O empresário Fábio Birolini faz parte de um grupo muito exclusivo. Ele integra uma turma tão apaixonada por carros que nenhum modelo à venda se encaixava no seus sonhos.
Para eles, só há um caminho: fabricar seu próprio automóvel.
Às vezes, a ideia surge de maneira despretensiosa na faculdade. Foi o que aconteceu com Fábio, que imaginou seu esportivo como um projeto de conclusão de curso, quando estudava desenho industrial.
O então universitário fez questão de produzir o modelo seguindo o rigor e as mesmas etapas industriais que as montadoras. “Primeiro construí o chassi e testei. Depois fiz uma carroceria de madeira e a submeti à opinião de amigos. Só depois produzi a carroceria final, de fibra de vidro.”
Mas o empresário teve de interromper o projeto do seu esportivo, apelidado de Morcegão. “Era o ano de 1991, época de instabilidade econômica no país. Ninguém tinha dinheiro sobrando para isso”, relembra.
Seu sonho só foi retomado em 2008, já com melhorias. “Remontei o carro colocando motor e câmbio na longitudinal, para fazer uma carroceria mais aerodinâmica”, afirma Birolini, que conseguiu fazer o primeiro teste em 2013.
O carro pronto impressiona pelas suas dimensões e também pelo desempenho em pista. Segundo o dono, o Morcegão tem um V8 de 345 cv capaz de chegar a 250 km/h e de acelerar de 0 a100 km/h em 5,6 s.
A dedicação por esse projeto foi tão grande que Birolini resolveu fazer do seu hobby um negócio, e hoje ele trabalha com construção de protótipos e oferece consultoria para quem também deseja criar um carro do zero. “Fundei a EB Tech em 2008 e, junto com o meu sócio, trabalhamos em mais de 30 projetos”, diz.
O empresário Eduardo Leal é outro dessa turma que decidiu produzir um automóvel do zero, sem inspiração em nenhum modelo comercial. “
A minha intenção era produzir um carro com carroceria de chapas de aço, sem pintura, e um motor potente. Queria algo simples e veloz”, diz Eduardo, que montou a carroceria em apenas um dia e levou três anos na mecânica, suspensão e freios.
“Batizei o carro de Musa KCC e comecei a concorrer em track days. Cada vez que entro na pista, me realizo novamente”, afirma.
Réplicas perfeitas
Às vezes, em vez de materializar um esportivo que a imaginação aperfeiçoou por anos, outros construtores caseiros preferem optar pela cópia fiel de um modelo clássico que marcou sua época de criança.
É o caso do engenheiro Ayrton Mergulhão, que desde jovem tinha uma paixão confessa pelo mito britânico Lotus Seven.
Os primeiros esboços e desenhos surgiram há quase 40 anos. “Em 1977, já estava definido que faria o Lotus e que montaria sua carroceria sobre um chassi de Fusca. Infelizmente tive de adiar meus planos por causa de compromissos profissionais e familiares”, diz Ayrton.
Mesmo quando não tinha o tempo e o dinheiro necessários para montar a réplica do seu carro predileto, nunca abandonou a ideia. “Até comprei a minha casa com uma garagem espaçosa, já pensando na oficina que iria montar”, conta.
Finalmente, em 2006, surgiu a sociedade com um amigo, que também tinha o desejo de construir um Lotus Seven, e tudo começou a andar. “Montamos a oficina no quintal de casa e logo depois começamos a soldar o cockpit”, conta Ayrton, que trabalhava todos os sábados no chassi e nos componentes mecânicos.
O engenheiro conta com orgulho que seu Lotus é 100% brasileiro. “Garimpei peças de carros nacionais e adaptei ao projeto.” Ele usou transmissão do Omega, diferencial de Opala, motor 1.8 de Meriva, lanterna de Mitsubishi L200 e bancos da Scénic.
A suspensão, porém, foi toda projetada e construída em casa. No final, acabou terceirizando algumas partes, como a carroceria de alumínio e fibra de vidro, a pintura e o estofamento.
Enfim, seu Lotus ficou pronto em novembro de 2013. “Os sete anos de dedicação foram recompensados pelo dia que testei o carro. O desempenho ficou melhor do que eu esperava e a sensação de realização e orgulho é indescritível.”
Como estamos falando de sonhos de criança, não podia faltar uma Ferrari, no caso a réplica da F40 do empresário Renato Castilho, que a construiu tendo como base uma miniatura 1:12. Foram dez anos de dedicação e um investimento de R$ 300.000.
“Decidi replicar a F40, por ser o modelo que melhor traduz o espírito e a esportividade em um automóvel”, explica Renato.
Ele começou comprando chassi e carroceria já prontos. “Mas fiquei insatisfeito e decidi eu mesmo fazer o carro inteiro. Até a suspensão foi construída na garagem”, conta. No coração da máquina está um V6 4.2 que veio de uma picape Ford F-250.
Antes que alguém pergunte se o desempenho dela faz jus à original, Renato já avisa. “Ainda não tive o prazer de testá-la. Mas estou nos últimos acertos.”
ARTESANAIS À VENDA
Eles nasceram como hobby e viraram um pequeno negócio
Sigma Sport Car
Preço: R$ 180.000 a R$ 260.000
O hot rod inspirado no Chevrolet 1934 é vendido em três versões, com carroceria de fibra de vidro e V8 de 5,7 litros com 300 cv. https://www.sigmasporcar.com.br
Nanico Car
Preço: R$ 15.000 a R$ 18.000
O Nanico tem apenas 1,90 m (é 2 m menor que o Gol) e pesa só 242 kg. O motor de 125 cm3 rende 12 cv e chega a 80 km/h. facebook.com/nanicocar
San Vito S1
Preço: R$ 98.000
O esportivo é a releitura do Porsche Spyder assinada por Vito Simone, ex-funcionário da Ford. Recebe AP 1.8 turbo de 145 cv. https://www.vitos1.com.br