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Tendência: compactas

Motos de cilindrada média cada vez mais compactas são a bola da vez

Por Marcelo Brettas
Atualizado em 9 nov 2016, 11h51 - Publicado em 6 abr 2011, 19h13
Tendência: compactas

Quem se lembra dos gigantescos e reluzentes carrões americanos do século passado, carinhosamente batizados de “lanchas”, que faziam a alegria de uma legião de fanáticos por carros? Esses mamutes beberrões, apesar de toda sua imponência, entraram em extinção logo nas primeiras crises do petróleo, ainda nos anos 70. O preço dos combustíveis, associado à preocupação com o meio ambiente e à vulnerabilidade das matrizes energéticas, conspira para que os veículos – incluindo as motos – se tornem mais compactos, econômicos e funcionais.

Os mais recentes e impactantes lançamentos motociclísticos, como a Honda Crossrunner 800 e a Triumph Tiger 800, são exemplos de que a tendência de um menor volume contendo mais emoção também é a tônica no mercado mundial de duas rodas para os próximos anos. Motos cada vez mais compactas e com propulsores que raramente ultrapassam 800 cc passaram a ser as grandes vedetes.

A crise econômica, que ainda agride fortemente Europa, América do Norte e parte da Ásia, em especial o Japão, tem impulsionado o desenvolvimento de modelos menores, econômicos, versáteis e que cheguem às mãos dos consumidores por preços sempre mais baixos.

Na outra ponta estão os mercados emergentes, meninas dos olhos de todos os fabricantes, em especial China, Índia e Brasil, onde as vendas crescem com enorme rapidez e que, por tradição e razões econômicas, mantinham o alicerce do consumo inteiramente em motocicletas de baixa cilindrada (no Brasil, 92% das motos vendidas em 2010 tinham até 250 cc).

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Se é verdade que a crise econômica tem provocado uma curva decrescente nas vendas e nos preços das motos vendidas nos países mais desenvolvidos, no bloco dos emergentes não são apenas as vendas que crescem: os modelos vendidos hoje são cada vez melhores e mais potentes. Afinal, quem acha os 92% citados acima um percentual muito elevado, pode voltar cinco anos no tempo (2005) e conferir que, naquele ano, 98,3% das motos vendidas no Brasil tinham até 250 cc, segundo dados da Abraciclo, a associação das empresas do setor.

O Brasil já se prepara para receber a FZ8, compacta e eficiente street da Yamaha, com 779 cc distribuídos em um belo corpinho de pouco mais de 200 kg. Enquanto isso, o Salão de Milão, realizado no fim de 2010, deu o tom de que as grandes estrelas em 2011 serão as motos de média cilindrada, que agora se colocam num patamar superior – e beiram as 800 cc.

PONTO OITOA gigante Honda colocou a maior parte de suas fichas na Crossrunner 800, uma moto urbana que mistura características de uma naked e de uma fora de estrada. Ela atende a essa nova perspectiva de uma moto multiuso, compacta, que raramente verá a cor da terra e que, portanto, apesar de utilizar bengalas invertidas na suspensão dianteira, não precisa nem de longo curso na suspensão (108 mm na dianteira e 119 na traseira) nem de pneus off-road. A Crossrunner é empurrada por um V4 a 90 graus, de 782 cc, com 102 cv de potência, 16 válvulas e refrigeração líquida. Na verdade, a base desse motor já vinha servindo a outro modelo da marca que também se encaixa nessa tendência, a VFR 800, uma carenada street que se aventura muito bem pelas longas estradas.

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Outro lançamento que causou frisson em Milão foi a Triumph Tiger 800, apresentada em duas versões, com aro dianteiro de 19 e 21 polegadas, além de pequenas alterações estéticas e de geometria. Os projetistas ingleses beberam nas mesmas fontes e pesquisas dos japoneses da Honda e lançaram um modelo compacto e ágil, com várias das virtudes de uma fora de estrada, como a robustez e a confortável posição de pilotagem, mas sem abrir mão da segurança de duplos discos dianteiros e disco simples traseiro (com opção ABS), garfos invertidos Showa, além de alguns quesitos fundamentais para longas viagens, como parabrisa e tanque com capacidade para 19 litros de combustível. A Tiger 800, assim como a Crossrunner, utilizou em seu desenvolvimento um produto já consagrado da marca, a Street Triple 675, que ofereceu tanto a base para o desenvolvimento do chassi multitubular (obviamente com geometrias alteradas) como o motor tricilíndrico em linha, DOHC de 12 válvulas e refrigeração líquida, que passou a ter 779 cc e 95 cv de potência.

Na verdade, quem deu o primeiro passo para ocupar essa fatia de mercado foi a alemã BMW, que já tem uma ampla gama de produtos nessa faixa intermediária: F 650 GS, F 800 GS, G 650 GS e F 800 R. Hoje a marca alemã vem colhendo os louros do pioneirismo e, calcada em uma linha com opções bem mais acessíveis, comemora um expressivo crescimento no território nacional. O Brasil, que há dois anos era o 12º mercado mundial da marca, atualmente dá um salto para se posicionar como o sétimo país que mais vende motos BMW, superando potências econômicas como a Espanha e Japão.

É claro que os extremos sempre existem, e seguirão existindo, mas hoje até mesmo motos como a BMW K 1600 GT e seu gigantesco propulsor de seis cilindros em linha, que sozinho pesa 102,6 kg (o peso total da GT é 319 kg) e alcança 160 cv de potência, são tão compactas que pesam apenas 60 kg a mais do que uma Honda CB 750 SC de 1982 – que não chegava a 67 cv de potência. Acha essa uma evolução pequena? Então confira os números da Aprilia Tuono V4R, uma naked ao melhor estilo café racer, também lançada em Milão e desenvolvida para o uso urbano. Ela tem seus bem distribuídos 179 kg empurrados por um motor derivado daquele da RSV4 (campeã mundial de Superbike em 2010), com 162 cv de potência. Melhorou?

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PEQUENAS GRANDES MOTOS

Na outra ponta, motos como a Kawasaki Ninja 250 (foto) e a KTM Duke 125 (que em breve deverá ser montada no Brasil em versão 200 cc) aparentam ser muito mais encorpadas do que na realidade são. A Duke 125 tem apenas 128 kg empurrados por um oitavo de litro de 15 cv de potência, com quatro válvulas e duplo comando no cabeçote. É claro que os garfos invertidos White Power, o quadro treliçado, os freios a disco, a robusta balança traseira com um imponente amortecedor à mostra, as rodas esportivas, os spoilers e “enchimentos” de tanque, além de um enorme conjunto óptico, a deixam bastante parecida com a irmã – muito – maior: a Super Duke 990. No fundo, é este o xis da questão: projetistas trabalham para que as grandes motos estejam cada vez mais compactas e maneáveis, sem abrir mão dos pressupostos básicos de segurança, e para que as pequenas pareçam cada vez maiores, sem lhes agregar itens desnecessários ou que elevem seu peso. O austríaco Hubert Trukenpolz, o senhor “T” da KTM, empresa da qual é diretor, em recente visita ao Brasil, garantiu: “Tudo em nossas motos tem uma função: a política é eliminar toda e qualquer perfumaria”.

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