Testes de segurança da Toyota estariam sendo fraudados há décadas
Fruto de denúncia interna, problema atinge não só a Toyota, mas subsidiárias como a Daihatsu. Modelos já tiveram sua produção paralisada
A Toyota pode estar vivendo uma das maiores crises em sua história. Isso porque fabricante subsidiária Daihatsu, especializada nos pequenos ‘kei cars’, está sendo investigada por fraudar testes de segurança, que afetam não só veículos vendidos no Japão, como em outras partes do mundo.
Tudo começou em abril, quando a própria Daihatsu, através de um relatório de denúncia, descobriu que testes estavam sendo conduzidos de maneira errada. A montadora, então, relatou às agências reguladoras japonesas e interrompeu a produção dos modelos afetados.
De acordo com o relatório, a fraude estava acontecendo nos testes de colisão lateral contra postes (código UN-R135) realizados em 88.000 veículos, em sua grande parte vendidos com o emblema da Toyota. Porém, a notícia recente é que as irregularidades também afetam modelos da Mazda, Perodua e Subaru.
Um exemplo de carro que estava sendo fraudada é a versão asiática do Yaris Sedan e o Yaris Cross, que está cotado para vir ao Brasil em 2024. Os dois tiveram suas produções suspensas. Em maio, um mês após a descoberta do escândalo, a Daihatsu suspendeu a produção do Toyota Raizen e do seu ‘irmão gêmeo’ Daihatsu Rocky.
Com a descoberta das fraudes a própria Toyota iniciou uma investigação interna, que acabou descobrindo que os testes estavam sendo manipulados, e fugindo dos padrões estabelecidos. Mas a realidade é que essa era apenas a ponta do iceberg.
As investigações descobriram que a Daihatsu vinha fraudando testes há muito mais tempo. Descobriu-se que as os airbags testados em modelos como o Toyota Townace e Pixis Joy e o Mazda Bongo eram diferentes dos que eram vendidos ao público.
Também há evidências de relatórios falsos sobre testes de impacto dos encostos de cabeça e sobre a velocidade de impacto de algumas provas. A investigação também averiguou que existem fraudes que ocorreram para um modelo específico — e já fora de circulação — que data o ano de 1989, além de descobrir que os casos de fraude ficaram mais frequentes a partir de 2014.
Agora, o Ministério de Transportes do Japão também realizará uma investigação in loco nesta quinta-feira (21). Makoto Kaiami, presidente do comitê de investigação de terceiros, diz acreditar que a Toyota não sabia da má conduta da subsidiária e que a Daihatsu estava tentando superar suas próprias expectativas.
“Este é um caso extremamente lamentável que mina a confiança dos usuários de automóveis e é uma má conduta que afeta os próprios fundamentos do sistema de certificação automóvel”, disse o secretário-chefe de gabinete, Yoshimasa Hayashi.
A Toyota se defende dizendo que não tinha nenhum conhecimento das atitudes da subsidiária. Já o presidente da Daihatsu, definiram a situação como “extremamente séria” Soichiro Okudaira, e acrescentou dizendo que licenças de segurança da montadora podem ser revogadas.
“Gostaríamos de expressar nossas sinceras desculpas pela inconveniência e preocupação que isso causou a todas as partes interessadas, incluindo os clientes”, disse a Toyota em comunicado.
A crise em números
Inicialmente, apenas o Raizen e o Rocky tiveram a produção paralisada, mas agora o problema já afeta toda a linha. Isso refletiu na bolsa de valores, onde as ações da Toyota caíram 4%. Já a Suzuki, uma das principais rivais da Daihatsu no ramo dos kei cars, viu suas ações subirem 2,1%
Mas o prejuízo pode ir além: de acordo com o analista automotivo da empresa Nomura, Masataka Kunugimoto, se a produção continuar suspensa por um mês, a Toyota deixaria de produzir 120 mil veículos, o que equivaleria a um prejuízo de 1,68 bilhão de dólares.
A crise também se estenderia para a rede de fornecedores da Daihatsu. Ao todo, 8.316 fornecem materiais para a montadora, que faturam em média 15,5 bilhões de dólares, segundo o Teikoku Databank. Para contornar a situação, a Daihatsu está considerando dar um apoio financeiro e pagar uma indenização aos seus fornecedores.
Tudo isso acontecendo paralelamente a um gigantesco recall da Toyota, que envolve 1,12 milhão de veículos em todo o mundo, principalmente nos Estados Unidos. O chamado serve para consertar um sensor do airbag defeituoso, que pode atrapalhar no seu funcionamento.