Mercury Cougar: felino puro-sangue
Releitura luxuosa do Ford Mustang, o cupê nasceu esportivo, mas foi perdendo fôlego com os anos
Lançado em 1964, o Ford Mustang criou a febre dos pony-cars. Esses compactos (para os padrões da Detroit da época) usavam motores V8 cada vez mais possantes. Habituada a produzir os mesmos carros da Ford, porém com ênfase na sofisticação, a divisão Mercury aproveitou o fenômeno para oferecer sua releitura do Mustang, só que com mais luxo. Nascia o Cougar.
Mais madura, a Ford não matou a esportividade de sua cria – como fez com o Thunderbird anos antes – e desenvolveu um modelo à parte para esse novo nicho. Os demais pony-cars eram só focados na esportividade e os cupês de luxo eram maiores. “Elegância indômita”, diziam os anúncios do Cougar em 1967, ano do lançamento.
Cougar (“puma”, em português) era uma analogia felina à palavra mustang, uma raça de cavalos selvagens. Cupê sem colunas centrais, sua silhueta lembrava a do Mustang, mas dianteira e traseira tinham um caráter todo próprio. Os faróis vinham escondidos por uma falsa extensão da grade de frisos verticais, imitados pelas grandes lanternas horizontais.
Com 7,6 cm a mais no entreeixos, 17 cm no comprimento, 90 kg no peso e 350 dólares mais caro que o Mustang, o Cougar vinha de série com um V8 4.7 de 200 cv, mas podia ter o V8 6.4 de 320 cv do Mustang. O prêmio de Carro do Ano da revista Motor Trend ajudou a vender 150.893 unidades em 1967. No mesmo ano, chegava o topo-de-linha XR-7.
O Cougar XR-7 1968 do advogado paulista João Carlos Ferreira Guedes é um mostruário da sofisticação dessa versão. Tem conta-giros, acabamento imitando madeira, bancos de couro, cintos de segurança de três pontos, ar-condicionado, direção hidráulica.
Não é fácil manobrá-lo com as largas colunas C e sem retrovisor direito. O câmbio automático oferece engates precisos, curto em baixa velocidade, mais longo com maior aceleração. Ajuda a aproveitar os 210 cv do V8 de 4,9 litros. “É muito fácil cantar pneu com ele”, afirma Guedes.
A suspensão é um pouco dura, devido ao feixe de molas atrás, e, nas curvas, tem leve tendência a sair de traseira. “Em provas de regularidade em Interlagos, mantendo um tempo de 3min08s por volta, ele sequer cantava pneu nas curvas”, diz.
Reestilizado para 1969, o Cougar ganhou versão conversível. No meio do ano chegou a versão Eliminator, mais potente e agressiva no visual. Em 1974 a Mercury desvinculou seu cupê do Mustang, tirando sua esportividade latente. O Cougar se tornou, então, uma variação do médio Ford Torino.
Quando em 1977 o Thunderbird também passou a derivar do Torino, o Cougar ganhou versões sedã e perua de quatro portas, auge de sua descaracterização. A Mercury voltou a oferecer sua versão Mustang em 1979, com o Capri, mas teve reação morna.
A partir de 1980, por mais que tivessem desenho diferenciado e viessem só como cupê, Thunderbird e Cougar seriam projetos parelhos, com o Mercury sempre à sombra do Ford. Duraram até 1997. A febre Mustang havia baixado fazia tempo quando a Mercury desistiu de investir no seu herdeiro do clássico pony-car.
Repeteco
O nome Cougar já teve uma segunda chance quando a Ford usou o Mondeo para criar um cupê dentro do seu estilo New Edge. De de 1998 a 2002, ele foi um Mercury nos Estados Unidos e um Ford na Europa. Diferente dos pony-cars V8 dos anos 60, ele só dispunha de motores de quatro cilindros e V6.
Ficha técnica – Mercury Cougar 1967
- Motor: V8 de 4,7 e 6,4 litros
- Potência: 200 cv a 4 400 rpm ou 225 cv a 4 800 rpm; 320 cv a 4800 rpm
- Câmbio: manual de 3 ou 4 velocidades, automático de 3 velocidades
- Dimensões: comprimento, 499 cm; largura, 189 cm; altura, 132 cm; entreeixos, 283 cm; peso, 1 360 kg
- Carroceria: cupê hardtop
- Desempenho: 0 a 96 km/h em 7,7 segundos; velocidade máxima de 185 km/h (V8 6.4)