QR de fevereiro: rodamos 9.000 km com sete carros elétricos nas férias
Chegou a hora dos elétricos desbravarem o 'continente' brasileiro. QUATRO RODAS foi antes, e mostrou as peculiaridades dessa aventura atualmente
Virada de ano é a oportunidade perfeita para muita gente pegar a estrada. Num futuro breve, veremos as praias brasileiras recheadas de turistas que utilizaram um carro elétrico para viajar. Mas o que muda nessas férias eletrificadas? Para descobrimos, QUATRO RODAS reuniu nada menos que sete carros elétricos à venda no mercado nacional.
GWM Ora 03, BYD Dolphin, Volvo XC40, BMW iX1, Ford Mustang Mach-E, Renault Megane E-Tech e Volkswagen ID.4. De subcompactos a SUVs luxuosos, rodamos mais de 9.000 km só à base de baterias, revelando os custos, vantagens, tempo de carregamento, perrengues e outros detalhes. Com as vendas de EVs decolando a cada ano, a edição de fevereiro de QUATRO RODAS é uma referência valiosa. Mas não para por aí!
BYD DOLPHIN PLUS x GWM ORA 03 GT O grande responsável pela venda de carros elétricos no Brasil ter crescido tanto foi o BYD Dolphin, que vendeu mais do que todos os outros somados. O GWM ORA 03 quer fazer frente a ele, e tem bons motivos para tal, mas ambos os chineses também trazem versões de topo apimentadas.
Quem pode gastar um pouco a mais em troca de performance extra, certamente se deparará com essas duas opções. Subcompactos com performance realmente esportiva e com semelhanças em diferentes aspectos, ainda que tenham propostas semelhantes. Mas um dele teria que vencer esse comparativo. Quem será?
BYD U8 Há 15 anos, a BYD fabricava cópias de carros da Toyota enquanto aperfeiçoava sua tecnologia de carros elétricos e híbridos. Hoje ela é parceira valiosa da Toyota para fabricar carros elétricos e, no quarto trimestre de 2023, passou a Tesla na liderança do segmento de elétricos no mundo.
O volume vem de modelos mais baratos, mas o alto luxo está representado na submarca Yangwang, que tem sob seu catálogo o U8. O jipão impressiona muito além do design: ele pode navegar (sim, na água), girar em torno de seu próprio eixo e esbanjar performance com quatro motores e total de 1.300 cv. Tudo isso com muito luxo a bordo. Fomos à China ver o que deve chegar em breve ao Brasil, custando bem mais do que R$ 1 milhão.
FIAT 600e As opções de elétricos da Fiat ainda são modestas, mas a linhagem do 500e está crescendo. O novo Fiat 600e é, de fato, irmão de outro carro que temos à venda, o Peugeot e2008. Mas a ideia é oferecer eletrificação com qualidade e sem luxos, permitindo que seu preço seja atrativo. Vai vingar? Nossa análise direto da Europa dá dicas do que podemos aguardar do modelo.
LAMBORGHINI REVUELTO Amamos os carros a combustão, mas, quando até a Lamborghini está se eletrificando, é porque esse parece um caminho cada vez mais óbvio para todos. O Revuelto une três motores elétricos ao seu V12 clássico, mas com propósito bem claro: apenas melhorar a performance de um superesportivo raiz.
E consegue, pois seus 1.015 cv e 73,9 kgfm fazem desse o Lambo mais rápido da história, indo de 0 a 100 km/h em 2,5 s. Soluções aeronáuticas e bastante engenhosidade também estreiam aqui, garantindo dirigibilidade à altura da novidade, que pilotamos na Itália.
RIVIAN R1T Nos Estados Unidos, quem mandam são as picapes, e eletrificá-las é tarefa pesada. Mas foi uma estreante, a Rivian R1T, que conseguiu fazer isso com bastante sucesso. Numa pegada de startup, a marca de alguns anos de vida lançou uma caminhonete grande com quatro motores, 843 cv e insanos 125,5 kgfm.
Há tanta performance e capacidade off-road quanto tecnologia, além de uma estética diferente que aponta como as picapes se renovarão daqui em diante. Ela não deve chegar ao Brasil oficialmente, mas aproveitamos uma unidade importada para testá-la em solo nacional.
Carta ao leitor: Mudança em curso
Em setembro de 2022, QUATRO RODAS publicou um Especial Elétricos, destacando o aumento da oferta de elétricos e eletrificados. A relevância e a perspectiva de crescimento do segmento eram tão expressivas que declarei que, em um futuro próximo, não faria mais sentido falar em Especial Elétricos, uma vez que a presença desses carros se tornaria algo comum.
Um ano e meio depois, esta edição traz predominantemente modelos elétricos e eletrificados, sem que houvesse a intenção de reuní-los em um Especial. Anote: Fiat 600e, Seres 5 BEV, VW ID.7, Rivian R1T, além do comparativo dos elétricos BYD Dolphin e GWM Ora 03 GT e a reportagem “Olhe quem veio para a festa”, na página 32, em que a redação conta a experiência de passar o final de ano ao volante de um elétrico.
Os motores a combustão tiveram uma honrosa participação em voo solo sob o capô do BMW M3 CS e também acompanhados de elétricos, a bordo do Lamborghini Revuelto, dois exemplos que nos fazem sentir saudade desses motores mecânicos e o que eles nos proporcionam. E saudade, aqui, não tem sentido de nostalgia, porque a sensação de dirigir um superesportivo térmico ainda está muito presente.
Nostalgia se aplica ao Dodge Viper V10, na seção Clássicos. Mas não podemos nos esquecer dos carros que ainda são maioria no mercado, presentes no teste de Longa Duração (onde já existe um Dolphin, elétrico): Citroën C3 e Jeep Compass.
Os elétricos ainda são uma tecnologia que precisa se provar. Recargas demoradas, com energia nem sempre limpa, escassez de eletropostos e baterias cuja produção tem um passivo ambiental grande são alguns dos questionamentos. A impressão é de que a indústria segue nessa direção, aguardando dias melhores, em que a tecnologia apare todas as arestas.
Há exceções, empresas e entidades pesquisando tecnologias alternativas – outros tipos de bateria, combustíveis como hidrogênio e etanol –, mas há mercados que não têm escolha, porque não veem no horizonte outra saída para a descarbonização, o que é o mais importante no momento.
O consumidor, de modo geral, não parece convencido ou seguro o suficiente. Isso vale tanto para o Brasil quanto para outros países, mesmo os mais desenvolvidos. Os brasileiros gostam de novidades. Somos os maiores usuários de tecnologias como celulares e internet e, na QUATRO RODAS, sentimos um grande interesse e curiosidade do público em relação aos carros elétricos (mesmo com os receios de praxe, principalmente em relação ao custo de aquisição e ao valor de revenda).
Esse tipo de insegurança, porém, tende a desaparecer com o tempo. E o início da produção de elétricos no país, em fábricas como as da BYD, GWM e outras que poderão vir, vai ajudar a dissipar essa insegurança. No futuro, poderemos ter um Especial Combustão. Boa leitura.