Teste: Renault Alaskan mira em Ranger, S10 e Hilux, mas é uma Frontier
A Renault estaria considerando a importação da picape, produzida na Argentina. Veja as primeiras impressões ao volante
Os planos da Renault para ter uma picape média na América do Sul podem, enfim, sair do papel.
Com produção iniciada na fábrica de Santa Isabel no final de 2020, a um ritmo de 40.000 picapes por ano (entra na conta a Nissan Frontier, que é fabricada na mesma unidade desde 2018 e empresta sua plataforma para a Renault Alaskan), a Renault Argentina estaria tentando convencer a divisão brasileira a comprar a picape.
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Isso porque já houve idas e vindas. A Renault do Brasil chegou a sinalizar que importaria a picape, mas voltou atrás. Agora, a importação de um pequeno lote de Renault Alaskan pode sinalizar que a divisão brasileira no mínimo estuda a viabilidade de explorar o segmento das picapes médias no Brasil.
O conjunto mecânico é rigorosamente igual ao da Frontier. A Alaskan terá o mesmo motor 2.3 a diesel com opção turbo de 160 cv e biturbo de 190 cv, com opção de câmbio manual de seis marchas ou automático de sete, tração 4×2 ou 4×4 e sempre com cabine dupla.
Lançada em 2018 com produção no México e na Espanha, a Alaskan chegou a vir ao Salão do Automóvel de São Paulo de 2018, mas não teve grande atenção da fabricante.
Agora, porém, a filial brasileira garante que a picape média nunca foi descartada. Procurada, a Renault do Brasil disse que “a Alaskan é um modelo importante para ampliar a nossa gama de produtos e participará de um segmento extremamente competitivo”.
Para antecipar o que vem por aí, recorremos a nossos colegas da revista Parabrisas da Argentina.
Veja a seguir como a picape se saiu na avaliação.
“Rodamos cerca de 1.000 km, entre Paris e Grenoble, passando por estradas e trechos de montanha. À primeira vista, o que mais chama a atenção na Alaskan é a imensa grade cromada que exibe o emblema da marca em grandes dimensões – acompanhada pelos faróis com a assinatura de led na forma de um C.
Nesse sentido, se deve reconhecer que a versão definitiva da picape respeitou amplamente o design do conceito apresentado no Salão de Frankfurt de 2015. Embora, por outro lado, esse visual não esconda o parentesco com a Nissan Frontier.
A equipe de design da Renault teve o desafio de converter a carcaça da picape original sem se distanciar dos parâmetros técnicos que serviram de base para o projeto.
A Alaskan segue o DNA dos modelos mais recentes da marca francesa, principalmente na dianteira. Na parte de trás, as mudanças se concentraram na adaptação das lanternas e da tampa traseira, com dois vincos horizontais bem definidos (um acima e outro abaixo), que atravessam a superfície de uma extremidade à outra.
Para nossa decepção, internamente, houve pouco esforço na busca de uma identidade própria. Não que o painel não seja atraente, mas, com exceção do emblema da Renault no centro do volante, não há diferença com o da picape da linha Nissan.
A vida a bordo, no que toca a espaço e acabamento interno, também não muda. A percepção geral é de conforto e robustez: tudo parece ter sido projetado para durar muitos anos.
Apesar de não haver luxo, os materiais são firmes e de texturas agradáveis ao toque. A posição de dirigir é confortável, embora pudesse ficar ainda melhor se o volante tivesse também ajuste de profundidade e não só de altura. Os bancos dianteiros são macios e oferecem bom apoio lateral: o do motorista possui ajustes elétricos de altura e lombar.
O espaço para quem viaja atrás é um dos maiores da categoria. No entanto, os assentos são um pouco baixos e não impedem que os joelhos dos ocupantes se posicionem acima da linha da cintura. Há apoios de cabeça e cintos de segurança de três pontos para todos e saídas de ar-condicionado, mas faltam tomadas USB ou 12 V.
A unidade avaliada era equipada com teto solar elétrico, recurso que não faz grande diferença nesse tipo de veículo, mas mesmo assim é um diferencial.
Embora ainda demorem alguns meses para a Renault divulgar como será a linha fabricada na Argentina e também o conteúdo de cada versão, sabemos que as mais completas terão ar-condicionado bizona, bancos com revestimento que imita couro, central multimídia com tela de 8 polegadas, GPS e conexão Android Auto e Apple CarPlay, além da moderna câmera de visão 360 graus, que também equipou a falecida Mercedes-Benz X-Class.
Esse recurso não é útil apenas nas manobras de estacionamento, mas também nas práticas fora de estrada, já que conta com função que ativa uma câmera frontal em baixa velocidade e outra localizada no lado direito para monitorar o que acontece no terreno próximo.
Conduzir uma picape nas estradas da Europa é uma experiência estranha. Não é comum se avistar esse tipo de veículo naquela parte do mundo. Nosso roteiro foi marcado principalmente pelo asfalto, na agradável rota proposta pela Autoroute du Soleil e, em menor grau, pelo cascalho das estradas pitorescas dos Alpes franceses.
Durante o percurso, pudemos avaliar duas unidades distintas: uma equipada com câmbio manual de seis marchas e a outra com transmissão automática de sete marchas, ambas com tração nas quatro rodas e o conhecido motor a diesel de 2,3 litros com 190 cv de potência e 45 kgfm de torque (a partir de 1.750 rpm), embora as melhores respostas sejam vistas em regimes um pouco acima dessa marca, sendo necessário pisar um pouco mais fundo no acelerador.
O câmbio automático nos pareceu um tanto lento nas trocas, especialmente ao dirigir em baixa velocidade, e, até por esse motivo, sentimos falta de comandos de trocas para o uso no modo manual no volante.
No caso da caixa manual, aprovamos a alavanca que se desloca com suavidade, mas gostaríamos que o curso do pedal da embreagem fosse um pouco mais curto.
O isolamento acústico da cabine também nos surpreendeu positivamente, assim como o conforto ao rodar. Neste último aspecto, a suspensão desempenha papel fundamental: no eixo traseiro – embora a aliança Renault-Nissan chame de multilink –, tecnicamente, ele não é independente.
É um eixo rígido que, em vez de ser preso às molas, possui vários pontos de ancoragem no chassi. Na prática, esse conjunto é eficiente, mesmo em terrenos irregulares, embora sem atingir o nível de conforto de um multilink verdadeiro.
A direção (com assistência hidráulica) oferece o equilíbrio certo entre suavidade e firmeza para operar na estrada, mas achamos um pouco pesado para manobrar em baixa velocidade.
Em nenhum momento de nossa avaliação foi necessário testar as habilidades off-road extremas deste veículo, que tem a possibilidade de conectar o sistema de tração 4×4 por meio de um comando eletrônico muito simples de operar, e com relações de marchas alta e baixa.
A picape Renault chegará ao mercado argentino (e brasileiro), presumivelmente, com o mesmo equipamento disponível na Nissan Frontier: seis airbags, controle de tração e estabilidade, freios ABS com EBD e BA, controle de descida e ganchos de fixação para cadeiras de criança.
Seria desejável um pacote com sistemas como manutenção de faixas, detector de colisão frontal, frenagem de emergência autônoma e controle de cruzeiro adaptativo. Mas, para verificar isso, teremos que esperar pelo seu lançamento.”
Ficha Técnica – Renault Alaskan
Motor: diesel, diant., longit., 4 cil. em linha, 16V, inj. direta common rail, biturbo, intercooler 2.298 cm3; 85 x 101,3 mm; 15,4:1; 190 cv a 3.750 rpm, 45,9 kgfm de 1.500 a 2.500 rpm
Câmbio: automático, de 7 m. (ou manual de 6 m.), tração 4×4
Suspensão: braços sobrepostos (diant.); eixo rígido (tras.)
Freios: disco vent.(diant.); tambores (tras.)
Direção: hidráulica
Pneus: 255/60 R18
Dimensões: compr., 533,9 cm; larg., 185 cm; alt., 181 cm; entre-eixos, 315 cm; peso, 2.076 kg; tanque, 80 l
Desempenho: 0 a 100 em 12 s; vel. máx., 160 km/h (Dados de fábrica)
Veredicto
A Alaskan causou boa impressão no primeiro contato por demonstrar uma construção robusta ao mesmo tempo que oferece conforto a bordo.