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Que máquina… complicada!

Por Redação
6 jul 2015, 11h00
ferrari
ferrari (/)
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Um estudo recente sugere que pessoas que usam iPhone são mais inteligentes, mais bemsucedidas e, é claro, mais bonitas do que as que usam outros  celulares. Mas acho que isso não é verdade.

Eu tenho um iPhone e sei bem que ele está cheio de defeitos. O aplicativo de mapas não funciona, a carga da bateria acaba com uma velocidade lamentável e as fotos têm a mesma qualidade de uma Zenit SLR, uma câmera russa de 1973.

E tem mais. Eu acabei de comprar um notebook novo, e transferir todos meus dados para ele foi um pesadelo por causa da Apple, que pediu minha senha sete vezes antes de dizer que ela não era forte o suficiente e que eu teria de criar uma nova com uma letra maiúscula, um número, um hieróglifo e três letras do sobrenome de solteira da minha mãe.

Mas eu não vou mudar para outra marca, porque simplesmente não posso me dar ao luxo de aprender todo o funcionamento de um novo sistema. E isso acontece com tudo. Tenho um PlayStation e nem me passa pela cabeça comprar um Xbox, porque tudo parece estar no lugar errado. Tenho uma máquina de espresso Gaggia que é completamente inútil para mim, mas não vou mudar para uma daquelas Nespresso do George Clooney, pois não tenho horas suficientes no dia para descobrir o que todos seus botões fazem.

Os fabricantes de carros entendem bem disso, razão pela qual cada um usa um software de comando e controle totalmente diferente. Após ter gasto um ano aprendendo como desligar aquela voz mandona do GPS, você não fica muito inclinado a trocar para outra marca e ter de aprender tudo novamente.

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E não é apenas o GPS. Ligar os bancos aquecidos, desativar o controle de tração, deixar a suspensão mais rígida, selecionar uma estação de rádio: em cada carro, você tem de fazer um procedimento diferente para cada uma dessas coisas.

O que me leva à nova Ferrari California T. Ela é a Ferrari mais barata da linha – ou, deveria eu dizer, menos cara. E é a primeira incursão da marca na busca de um mercado mais amplo. É um carro para passear, um conversível 2+2 (tá bom…), nos moldes do Mercedes SL.

Isso significa que ela será usada todos os dias por pessoas que jogam golfe e moram nos subúrbios. Mas, ao mesmo tempo, ela precisa ser politicamente correta e fácil de dirigir. E, se for para atrair os novos ricaços, ela precisa ter todos os brinquedinhos que você encontra em um Mercedes, todos os recursos hi-tech.

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Como resultado, a California T vem com o sistema Apple CarPlay, que faz o pareamento do veículo com tudo o que está instalado no seu iPhone. Isso quer dizer que, por exemplo, você pode ditar um texto e o carro o envia. E agora vem o mais espantoso de tudo: funciona!

Já os demais sistemas eletrônicos foram uma confusão insondável de frustrações e palavrões. Eu não consegui fazer o GPS funcionar. Eu consigo decifrar o sistema de um Subaru, mesmo que demore um pouco, e até o de um Jeep, que parece ter sido criado por um maluco. Mas este me derrotou totalmente, e eu não sei a razão. Não sei se é porque a Ferrari está apenas sendo obtusa ou se o sistema estava sofrendo de algum soluço eletrônico.

Ainda há outro problema. A California vem com o mesmo tipo de volante que a 458 Italia. Isso é a Ferrari sendo obtusa, porque atualmente eles já devem saber que incorporar os botões de acionamento dos piscas, faróis e limpadores de para-brisa ao volante – que se move – é galaticamente idiota. Mesmo assim, a Ferrari continua insistindo que não é. Eu não compraria uma Ferrari hoje só por isso.

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Bom, por isso e por causa dos bipes. Ela soa bipes quando você engata marcha a ré. Ela soa bipes quando acha que você está perto demais de outro carro. E quando você não colocou o cinto de segurança. Ou seja, ela fica bipando constantemente.

E ainda nem chegamos ao tamanho da máquina. É um problema que afeta todos os carros atuais da Ferrari – a F12 é quase do tamanho de uma colheitadeira, o que no trânsito de Londres é uma ameaça. Após alguns dias, desisti de usar as ruas mais estreitas de bairros residenciais, porque eu passava a maior parte do tempo voltando de ré. O que quer dizer que eu tive de sofrer com os bipes de novo. Eu sei que estou indo para trás, pelo amor de Deus!

Assim, há muitas coisas para incomodar você na California T. E apenas algumas delas resultam do fato de que estou tentando avaliar seus sistemas enquanto estou na inevitável curva de aprendizado. Só que…

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Toda semana eu tinha de dirigir até a pista de testes do Top Gear, em Surrey. Sempre na hora do rush. Sempre sob garoa. O tráfego era sempre terrível. Havia obras na pista a cada poucos metros, por isso levava 50 minutos para cobrir os 3 km do Holland Park até a Hammersmith Bridge – e, francamente, isso é dirigir na pior condição do mundo.

Em um outro modelo da Ferrari, a vida nessas circunstâncias era intolerável, e eu normalmente acabava olhando com inveja as pessoas nos ônibus. Mas na California eu fiquei bem satisfeito em simplesmente sentar ali e ficar ouvindo o rádio. Não era desconfortável, barulhento ou exibicionista. Depois eu peguei a rodovia a 80 km/h constantes, e não parecia que eu precisava conter algum tipo de garanhão enfurecido.

Em síntese, o que temos aqui é um carro no estilo do Mercedes SL, só um pouquinho mais difícil de conviver, por causa do seu tamanho e da complexidade dos seus controles. E um pouquinho mais caro.

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Sim, mas ela continua sendo uma Ferrari. Sim, o motor agora é turbo, para atender às normas de emissões de poluentes – mas você não nota isso. O que você realmente nota é a sensação do asfalto transmitida pelo volante e a velocidade nas trocas de marcha. Nenhum Mercedes parece tão… qual a palavra? Afiado. E nenhum Mercedes vem com um limitador de velocidade ajustável.

Se você sempre desejou ardentemente ter uma Ferrari, mas não tem como manter um segundo carro para dirigir pela cidade debaixo de chuva, a California T é uma dádiva de Deus. Sim, seus sistemas de comando e de controle são malucos e o volante tem um layout muito idiota. Para mim, ela não é tentadora. Mas eu entendo que para você seja.

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