Após a invasão da Ucrânia, a Rússia sofreu uma série de sanções econômicas que tornaram impossível, para várias montadoras, seguirem operando no maior país do mundo. O grupo Stellantis, por exemplo, abriu mão de suas fábricas e saiu no prejuízo: foram R$ 770 milhões perdidos com a saída forçada. Mas isso não significa que carros da Citroën, por exemplo, não são mais produzidos em solo russo.
Uma investigação da agência Reuters descobriu uma operação complexa, na qual empresas chinesas estariam ajudando os russos a produzirem carros de montadoras ocidentais. A ideia seria justamente aproveitar o ferramental largado nas fábricas, além do fato de não haver sanções entre os dois países.
A Stellantis interrompeu sua produção na Rússia em abril de 2022, porém, foram surpreendidos com algo surpreendente no ano seguinte. Operadores russos, em colaboração com um parceiro chinês, deram início à fabricação de novas versões de modelos Citroën da Stellantis, segundo revelam dados alfandegários e fontes confiáveis.
Os primeiros indícios surgiram em dezembro do ano passado, quando a empresa Automotive Technologies importou pelo menos 42 kits para a montagem do Citroёn C5 Aircross na fábrica de Kaluga — que era da Stellantis até então. A informação foi corroborada por lojistas, que disseram ter encomendado justamente o C5 Aircross dos novos proprietários da fábrica.
Segundo a apuração, os kits foram produzidos pelo grupo chinês Dongfeng, que é parceiro da Stellantis na fabricação de seus modelos no mercado chinês. Não dá para saber, entretanto, se houve contrabando, já que a Dongfeng não se pronunciou e a Stellantis disse não ter qualquer controle sobre seus antigos bens na Rússia.
Plano anunciado
O diretor da Automotive Technologies, Pavel Bezruchenko, por outro lado, foi bem explícito em sua entrevista ao jornal russo Vedomosti. Na conversa, também de dezembro, Bezruchenko afirmou que sua empresa estava usando importações paralelas da China para fabricar carros.
A dona da Automotive Technologies, Galina Dolgolenko, disse, na mesma época, que exatamente 48 veículos seriam vendidos num primeiro momento. Sem especificar o modelo, Dolgolenko apenas acrescentou que a produção em massa começaria em 2024.
Sanções pesadas
A Rússia diz não sofrer com as sanções internacionais, mas o mercado automotivo do país vem passando por crise sem precedentes.
Sem fabricantes ocidentais, o mercado foi dominado pela Lada, com modelos defasados e a volta do Niva original, lançado em 1977. Simultaneamente, as chinesas GWM, Chery e Geely entraram com força no jogo, completando o ranking das marcas mais vendidas em 2023 — todas com crescimento superior a 200%.
A jogada diplomática da China também resultou em um rebadge do JAC T60 Plus, vendido por algum tempo no Brasil. No irmão de Brics, entretanto, ele renasceu pela Moskvich, a fabricante soviética falida em 2006. Também há a tentativa de criar um carro 100% russo, o Avtotor Amber, que horrorizou a internet com as fotos de seu primeiro protótipo.