Sem estoque no Brasil, Lifan é condenada à recuperação judicial na China
Matriz chinesa da Lifan foi obrigada a aceitar processo rígido de recuperação judicial e pode falir. No Brasil, as poucas concessionárias têm carros de 2018
Nesta quarta-feira (14), a Comissão de Valores Mobiliários da China anunciou que a Lifan dará início a um processo de recuperação judicial. Em nota emitida via Bolsa de Valores de Xangai, o órgão informou também a investigação de supostas irregularidades cometidas nos informes a acionistas e a rescisão de uma das executivas do grupo. Caso a recuperação falhe, a Lifan poderá ter falência decretada.
A decisão veio após uma reunião realizada na última terça-feira (13), com participação de 79 credores da empresa. O Quinto Tribunal Popular Intermediário de Chongqing condenou a Lifan à recuperação judicial, sob risco de ser declarada falida.
Ainda que a empresa conclua sua recuperação, será necessário que ela atinja índices mínimos para que não seja obrigada a fechar seu capital e excluída da Bolsa.
Logo em seguida, outro comunicado deu conta, sem entrar em detalhes, de que a fabricante de modelos como o X60 será investigada por divulgação de informações ilegais. Completando o dia agitado, a supervisora Lan Tingqin renunciou à sua cadeira no Conselho que supervisiona a empresa.
O site Rusbankrot, especializado em análises de falência, afirmou, em junho, que a Lifan devia R$ 2,5 bilhões a fornecedores. De acordo com os analistas russos, uma das saídas mais prováveis seria a venda de vastos terrenos que a holding possui, incluindo a área da principal fábrica do grupo, na cidade chinesa de Chongqing.
Essa e outras decisões cruciais deverão passar pela jovem Annie Yin, de apenas 25 anos. A nova chefe da Lifan é neta do fundador e então presidente Yin Mingshan, que convocou-a de volta da Califórnia, onde ainda cursa faculdade, para assumir a empresa que comanda desde a fundação, em 1992.
Annie Yin precisará reverter a queda nas vendas no mercado local, que foram de 111 mil unidades em 2017 para apenas 19 mil, no ano passado. A derrocada da Lifan é quase tão rápida quanto sua ascensão de uma oficina mecânica à maior fabricante privada de motos da China em apenas 12 anos.
No Brasil a situação é ainda pior, com apenas 25 veículos emplacados em 2020. Desde o início da pandemia, os meses de abril, maio e agosto contabilizaram apenas uma venda, enquanto em junho nenhum Lifan foi emplacado no território nacional.
O grande sucesso das motos, principalmente na Ásia e África, estimulou o lançamento, em 2005, do sedan 520, com motor Tritec. Daí, a Lifan expandiu seu escopo e começou a fabricar SUVs, minivans, caminhões e elétricos, além de investir em um time de futebol da primeira divisão local.
Escassez
QUATRO RODAS tentou contato com a área de imprensa da fabricante, por meio de seu site, e não teve resposta. Conseguimos contato com 11 das 14 concessionárias listadas no site da Lifan. Dessas, seis não possuem nenhum veículo 0 km à disposição. Nas outras, há apenas uma ou duas unidades disponíveis, sempre ano/modelo 2018/2019. Boa parte delas se mantém como lojas multimarcas.
Todos os concessionários contatados, assim como o setor de vendas da sede, em Salto (SP), negaram qualquer rumor de falência ou saída da marca do Brasil. Questionados sobre a escassez de carros, os vendedores culparam a pandemia.
A fábrica uruguaia da Lifan está inoperante desde o início de 2019, após concluir a produção do primeiro – e único – lote do X80, um SUV de sete lugares. Em agosto do mesmo ano, a marca se desfiliou da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa).
O setor de vendas de Salto confirmou que clientes que comprarem as poucas unidades novas à venda terão atendimento pleno, ao menos enquanto durar a garantia. Não houve pronunciamento sobre os informes da Bolsa de Valores de Xangai.
Presença conturbada
A Lifan estreou no Brasil em 2010 com o hatch 320 (conhecido pela semelhança com o Mini Cooper) e o sedã 620, em parceria com a Effa Motors. O acordo entre as partes foi rompido em 2012 e em 2013 a operação brasileira se tornou subsidiária da matriz chinesa, que está no controle das operações desde então.
Após o fim da produção de automóveis no Uruguai, em fevereiro de 2019, a Lifan passou a considerar a importação de novos carros diretamente da China. Mas isso não aconteceu.
Não pode ir à banca comprar, mas não quer perder os conteúdos exclusivos da Quatro Rodas? Clique aqui e tenha o acesso digital.