O Brasil vai chegar (muito) atrasado na festa do carro elétrico
Falta de investimentos, de visão e de estratégia fará o país perder a onda de inovação para a qual o mundo se prepara. Seguiremos firmes com a combustão
A prometida redução de IPI (de 25% para 7%) deve estimular a venda dos híbridos e elétricos. Mas, sozinha, não fará milagres.
Não espere que a venda desse tipo de veículo seja tão relevante no Brasil quanto nos mercados europeus (como Alemanha e França) e asiáticos (como China e Japão), que dão incentivos maiores e há mais tempo.
Um sinal do que deve acontecer por aqui foi dado pela VW, ao revelar seus planos para o país até 2020.
Ela anunciou recentemente que lançará 20 modelos novos nos próximos anos, sendo 17 equipados com motores a combustão interna (Polo, Virtus, Amarok V6 e novo Tiguan já entram na conta) e três híbridos ou elétricos.
Destes três, dois já são conhecidos: um será híbrido (Golf GTE), outro será elétrico (e-Golf). O terceiro ainda é mantido em segredo.
O foco principal da VW continua nas tecnologias tradicionais e o mesmo deve ocorrer com as outras fábricas instaladas aqui, como Chevrolet, Ford, Renault e Toyota.
Na Europa e na Ásia, o portfólio dessas marcas vai se concentrar rapidamente na eletrificação, porque nesses mercados, quando não existe data para o fim da produção de carros com motores a explosão, há cotas que limitam bastante o espaço para eles.
Os Estados Unidos são um caso à parte: como o governo decidiu sair do Acordo de Paris, em junho de 2017, a eletrificação por lá deve perder força.
Na Europa, segundo o diretor financeiro Wolfgang Schaefer, da Continental, empresa alemã que fornece autopeças para as fábricas, dentro de cinco anos, a indústria deve abandonar o desenvolvimento dos motores a combustão.
O executivo, em entrevista à agência de notícias Reuters, afirma que a última tecnologia aplicada aos motores será a conhecida como HCCI (Homogeneous Charge Compression Ignition, na qual a mistura ar-combustível é comprimida e aquecida até o ponto da autoignição) e que, a partir desse estágio, investir nos motores de combustão interna não será mais economicamente justificável.
O primeiro carro equipado com um motor HCCI deve ser o novo Mazda 3, que tem previsão de chegar ao mercado em 2019.
No Brasil, os motores a combustão tradicionais (ciclo Otto) terão vida mais longa, como confirmam os investimentos das empresas.
Recentemente, a GM anunciou um aporte de R$ 1,9 bilhão em sua fábrica de motores de Joinville (SC), de onde sairá o novo 1.0 de 3 cilindros que vai equipar a futura geração de Onix.
A Renault investiu R$ 750 milhões na ampliação da capacidade de sua fábrica atual e na abertura de uma nova unidade de injeção de alumínio para a fabricação de blocos e cabeçotes localizada em São José dos Pinhais (PR).
E, entre as que não anunciaram investimento, sabe-se que a Fiat terá uma nova linha de motores até 2020, em substituição ao atual 1.8 E.torQ, e que a Ford lançará em breve os novos 1.5 de 3 cilindros.
A exemplo da linha VW, os elétricos que virão para o Brasil serão importados. A GM trará o Bolt. A Renault pode trazer o Zoe.
A Honda estuda duas possibilidades: uma versão elétrica do Fit e o novo Insight, sedã derivado do Civic.
A Hyundai deve ter o híbrido Ionic desenvolvido especialmente para brigar com o Toyota Prius.
E a Toyota, por sua vez, deve ampliar seu portfólio de híbridos com a chegada da nova geração do Corolla e, talvez, do SUV C-HR.
Nas marcas premium, como Audi, BMW, Mercedes e Volvo, a oferta também deve crescer, até porque serão os híbridos e elétricos que elas terão como novidade para oferecer.
Como ficam os mercados lá de fora
O apoio dos governos é um incentivo poderoso, mas as vendas dos elétricos e híbridos não são impostas por leis.
Um exemplo disso foi dado pelo estado americano da Califórnia, que, nos anos 1990, estabeleceu que os carros de emissão zero deveriam representar 10% dos novos registros até o ano 2000 e isso não aconteceu.
A indústria não conseguiu cumprir o prazo e o mercado não se interessou pelas opções que lhe foram oferecidas.
Hoje, ainda existem forças contrárias aos avanços nesse sentido, mas a situação está mais favorável.
Alemanha
Determinou o fim da produção de carros equipados com motor de combustão interna até 2030 e a proibição desse tipo de veículo circular a partir de 2050.
China
Estabeleceu cotas para a indústria que determinam a participação de híbridos e elétricos na produção. As metas são crescentes: 8%, em 2018; 9%, em 2019; e 10%, 2020.
França
O presidente, Emmanuel Macron, anunciou que vai proibir a venda de veículos a gasolina ou a diesel a partir de 2040.
Mas a cidade de Paris quer banir a circulação desses veículos já em 2030.
Holanda
Os modelos híbridos e elétricos já representam 25% da frota circulante dos Países Baixos.
O plano é proibir a produção dos modelos a combustão a partir de 2025.
Reino Unido
Seguindo a França, o Reino Unido também comunicou que deve proibir a venda de veículos com motor de combustão interna a partir de 2040.
Japão
O país está fazendo a transição gradativamente.
Mas em 2020, durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, o Japão deve anunciar diversos avanços, como um número de pontos de recarga instalados no país maior que o de postos de combustível.
Noruega
Graças aos incentivos fiscais, mais da metade dos novos registros no país já são de carros elétricos.
O objetivo do governo é de que os elétricos atinjam 100% das vendas até o ano de 2025.