reduzindo sua rigidez estrutural. E se tentar mascarar isso com reforços sob o assoalho você aumenta o peso do carro. O que significa que acaba com algo que não é um esportivo. Um Porsche Cabriolet é um pouco como um galgo afegão que tenha ficado careca. Ele continua sendo um galgo afegão, mas perde um pouco da graça.

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    Tudo bem que, para o novo Cabriolet, a Porsche criou uma capota com estrutura leve, de magnésio e alumínio, juntamente com painéis de materiais compostos, que diz ser 18% mais rígida que aquela que ela substitui. Mesmo assim, o carro é 50 kg mais pesado que seu irmão de teto fixo. É claro que, em 99,9% do tempo, as duas versões transmitem uma sensação 99,9% igual. Mas o motorista afiado saberá que, naquele 0,1% do tempo, o Cabriolet sera 0,1% pior. E isso será um incômodo constante.

    Se você quer um esportivo puro, este carro não é para você. Mas se você for o sujeito que encontrei num clube de golfe, que possui a versão antiga conversível com tração nas quatro rodas, preste atenção: o primeiro problema que você enfrentará é a visibilidade com a capota fechada. E aí tem o câmbio. Meu carro tinha uma caixa manual de sete marchas. Agora reconheço que uma sétima é necessária para manter o consumo baixo e os encarregados do controle de emissões da União Europeia contentes. Mas é muita troca de marcha. O que seria até suportável, se a embreagem não fosse pesada e não tivesse o desagradável hábito de vibrar. Este claramente não é um carro para andar no dia a dia de uma cidade.

    Outras coisas? Bem, tem um botão misterioso que, quando pressionado, deixa o escapamento tão alto que você não consegue mais ouvir o rádio. E eu não gostei da direção elétrica. Nem de o porta-malas ser na frente, que faz com que você tenha de sujar os dedos toda vez que quiser pegar algo dele.

    E com a capota aberta? Não sei – em parte porque choveu constantemente e em parte porque, como sabemos, se um homem adulto andar por aí com sua capota baixada, ele vai parecer a estrela de um comercial de Viagra. É claro, há algumas coisas boas. A construção é excelente. Ele só precisa de manutenção depois de uma era glacial. Ele não é grande demais. Não ostenta demais. E não é tão caro assim. Um Carrera Cabriolet de 3,4 litros padrão custa (na Inglaterra) 79 947 libras (260 000 reais), ao passo que o modelo que testei (S de 3,8 litros) é menos de 10 000 libras (32 800 reais) mais caro. Isso pode ser muito para 400 cm3 extras, mas, tendo experimentado ambos, posso dizer que vale cada centavo. O modelo básico pode passar a sensação de ser um pouquinho lento. O S, nunca.

    Mas, analisando tudo, é apenas outro conversível de dois lugares. E, se isso é tudo que você quer, a Mercedes e a BMW podem lhe vender um modelo igualmente bom, a um preço bem menor. Agora, infelizmente, tenho de voltar à África do Sul, porque acabei de ouvir que o James May está quase completando nossa corrida de três voltas.

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