“Encanta-me um carro que não para em qualquer obstáculo. Essa é a essência de um 4×4 e os modelos militares vão além: eles rodam até com pneu rasgado com enxerto de capim”, diz Angelo Miliane, 54 anos, proprietário de uma oficina especializada nesse tipo de veículo, em São Paulo (SP).
Miliane é uma referência no país quando se trata de jipes e caminhões militares, em especial das décadas de 1940 a 1970. Por mais de 15 anos, ele deu aulas sobre direção off-road para o Exército brasileiro e faz 25 anos que mantém uma mecânica, localizada no tranquilo bairro do Ipiranga, onde restaura e faz manutenção de veículos 4×4 militares.
O local é tão famoso pela qualidade da restauração que possui atualmente dois anos de fila de espera para quem quiser contratar um novo serviço.
“Sou um estudioso do tema e hoje já consigo recuperar um Jeep Willys sem fazer nenhuma consulta aos manuais técnicos. Considero que esse meu conhecimento é o que torna minhas restaurações bem feitas e muito procuradas”, conta Miliane.
Ele diz que as reformas custam a partir de R$ 30.000, mas avisa logo que o interessado deve ter consciência de que os valores desse tipo de restauração costumam ser bem mais salgados.
“Um modelo militar tem uma série de acessórios que um civil não tem, e a graça é exatamente reunir todos eles”, explica.
Um dos modelos preferidos da sua coleção particular de oito carros, o Jeep Willys MB 1945 tem entre seus acessórios um rádio de comunicação com antena de mais de 2 metros de comprimento e uma réplica de fuzil que encaixa no painel.
“Quando estou nele, às vezes me sinto um militar em combate de tão fiel que ele é.”
Ao contrário do que muita gente acredita, Miliane nunca foi militar e nem é um apaixonado pela história de guerras. A paixão está mesmo nos carros. “Quando eu tinha 4 anos, meu pai comprou um Jeep 1942 da Segunda Guerra Mundial para levar a família para passear. A partir desse momento, me apaixonei por todos os veículos militares”, admite.
Ele já foi mecânico de concessionária e operador de telemarketing, mas só se achou na vida quando começou a trabalhar junto com o pai na oficina mecânica. “Sou realizado por poder trabalhar com o que amo e por ter entre meus clientes grandes amigos que compartilham da mesma paixão.”
Nesse grupo de aficionados, encontrou uma boa forma de testar os veículos. Em março, eles viajarão em dez caminhões militares para a Amazônia. “Vamos viver uma aventura digna de filme”, brinca ele.