O Tesla espacial será o carro mais rápido (e rodado) do mundo
Roadster enviado ao espaço pela SpaceX passou dos 72 mil km/h para escapar da órbita da Terra. E irá "rodar" mais de 250 milhões de quilômetros
Muito foi dito na última semana sobre o lançamento do foguete pesado da SpaceX que levou em seu voo pioneiro rumo à Marte (e além) o Tesla Roadster de uso pessoal de Elon Musk.
O empreendedor é dono da fabricante do carro elétrico e também da empresa que desenvolveu o foguete. Mas, agora que o esportivo chegou lá em cima, o que acontece com ele? Vai dar para acelerar no planeta vermelho? Vai voltar um dia?
“Se o carro não recebeu nenhuma proteção para lidar com a radiação presente no espaço, seus componentes eletrônicos e partes orgânicas (como borracha e fibra de carbono) vão começar a se degradar logo após o veículo sair da atmosfera terrestre”, explica Annibal Hetem Júnior, professor de manobras orbitais da Universidade Federal do ABC e especialista em propulsão espacial e distribuição espectral de energia.
A SpaceX não deu detalhes do que foi feito no Roadster de Musk, mas nas fotos é possível ver que, pelo menos, os pneus foram esvaziados. No vácuo quase absoluto do espaço, a borracha dos compostos não conseguiria segurar o ar em seu interior e iria inchar até explodir.
A ausência de pressão atmosférica também faria com que o fluido de freio entrasse em ebulição, rompendo mangueiras e reservatórios e se espalhando pela cabine.
Musk afirmou que seus funcionários colocaram uma toalha no porta-luvas do carro (seguindo a dica do escritor Douglas Adams em O Guia do Mochileiro das Galáxias) que poderia ser útil para limpar a bagunça, mas é mais provável que todos os líquidos do Roadster também tenham sido removidos.
Esqueci o adaptador
Todos esses cuidados não impediriam que o carro sequer ligasse, já que, a essa altura, seus circuitos eletrônicos já foram fritos pela radiação.
“O campo magnético da Terra nos protege dessa radiação, mas no espaço é preciso armazenar os componentes em caixas com escudos metálicos de proteção”, explica Hetem.
A questão do acesso à energia elétrica é mais fácil de resolver no espaço do que na Terra. Por não ter uma atmosfera entre o carro e o Sol, seriam necessários poucos painéis solares para gerar eletricidade suficiente para recarregar o conversível.
Toda essa energia também significa calor imbatível para qualquer ar-condicionado. “O lado do carro exposto ao Sol pode ultrapassar os 300º C, enquanto a parte no escuro ficará a -100º C.
Esse choque térmico também prejudica os materiais, acabando com toda a resistência estrutural do conjunto. Ou seja: a chance de esse Tesla espacial fracassar em um crash-test em um eventual retorno à Terra é alta.
Tinha radar ali?
Mas não há qualquer chance de Musk ter seu primeiro Tesla de volta à garagem. Esse voo foi projetado, desde o início, como uma viagem só de ida. “É muito caro trazer objetos de volta do espaço”, conta Hetem. Levar ele pra cima, aliás, também não foi nada barato: o custo inicial de se levar 1 kg de qualquer coisa pra fora da terra é de US$ 200 mil (aproximadamente R$ 658 mil pela cotação do dia 09/02/2018).
Outro motivo para o Roadster não voltar é que o foguete Falcon Heavy acelerou o veículo a mais de 72.000 km/h. Essa é a velocidade mínima necessária para que ele pudesse escapar da órbita da Terra.
“Agora o carro virou um asteróide”, fala Hetem. Mas vai dar para matar saudade daqui três anos, quando a trajetória elíptica do Tesla o deixar próximo à Terra novamente. Quando isso ocorrer ele terá batido o recorde de carro mais rodado do universo (até onde sabemos), com mais de 250 milhões de quilômetros no hodômetro.
Para matar a saudade: veja o vídeo oficial de lançamento do Falcon Heavy
Já que não dá para saber nem se o Tesla vai estar inteiro até lá, o jeito é curtir o Homem do Espaço em sua viagem rumo ao cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter.
Mas melhor não ligar pra ele: com a distância cada vez maior, cada palavra dita por um hipotético celular espacial demoraria de 10 a 15 minutos para ir da Terra até o carro.