Tracker, Eclipse e Corolla Cross: o segredo dos novos carros da Stock Car
A Stock Car, principal categoria do Turismo Nacional, terá novo carro em 2025 e, com ele, mudanças que devem agradar a pilotos, público e patrocinadores
Criada há 45 anos, a Stock Car, principal categoria de Turismo Nacional, teve altos e baixos ao longo do caminho. Em alguns momentos mais difíceis, esteve ameaçada de acabar, quando a GM, idealizadora e patrocinadora, cogitou abandonar as competições. Atualmente, a categoria vive uma fase de renovação e de euforia, que deve deixá-la ainda mais interessante para pilotos, público e patrocinadores. E as mudanças têm como principal pilar o carro que estreia na temporada do ano que vem.
O novo carro-base, denominado Audace SNG01 foi projetado para receber tecnologias inéditas no automobilismo brasileiro e proporcionar alta conectividade (algo que será percebido também pelo público).
O Audace proporcionará também um ganho de desempenho, mais segurança, maior facilidade e rapidez de manutenção, tudo programado para evitar que a evolução provoque uma escalada de custos.
Um dos diferenciais do Audace SNG01 é ter chassi construído em aço desenvolvido especialmente para competição, denominado DP980R e fornecido pela ArcelorMittal. “O objetivo foi obter peso, resistência e rigidez que proporcionassem o melhor desempenho e segurança possível”, afirma Enzo Bortoleto, CEO da Audace Tech, fabricante do modelo. O projeto contou com a participação do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), responsável pelo estabelecimento de procedimentos padronizados e simulação computacional, e dos diversos fornecedores participantes do projeto.
Bortoleto explica que o carro será conectado a uma rede privativa de 5G, permitindo uma alta taxa de envio e recebimento de dados, com as câmeras dos veículos sendo conectadas em tempo real. Informações como velocidade, marcha usada e rotação do motor, entre outras, poderão ser mostradas ao público, também em tempo real.
“O objetivo final é ter mais informações para o público acompanhar e torcer por sua equipe e pilotos favoritos”, explica. “Teremos três câmeras: uma dianteira, uma traseira e uma 360 interna. O público terá acesso a essas câmeras para acompanhar a corrida como preferir.”
A estreia do Audace SNG01 trará também uma mudança drástica na aparência dos carros: saem os sedãs (silhueta-padrão desde a entrada do Omega) e entram os SUVs, com adaptações na largura e na altura em relação ao solo, além de equalizações aerodinâmicas entre os estilos das três carrocerias.
Segundo Fernando Julianelli, CEO da Vicar, promotora da categoria, a mudança foi aprovada após a realização de pesquisas de mercado e de consultas feitas às fábricas. Até abril, estavam confirmados para 2025 o Toyota Corolla Cross, o Chevrolet Tracker e o Mitsubishi Eclipse Cross. Pelo menos mais uma marca será anunciada ainda em 2024, bem como o modelo no qual será inspirada a sua carenagem.
Outra mudança significativa: pela primeira vez os carros da Stock terão DRS (Drag Reducing System, a “asa móvel” adotada na Fórmula 1).
Muda o chassi, mudam as carenagens, mudam também os motores. O V8 de 5,7 litros usado desde 2001 (quando substituiu o seis-cilindros em linha de 4,1 litros herdado do Opala) dará lugar a um motor turbo de quatro cilindros em linha com 2,1 litros. O combustível continuará sendo o etanol. Denominado Audace Tech, receberá na tampa do cabeçote a marca correspondente à do modelo da carroceria. O câmbio será um XTrac de seis marchas sequencial e semiautomático (as trocas são acionadas pelo piloto por meio de borboletas no volante, mas o mecanismo gerencia o engate).
Desde a época dos Opalas, a Stock Car brasileira se notabilizou por atrair a participação de pilotos com passagem pela Fórmula 1 – Ingo Hoffmann, Wilsinho Fittipaldi e Chico Serra foram os pioneiros. Vários outros passaram pela categoria e, nos últimos anos, contou com Rubens Barrichello, Ricardo Zonta, Felipe Massa e Nelsinho Piquet.
A presença de grandes nomes já seria suficiente para atrair o público, mas o equilíbrio das disputas, com 20 a 25 carros estabelecendo tempos dentro do mesmo segundo nas sessões de qualificação, torna as corridas ainda mais interessantes. Manter tal competitividade e aliar novas perspectivas tecnológicas pode ser a receita para manter a Stock Car como principal categoria do automobilismo nacional por mais algumas décadas.
Tudo começou com o Opala
Nascida em 1979 como categoria monomarca aberta exclusivamente ao Chevrolet Opala cupê (um modelo que já tinha dez anos de existência e continuou sendo usado até 1993, cinco anos depois de o último Opala cupê ter saído da linha de produção), a Stock passou pelo Omega (1994 a 1999). A partir de 2000, adotou chassis especiais de corrida padronizados e “vestidos” com bolhas de linhas semelhantes às de modelos de rua. Isso abriu caminho para a adoção de carrocerias multimarca a partir de 2005.
O chassi utilizado atualmente (JL-G09) estreou em 2009. Ao longo desses 15 anos, as maiores mudanças da Stock se concentraram nas carenagens, alteradas de maneira a se parecerem com o modelo de rua mais conveniente para cada uma das fábricas participantes. As atuais, por exemplo, reproduzem as linhas do Chevrolet Cruze e do Toyota Corolla.
Ficha Técnica – Audace SNG01
- Motor: Audace Tech Chevrolet ou Audace Tech Toyota, etanol, quatro cilindros, 2,1 litros, turboalimentado, 16 válvulas e injeção eletrônica, 500 cv (7.600 rpm) Torque: 580 Nm (de 4.000 a 6.800 rpm). RPM máximo: 7.600
- Peso: 1.100 kg (2 kg por cv)
- Câmbio: XTrac P1529, sequencial e semiautomático, seis marchas, é acionado pelo piloto, mas o mecanismo gerencia o engate. Trocas acionadas por borboletas no volante. Tração traseira
- Direção: sistema pinhão/cremalheira, acionamento elétrico
- Suspensão: triângulos sobrepostos (“duplo A”). Sistema pushrod. Amortecedores reguláveis de competição
- Freios: disco ventilado, nas quatro rodas, com pastilhas Fras-le e pinças de competição AP Racing. Seis pistões na dianteira e quatro na traseira
- Carroceria: Chevrolet e Toyota, material compósito (incluindo fibra de carbono, fibra de vidro, aramida e Kevlar), simulações e testes. Fabricação: Rallc; estrutura tubular de aço DP980R ArcelorMittal, proteção antichama por paredes corta-fogo com chapas de alumínio e revestimento resistente ao calor, estruturas do tipo crash box na dianteira e traseira de alumínio para absorção de impacto. Banco do piloto projetado e fabricado nos EUA com certificação FIA
- Chassi: tubos DP980R da família de Aços Avançados de Alta Resistência. Entre-eixos: 2.750 mm. Rodas: Mangels, liga leve, medidas 11,5 x 18 polegadas (diâmetro x largura)
- Pneus: Hankook medidas 300/680 R18