Rolls-Royce Corniche: chofer dispensado
Símbolo de exclusividade e status, a linhagem de cupês e conversíveis era destinada a donos que não abriam mão do prazer de conduzi-los
Há quem diga que uma das formas mais refinadas de masoquismo é adquirir um dos melhores automóveis do mundo e jamais assumir seu volante. Ciente de que vários de seus clientes não sofriam desse transtorno, a Rolls-Royce desenvolveu uma exclusivíssima linhagem de cupês e conversíveis, denominada Corniche.
Nascido Mulliner Park Ward Saloon (o nome Corniche só viria oficialmente em 1971), o cupê chegou em 1966 e no ano seguinte ganhou a companhia do Silver Shadow Mulliner Park Ward Convertible. Os dois eram variações de duas portas do sedã Silver Shadow, com toda a esportividade possível a uma carroceria de 5,17 metros e 2 toneladas, impulsionada por umV8 de alumínio e 6,2 litros.
O rodar suave e estável era garantido pela estrutura monobloco e pelas suspensões independentes autonivelantes. A transmissão automática de três marchas, quem diria, era fornecida pela GM: naquela época, não havia transmissão mais robusta, suave e confiável que a plebeia Turbo-Hydramatic. Os freios eram a disco nas quatro rodas.
A produção do Corniche levava quase um semestre: o monobloco rodava 300 km até a encarroçadora Mulliner, em Londres, onde seu exterior era montado. De volta à Crewe, eram adicionadas mecânica e parte elétrica. Uma última viagem a Londres finalizava a manufatura, conhecida pelos imensuráveis capricho e esmero que construíram a reputação da marca.
O couro do estofamento era fornecido pela tradicional Connoly Leather e o painel levava semanas para ser concluído, obra de um artesão que tornava imperceptíveis as emendas entre os apliques de madeira. Ao todo, pouco mais de 1.000 veículos entre cupês e conversíveis foram feitos até 1971, quando finalmente foram batizados de Corniche.
O motor crescia para 6,7 litros e era monitorado por um conta-giros, muito útil considerando o silêncio e a suavidade do lendário V8 – sempre sem potência divulgada, que a marca definia só como “suficiente”. O comportamento dinâmico melhorava com pneus radiais, sem comprometer o conforto: nem os Mercedes-Benz da época eram capazes de rivalizar em acabamento e qualidade de construção.
O cupê se despediu de mãos dadas com o Silver Shadow em 1980: foram 1.090 unidades em nove anos, dando uma noção exata de sua exclusividade. O conversível continuou em carreira solo, não sem antes aposentar os carburadores em favor da injeção eletrônica Bosch. Seguiu com modificações discretas até 1987, totalizando 3.239 carros produzidos.
A segunda geração chegou aos EUA em 1986, mais potente, com freios ABS, interior reformulado e para-choques na cor da carroceria. Foram montados 1.234 veículos até a chegada do Corniche III em 1989, o último encarroçado pela Mulliner em Londres. Ganhou airbags, rodas de alumínio e injeção digital Bosch Motronic. Apenas 452 unidades foram fabricadas até 1993.
Decorridos 26 anos, já não era possível esconder os sinais da idade: coube ao Corniche IV encerrar definitivamente a linhagem em 1995, após receber controle eletrônico da suspensão e transmissão de quatro marchas. Dos 194 carros produzidos, os últimos 25 foram chamados de Corniche S, para ressaltar a derradeira esportividade marcada pelo acréscimo do turbo.
RESSURREIÇÃO
O Corniche teve uma quinta geração, de 2000 a 2002. Apesar de compartilhar elementos de estilo com o sedã Silver Seraph, o conjunto mecânico era baseado no Bentley Azure. Foi a primeira (e única) vez que um Bentley originou um Rolls-Royce.
Motor | 8 cilindros em V de 6,7 litros |
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Potência | não declarada (estimados 200 cv) |
Câmbio | automático de 3 marchas |
Carroceria | aberta, 2 portas, 4 lugares |
Dimensões | comprimento, 517 cm; largura, 184 cm; altura, 151 cm; entre-eixos, 303 cm |
Peso | 2 324 kg |
0 a 100 km/h | 9,6 segundos |
Velocidade máxima | 190 km/h |