Dizem que uma das razões para o sucesso urbano dos SUVs é a posição mais alta de dirigir. Pode ser. Mas certamente isso não está entre as justificativas para um empresário paulistano adotar o caminhão como seu meio de transporte preferido.
Na contramão da tendência do downsizing e dos compactos e econômicos carros urbanos, o programador Osvaldo Tadeu Strada, 58 anos, não abre mão de ir trabalhar ao volante de um de seus 27 caminhões, 22 deles da marca FNM, o primeiro fabricado no Brasil.
Produzidos durante 35 anos – a partir da década de 50 – pela Fábrica Nacional de Motores, os FNM eram equipados com motores Alfa Romeo e tornaram-se populares em nossas estradas, conquistando a fidelidade de muitos caminhoneiros.
Entre eles, o pai de Osvaldo, que o influenciou na paixão pela marca e pelo mundo dos pesados. “Meu pai ensinou todos em casa a dirigir FNM: minha mãe, as três irmãs e eu.”
O colecionador já chegou a atravessar a cidade de São Paulo todos os dias de caminhão, já que mora na Serra da Cantareira (zona norte) e tem escritório na Chácara Santo Antônio (zona sul). “Atualmente, vou uma vez por semana de caminhão, devido à restrição de circulação”, diz Strada. “Sem dúvida, me acham um maluco, mas é uma verdadeira satisfação.”
Brinquedo grande
A coleção começou em 2000, com um caminhão baú, mas só no ano seguinte realizou o sonho de adquirir um FNM, que por coincidência encontrou na rua onde morava, na Vila Maria, zona norte.
“Como estava muito deteriorado, paguei apenas 5 000 reais, mas nunca fiquei tão feliz com uma aquisição. Tratava-se de um D 11 Standart 1965 prata”, diz Strada, que já começou a circular pela cidade com o “novo” brinquedo.
No mesmo ano, ao sair para trocar sua Hilux antiga por uma zero-quilômetro, resolveu comprar um cavalo mecânico da Volvo na concessionária em frente. “E para explicar para minha esposa que tinha trocado o carro por um caminhão”, diz Strada, que passou a usar o veículo como carro de passeio.
Ele achava que era o único que colecionava caminhões, até que soube de um evento chamado Alfa Day, que reunia os aficionados por Alfa Romeo. “Fui com o FNM prata, o único na época, no encontro realizado em 2004 na cidade de Avaré e fiquei satisfeito ao encontrar outros admiradores de FNM.”
A partir daí, começou a comprar um atrás do outro. Em 2006 sua coleção já somava 15 caminhões e ele teve de arrumar um jeito para guardá-los. Como tinha uma chácara em Pilar do Sul, interior de São Paulo, decidiu construir um galpão de 1.600 metros quadrados.
No mesmo ano, contratou um funileiro apenas para restaurar os caminhões e decidiu investir na formação do caseiro da chácara para que pudesse cuidar de seu acervo de maneira mais criteriosa. “Atualmente, financio uma faculdade de engenharia para que ele possa aperfeiçoar os sistemas mecânicos dos FNM.”
Como viaja bastante com os caminhões, aprimora os motores sem ficar preso a purismos. “Altero a compressão e atualizo os componentes”, afirma Strada, que divide sua coleção em dois segmentos: os caminhões para exposição, aqueles que mantêm a mecânica original, e os para circular regularmente.
Em sua chácara há uma verdadeira linha de montagem, com direito a áreas de funilaria, pintura e mecânica, além de estoque suficiente para montar dez caminhões FNM. “O caminhão é reconstruído”, diz Strada, que também se preocupa com o acabamento, instalando revestimento de couro nos estofamentos, nos painéis de instrumentos e nas maçanetas originais. Cada restauração leva um ano e meio para ser concluída.
O galpão conta ainda com um mezanino com seis suítes para hospedar os amigos que chegam de FNM. Segundo Strada, a grande satisfação de ter entrado nesse ramo foram as amizades verdadeiras que conquistou e por isso quer sempre cultivá-las.
Em 2007 resolveu lançar o site AlfaFNM, para resgatar a história da marca. “A intenção é mostrar para as novas gerações a importância da fábrica na história do nosso transporte. O portal já recebe 700 000 visitas por ano.”
FNM
A Fábrica Nacional de Motores (FNM) foi inaugurada em 1942 na cidade de Duque de Caxias (RJ). Até 1948 ela produziu, principalmente, motores aeronáuticos. Em 1950 a FNM foi vendida para Alfa Romeo. Em 1952 lançou o FNM D-9500, que foi bem aceito graças a sua robustez. Em 1972, apresentou o FNM 180 e 210. Em 1976 a Fiat comprou a marca e encerrou a produção em 1979, passando a fabricar o Fiat 190.