Produção do VW Tera em pré-série tem escolta e até camuflagem de fábrica
Exclusivo: fomos à fábrica da Volkswagen em Taubaté (SP) que estava sob grande sigilo para acompanhar a produção dos VW Tera, ainda em pré-série

Taubaté, 12 de fevereiro de 2025, 9h30. Em meio a uma infinidade de unidades do Volkswagen Polo (a maioria na cor branca, diga-se), uma carroceria com diferentes volumes e formas desce da área de pintura e entra na linha de montagem. Aquele seria o único Volkswagen Tera fabricado naquele dia. A produção em pré-série é assim, inconstante e, ao mesmo tempo, fundamental para o resultado final.
A preocupação com o sigilo da operação é enorme, mas tivemos acesso a todos os meandros da fábrica para mostrar (ou desmistificar) a produção de carros em pré-série. Ou melhor, de um carro só, o TT300092 (“TT” é de “Tera Taubaté”), na cor Prata Lunar, que será destinado à frota de imprensa da VW. Faremos o possível para testar esse mesmo carro daqui a alguns meses.


Nossa visita acontece justamente no momento em que a Volkswagen faz os ajustes finais para iniciar a produção em série daquele que é seu mais novo SUV de entrada, e que você conhecerá nas páginas seguintes.
Na verdade, muita coisa aconteceu antes disso. Há dois anos, o Tera evoluiu do projeto virtual para o chamado modelo de manufatura, algo como um Lego Technic em escala real. Os “blocos” eram montados em salas isoladas e vigiadas. As carrocerias feitas em linhas experimentais recebiam protótipos de peças feitas ali mesmo, em grandes impressoras 3D, ou por fornecedores, além de componentes compartilhados com outros carros.

Por seis meses, a sequência de montagem foi estudada e aperfeiçoada, assim como o casamento das peças e a tolerância entre elas. Esses carros também foram usados para o treinamento dos trabalhadores encarregados de montar os primeiros pré-série.
O Volkswagen Tera não teve protótipos, por assim dizer. Muitos carros começam a ser testados com “mulas”, como são chamados os veículos experimentais baseados em outros carros. Não foi necessário porque o Tera nasceu a partir da mesma variante da plataforma MQB-A0, já consolidada por Polo (que também é feito em Taubaté) e Nivus, com os mesmos 2,57 m de entre-eixos. Parte das peças de estamparia estruturais, como o assoalho e a base das colunas, são comuns aos três. O que você consegue ver, porém, é completamente diferente.

–Adaptações nas linhas ainda são necessárias. No local das prensas, há uma grande área só com moldes das peças exclusivas do Tera, identificadas pelo seu nome de projeto, VW246. Nada na carroceria do Tera é compartilhado com outro VW nacional. Até a área de pintura precisou se adaptar às curvas do Tera. “Ele não tem vincos fortes nas laterais, então recorremos às técnicas usadas na pintura dos elétricos da família ID. na Alemanha para acompanhar as curvas”, explica Wilson Zatti, chefe de manufatura da fábrica de Taubaté. A pintura é feita por robôs e a programação deles muda de acordo com o carro e com a cor escolhida – pois isso altera seu brilho. Para acompanhar a pintura, escolhemos um vermelho perolizado.

Assim que o processo de manufatura alcança um certo nível de maturidade e a linha já passou pelas adaptações necessárias, aí sim começa a produção em pré-série. Esse momento-chave para o VW Tera aconteceu há um ano. Tudo foi programado para não interferir na produção do Polo.
“Quando os primeiros carros passaram pela linha de montagem, quase não se via a carroceria, tamanha era a quantidade de gente acompanhando os processos”, conta Zatti. O número de pessoas na linha diminuiu nos últimos tempos, mas o nível de preocupação com o sigilo não. Sempre há um segurança ao lado do veículo e, conforme aquela carroceria se transforma em um VW Tera, as partes são cobertas por capas para ocultar seu design.

Cerca de 210 unidades do Tera já foram fabricadas, mas o percurso de 1,8 km pela fábrica ainda ganha ares de procissão em algumas ocasiões. Momentos críticos, como a montagem de componentes internos, o casamento do motor com a carroceria e quando o carro está recebendo faróis, lanternas e para-choques, atraem especialistas de várias áreas para, se for o caso, também auxiliar na montagem. Há câmeras capazes de identificar a colocação de cada componente espalhadas pela linha, bem como técnicos estatísticos, que aferem a montagem, avaliam as diferenças entre cada carro e enviam os dados coletados para os sistemas da fábrica.



Às 16h30, o TT300092 chega ao final da montagem. Foram 7 horas em trabalho e 21 de produção total, considerando prensas, armação e pintura. O carro ainda passa por uma inspeção e recebe sua capa definitiva, que será usada em todos os deslocamentos.
O primeiro destino dos carros pré-série é a sala de auditoria, com iluminação que permite que especialistas de qualidade analisem os modelos em dezenas de aspectos. Todos são pontuados em painéis nas paredes, que mostram o que está aprovado (com marcação verde) e o que não está em conformidade (vermelha). Tem coisa que o jornalista chato percebe, como um para-choque mais afastado do para-lamas, mas a maioria precisa de um olhar treinado. A evolução é visível unidade após unidade.

Gerente de qualidade, Maarten Hermans, me explica sobre o conceito de harmonia da montagem, que é garantir uma repetitividade das tolerâncias, os espaços entre as peças, de forma que o carro esteja e pareça perfeitamente alinhado. Isso vem de pequenos ajustes no projeto original que ainda são necessários, porque a tolerância em uma peça pode interferir no aspecto da montagem de outra. Essas correções são feitas o tempo todo.



O carro também precisa ser atestado de outras formas e cada pré-série nasce com uma missão. Alguns foram enviados para testes e avaliações de diversas áreas da empresa, para a matriz na Alemanha e até para a África do Sul – o Tera brasileiro será fabricado por lá, também junto com o Polo, mas será vendido com outro nome.

Além das validações de processos e materiais, os pré-série são submetidos a testes de colisão, homologações e também aos testes de rodagem – aqueles carros com camuflagem zebrada que tanto foram flagrados pelas estradas brasileiras. Algumas unidades não avançaram da parte de carroceria armada, seguiram direto para testes específicos.

A maioria dos carros pré-série nunca saem da fábrica. Podem virar carros de serviço ou serem simplesmente destruídos. “Mas os destinados às atividades do lançamento com o mesmo nível qualitativo do produto final podem ser vendidos”, explica Vilque Rojas, diretor da fábrica de Taubaté. Pode ser que você, um dia, também encontre o carro que viu nascer nestas páginas.
Confira as etapas de produção do VW Tera em 58 fotos exclusivas

























































